um mamão vai na cabeça
memórias de uma rua, novos sabores de empanada e o nosso sonho de ressuscitar o orkut, que despertou de novo e mais forte nesta semana.
oi gente!
se tem uma coisa que a gente ama na internet é se iludir, né? de tempos em tempos alguém ressuscita algum rumor que deixa todo mundo em polvorosa e logo depois, ou não se concretiza, ou não é bem o que a gente pensava. puxando aqui pela memória posso citar:
um filme de friends (apesar do elenco fazer sempre uma cara de cu imensa só de pensar no assunto. no final tivemos que nos contentar com uma reunion que ninguém pediu, e o elenco fazendo cara de cu do mesmo jeito).
a continuação do clipe de telephone da lady gaga com a beyoncé.
o álbum novo da rihanna (podemos desapegar disso? a mulher claramente não quer mais gravar, fazer show. deixa ela vender os jequiti dela e criar sua baby em paz).
o final de caverna do dragão (mais fácil vir o álbum da rihanna, hein galera).
o retorno do orkut.
sobre este último, na semana passada o site original foi reativado e seu criador anunciou que está trabalhando em novidades. não deu mais detalhes, só encheu nosso coração esperança. para ser franco, não sei o que esperar, porque a internet em que o orkut existia e era amado, não existe mais. fingimos que não lembramos, mas no final fomos nós que abandonamos o site, passando mais tempo no twitter e entregando nossos dados para o facebook.
de repente, tal qual adolescentes ingratos, a gente passou a fingir que não gostava de mandar depoimento e subir fotos em álbuns chamados ~vaMUxXx nUxXx pErMIti~. abandonamos a colheita feliz, nossos buddy poke não dançavam mais com os coleguinhas e, pecado dos pecados, deixamos morrer a comunidade discografia.
não sei se o site azul claro, tão inocente, pode resistir a tempos tão cínicos, de influencia digital, algorítimo e engajamento. acho que em algum momento, como tudo na internet, vai virar dancinha. mas para lembrar do quão bom foi este tempo, vou listar 10 das minhas comunidades preferidas de todos os tempos.
além disto, eu conto o que achei de uns sabores de empanadas diferentes, cavuco uma lembrança de infância e deixo um punhado de links, vem comigo, que a newsletter tá parruda hoje.
LISTA
top 10 comunidades do orkut
eu já entrei na internet
alô, o ringo star?
desce e arrasa? subo e humilho!
um mamão vai na cabeça
não pego ninguém, mas é cada olhada…
não fui eu, foi meu eu-lírico
chamadas perdidas: mãe (50)
anão vestido de palhaço mata 8
eu sempre fui no meu aniversário
eu tenho medo do mesmo
e você, qual era sua comunidade preferida?
MEMÓRIAS
minha penny lane
como já contei aqui, eu conheci os beatles através das versões tupiniquins, como hey jude, do kiko zambianchi e eu te amo, versão de zezé di camargo e luciano para and i love her. estamos condenados a conhecer as músicas certas por vias tortas. bem depois eu me apaixonei pelos caras. das músicas fofinhas da fase boy band com cabelinho de cuia às mais psicodélicas, da fase das viagens de ácido,eu gosto de quase tudo.
e uma das minhas preferidas é penny lane, que eu achava que era uma balada em homenagem a uma namoradinha do paul, até que descobri que era na verdade sobre a rua em que ele morou na infância. o que convenhamos, torna a canção ainda melhor.
eu também tive uma penny lane, mas não tinha nome de garota, era um número, rua 70, na vila finsocial, periferia de goiânia, onde vivi os meus primeiros oito anos. era um bairro novo, ainda não tinha asfalto, saneamento básico, nada disso. era uma rua pequena com umas 15 casas de cada lado, que dava pra uma rua de comércio.
olhando pelo google maps hoje, ela parece bem menor que eu imaginava. era a rua onde crescemos, meus irmãos e eu, e nosso cachorro dick, que era um vira-lata descomunal que me fazia sair gritando, cada vez que fugia. eu morria de medo da carrocinha pegar ele.
tirando a carrocinha, não havia perigo nenhum naquela vizinhança, a gente passava o dia brincando na rua, de pique, salva-bandeira, pipa, bolinha de gude, finca. e bete.
sabe o que é bete? é uma equipe que tem um rebatedor com um bastão de madeira (geralmente um cabo de rodo) e um arremessador. tem um monte de regras doidas e é bem perigoso pra quem está assistindo. me disseram uma vez que é um tipo de basebol. os meninos da rua 70 poderiam então ganhar de lavada do new york yankees.
nossa casa era a quarta da rua. um quintal enorme, com pé de amora, pé de manga, outra árvore que eu não me lembro bem de quê (da amoreira eu me lembro bem porque levei algumas surras do meu pai de vara de amora). e um galinheiro que podia ser uma casa, uma escola, um quartel, uma oficina, o que quer que fosse que a gente tivesse brincando naquele momento.
a gente também costumava passar tardes inteiras construindo estradas e cidades com restos de tijolos, por onde passavam nossos carrinhos feitos de lata com pneus de borracha de chinelo velho.
na casa da frente morava o seu fidelcino, um baiano bravo com uma risada bem alta. a família dele acudiu muito a nossa quando as coisas não iam bem. dona maria, sua mulher, (também chamada de dona maria do seu fidelcino) fazia carne de lