… because you’re there for me too
#81 - friends é um fruto de seu tempo e retrata um mundo que não existe mais, para o bem e para o mal
olá, vocês!
esse texto tá na gaveta há duas semanas, porque era pra sair coladinho com este aqui, sobre a amizade, mas coisas boas aconteceram no meio, como o nascimento da clarice e os insights incríveis da marina sobre o filme da barbie. então, voltando à amizade, naquela edição eu tinha pensado em discorrer um pouco sobre a série friends, mas como a digressão ficou grande demais, achei melhor ter isso tudo no episódio de hoje, aquele em que junior é contra a volta de friends. vem comigo!
uma patricinha vestida de noiva entra num café e encontra uma antiga amiga, complexada e maníaca por organização e seu irmão, um um nerd que estudava a pré-história. ali conhece uma riponga que vivia no mundo da lua, um yuppie metido a engraçadinho e um ator bonitão, porém burrinho. com um piloto de baixo orçamento, friends foi ao ar pela primeira vez há quase 30 anos e hoje é parte da cultura pop, estando sempre no topo das séries mais queridas pelo público.
a série pra mim me remete a uma época, ali pelo final dos anos 90, quando a tv a cabo pegou de vez e de repente o mundo (sejamos sinceros, os eua e a inglaterra) entrava dentro da nossa sala com clipes, séries e talk shows. e um monte de sitcoms com os nomes originais em inglês passaram a dominar as rodas de conversas. uns anos depois, comecei a comprar as temporadas em dvd, para rever quando quisesse. foi aí que aprendi quase tudo que sei em inglês: graduado em friends, com pós em felicity e doutorado em discovery home and health.
a série criada criada por david crane e marta kauffman gerou uma leva de clones (ela mesma bebendo na fonte de outras séries), e marcou a vida de gerações. e desde que acabou, em 2004, sempre é alvo de especulações sobre um possível reboot. entendo a nostalgia, porque eu mesmo amo friends. já vi tantas vezes as temporadas que já sei de cor sequências inteiras. sempre volto a ver e rio das mesmas piadas toda vez. é uma série conforto, onde dá pra esquecer por uns minutos que a vida é uma droga e voltar a ser jovem.
entendo que, para mim, o impacto da série é que eu cresci enquanto aquelas pessoas cresciam. já tive o coração partido como o ross, passei por mudanças bruscas de vida como a rachel, enfrentei perrengues pra poder bancar meus sonhos como o joey, encontrei amores sólidos e duradouros como monica e chandler e o que mais fiz foi dissociar e criar uma versão mais otimista do mundo, como a phoebe, minha personagem preferida.
eu tinha uma imã de friends com eles abraçados, seus sorrisos de dentes perfeitos, magros, cabelos incríveis. um recorte de um segundo na vida deles. a foto no ímã desbotou com o tempo, um sinal de que o tempo passa pra todo mundo. é uma série que retrata um mundo que não existe mais, para o bem e para o mal. não sei se a série teria o mesmo apelo se eu a visse hoje pela primeira vez, já dobrando o cabo da boa esperança.
e definitivamente, eu sou contra a ideia de juntarem os atores e equipe para um reboot. me emocionei com o especial de reunião? claro. mas dou graças a deus cada vez que alguém do elenco fala que não toparia voltar a gravar. porque vamos ser sinceros: pra quê trazer de volta uma série sobre jovens amigos que vivem se frequentando, se hoje os tais amigos nem seriam jovens nem estariam se frequentando tanto assim?
não quero ver uma série sobre cinquentões saudosistas, ao menos não com a versão cinquentona dos tais amigos. porque a série cobre bem um periodo importante para aquelas seis pessoas, dos 20 e poucos aos 30 e tantos, em um contexto em que a família que você tem mais perto são os amigos. é uma série sobre uma faixa específica da vida deles que refletia também uma faixa específica das nossas vidas.
se bem que, refletir é uma palavra forte aqui. porque a gente tá falando de uma galera branca, padrão, que mesmo nas fases mais fudida da vida ainda conseguia morar em ótimos apartamentos em nova york e sair pra tomar uns bons drinks toda semana. a velha e boa dicotomia de reconhecer que uma obra foi importante para o seu crescimento e ao mesmo tempo imaginar o quão melhor ela seria se tivesse também diversidade e representatividade.
gostar de friends é como gostar de peixe, a gente sabe que precisa lidar com as eventuais espinhas. no caso da série, é entender que ela é um fruto de seu tempo, então discussões sobre “envelhecer bem” são infrutíferas porque a gente já sabe a resposta. é não, a série não seria feita do mesmo jeito hoje. a baixa representatividade de pessoas negras, latinas, gordas, lgbtqia+ e com deficiência é gritante. e em alguns entrechos, misoginia, capacitismo, lgtfobia, racismo, gordofobia...
então fazer um reboot ou uma sequencia de friends hoje seria acabar com o legado da série, já que, imaginando que 20 anos depois, os personagens continuem se amando e fazendo parte da vida uns dos outros, cada um tem sua família e novos personagens teriam que ser incorporados à narrativa. se por um lado, seria bom para escalar um elenco mais diverso, por outro, tiraria o foco da ação dos seis amigos. e sitcom sobre famílias existem muitas e muito boas. modern family, todo mundo odeia o chris e one day at a time, por exemplo.
o outro risco é acontecer o que está acontecendo com and just like that…, o reboot de sex and the city, que resolveu corrigir tudo que soaria problemático nos dias de hoje e virou um pastiche de si mesma. deus me livre de ver cada vírgula de cada diálogo de cada cena entre ross e rachel sendo esmiuçados no twitter para além do que já existe. não há como reescrever a história, os personagens agiam de maneira tóxica porque esse era o ideal de relacionamento daquela época. a gente romantizava e depois aprendeu que não é legal. façamos novas séries com novas maneiras de se relacionar.
melhor deixar friends ser um retrato de seu tempo, entender suas contradições e celebrar suas qualidades. porque a série também foi bastante à frente de seu tempo em temas como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, empoderamento sexual feminino, adoção e outros temas. e o principal, era genuinamente engraçada, sem querer ser intelectual. boas piadas que nunca envelhecem, humor físico, atores cada vez melhores em seus papéis e um roteiro afiadíssimo. deus abençoe as séries que sabem quando acabar.
TOP 10
melhores episódios de friends
aquele com os embriões
aquele em que todos descobrem
aquele em que ninguém está pronto
aquele com todas as resoluções
aquele com o vídeo do baile
aquele com o útero da phoebe (seven seven, seeeeeeveeeeennnn…)
aquele com o casamento do ross
aquele com a coreografia
aquele com o dedão
aquele com o futebol americano
links, links, links!
tô impactado com afrodhit, album-conceito da iza em que ela coloca o vozeirão pra jogo pra expressar raiva, paixão, maturidade e empoderamento. é o trabalho mais intimo e pessoal da cantora e tem uma qualidade artística do tamanho da coragem e da entrega dela. minha faixa preferida é que se vá.
terminei há pouco a terceira e última temporada de the righteous gemstones, na hbo max. é uma série de humor ácido sobre uma famosa família de pastores dos estados unidos, com uma tradição de caridade, desvio e ganância. é uma cruza de succession com diante do trono. qualquer semelhança com
picaretaslíderes evangélicos reais é mera coincidência.o drag race brasil estreia dia 31 de agosto na paramount e eu estou obcecado. finalmente vão fazer um drag race no brasil. pra quem ainda não viu e vai querer ver o reality, deixo o vídeo com as 12 drag queens que vão disputar o prêmio.
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júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor do livro cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponível em e-book na amazon.