Acontece que a gente hoje importa e traduz à moda caralho palavras, referências e conceitos estadunidenses que, em última análise, só fazem sentido pra eles. E forçamos a barra pra amoldá-las às nossas experiências, que são - às vezes dramaticamente - distintas. E nem há muita precisão nessas teorias, porque já vi recortes diferentes de tempo pra indicar as tais gerações.
Mas o ponto é: nossa infância e adolescência não foram iguais às de um garoto da nossa idade em Oklahoma. Nem em Bucareste, Acra ou Nova Delhi. E, olhando no microscópio, talvez até entre nós mesmos existam diferenças sensíveis. Essa classificação por faixa etária é, portanto, limitada e rasa porque ignora fatores sociais, culturais e econômicos ao redor do planeta.
Aliás, um parêntese: essa coisa de colocar em caixinhas, de "perfilar" o público, é muito Estados Unidos. Dá pra fazer uma analogia com a música porque lá é que surgiram as rádios segmentadas, as paradas de sucesso por gênero (Black, Modern Rock, Adult Contemporary) etc. Enquanto na Inglaterra, por exemplo, só havia a Radio One e o Top Of The Pops na BBC misturando tudo, do reggae ao country, do tecnopop ao hard rock.
Aliás, acho muito mais interessante e rico assim, como foi durante muito tempo inclusive aqui no Brasil - pensa num Globo de Ouro ombreando uma Legião Urbana mandando ver em "Que País É Esse?" a uma Adriana cantando "Te amar é tão bom, tão bom, tããão bom".
Mas, de novo, a gente anda com essa mania de importar segmentação, de nos determinarmos como sociedade de acordo com conceitos de fora, sem questionar se faz sentido à nossa realidade.
Excelente análise, Júnior. O ser humano tem essa necessidade de enquadrar as pessoas em 'caixas' legíveis. Mas o surpreendente é ver como as pessoas levam a sério essas classificações, que vai desde geração a horóscopo. Uma bobagem que poderia servir pra entretenimento e gerar memes.
"essa sopa de letrinha sobre o que é cada quem, a partir de seu quando, demonstra que enfiar pessoas em caixas geracionais é bastante impreciso." Adorei isso! e a culpa é do capitalismo, sim. hehehe ótimo texto, como todos, adoro ler.
a priori, não vejo recortes geracionais como um problema quando estão a serviço de estudos sérios, que adotam parâmetros claros e rigor científico. já esses recortes aleatórios feitos para alimentar tretas na internet... melhor nem comentar. hahaha
Que texto bom. Eu acredito de verdade e profundamente que essas classificações tem a ver com segmentação e classificação de consumidores. Para ajudar as marcas a focarem num público e direcionarem também nossos desejos e vontades. Se todo mundo da minha idade está assim e não assado, então eu também "preciso" estar daquele jeito, consumindo tais e tais produtos.
Óbvio que algumas vivências implicam certas marcas nos indivíduos que as experimentaram em determinado tempo, principalmente na infância, mas como vc falou, é preciso se atentar que essas experiências comuns ainda assim não são idênticas para todos. Uma criança preta, periférica do nordeste do Brasil não está na mesma caixa de uma outra criança branca, classe média alta e sudestina, ainda que tenham nascido no mesmo ano de 1988, por exemplo.
Sobre astrologia (que eu curto. sou meio jovem mística, no bom sentido, porque me considero com o mínimo de discernimento hahaha), tem alguns astrólogos que fazem análises considerando raça, classe, gênero e outras questões sociais que atravessam a vida de todos e tornam a experiência de cada um distinta.
Beijos, Junior. Sempre bom ter contato com suas ideias.
eu adoro astrologia como cultura popular e ferramenta de autoconhecimento. acho chato esse papo de que "não é ciência " como se tudo precisasse ser, né? um dia eu quero escrever sobre isso. por hora digo que bem melhor astrologia que é uma parada que existe há milênios que esse papo de geração x, y, z que complica mais que explica.
Eu tenho um bode tão grande dessas coisas...
Acontece que a gente hoje importa e traduz à moda caralho palavras, referências e conceitos estadunidenses que, em última análise, só fazem sentido pra eles. E forçamos a barra pra amoldá-las às nossas experiências, que são - às vezes dramaticamente - distintas. E nem há muita precisão nessas teorias, porque já vi recortes diferentes de tempo pra indicar as tais gerações.
Mas o ponto é: nossa infância e adolescência não foram iguais às de um garoto da nossa idade em Oklahoma. Nem em Bucareste, Acra ou Nova Delhi. E, olhando no microscópio, talvez até entre nós mesmos existam diferenças sensíveis. Essa classificação por faixa etária é, portanto, limitada e rasa porque ignora fatores sociais, culturais e econômicos ao redor do planeta.
Aliás, um parêntese: essa coisa de colocar em caixinhas, de "perfilar" o público, é muito Estados Unidos. Dá pra fazer uma analogia com a música porque lá é que surgiram as rádios segmentadas, as paradas de sucesso por gênero (Black, Modern Rock, Adult Contemporary) etc. Enquanto na Inglaterra, por exemplo, só havia a Radio One e o Top Of The Pops na BBC misturando tudo, do reggae ao country, do tecnopop ao hard rock.
Aliás, acho muito mais interessante e rico assim, como foi durante muito tempo inclusive aqui no Brasil - pensa num Globo de Ouro ombreando uma Legião Urbana mandando ver em "Que País É Esse?" a uma Adriana cantando "Te amar é tão bom, tão bom, tããão bom".
Mas, de novo, a gente anda com essa mania de importar segmentação, de nos determinarmos como sociedade de acordo com conceitos de fora, sem questionar se faz sentido à nossa realidade.
Preguiça disso.
nossa vc foi ao ponto aqui. muito boa essa reflexão. obrigado por este comentário.
Excelente análise, Júnior. O ser humano tem essa necessidade de enquadrar as pessoas em 'caixas' legíveis. Mas o surpreendente é ver como as pessoas levam a sério essas classificações, que vai desde geração a horóscopo. Uma bobagem que poderia servir pra entretenimento e gerar memes.
E os "coach" lucram com isso tudo...
obrigado pela leitura raisa ❤️
"essa sopa de letrinha sobre o que é cada quem, a partir de seu quando, demonstra que enfiar pessoas em caixas geracionais é bastante impreciso." Adorei isso! e a culpa é do capitalismo, sim. hehehe ótimo texto, como todos, adoro ler.
aaahhh obrigado 🥰
"(...) mas a verdade é que os próprios eventos históricos (guerra, ditaduras, crises e pandemias) que moldam as gerações, e não o contrário".
Esse texto está muito bom!
puxa, obrigado! 😄
a priori, não vejo recortes geracionais como um problema quando estão a serviço de estudos sérios, que adotam parâmetros claros e rigor científico. já esses recortes aleatórios feitos para alimentar tretas na internet... melhor nem comentar. hahaha
Que texto bom. Eu acredito de verdade e profundamente que essas classificações tem a ver com segmentação e classificação de consumidores. Para ajudar as marcas a focarem num público e direcionarem também nossos desejos e vontades. Se todo mundo da minha idade está assim e não assado, então eu também "preciso" estar daquele jeito, consumindo tais e tais produtos.
Óbvio que algumas vivências implicam certas marcas nos indivíduos que as experimentaram em determinado tempo, principalmente na infância, mas como vc falou, é preciso se atentar que essas experiências comuns ainda assim não são idênticas para todos. Uma criança preta, periférica do nordeste do Brasil não está na mesma caixa de uma outra criança branca, classe média alta e sudestina, ainda que tenham nascido no mesmo ano de 1988, por exemplo.
Sobre astrologia (que eu curto. sou meio jovem mística, no bom sentido, porque me considero com o mínimo de discernimento hahaha), tem alguns astrólogos que fazem análises considerando raça, classe, gênero e outras questões sociais que atravessam a vida de todos e tornam a experiência de cada um distinta.
Beijos, Junior. Sempre bom ter contato com suas ideias.
eu adoro astrologia como cultura popular e ferramenta de autoconhecimento. acho chato esse papo de que "não é ciência " como se tudo precisasse ser, né? um dia eu quero escrever sobre isso. por hora digo que bem melhor astrologia que é uma parada que existe há milênios que esse papo de geração x, y, z que complica mais que explica.
Excelente análise, mas adoro as tretas. Pego minha pipoca e observo. Nasci em 1980, o que será que isso diz sobre minha geração?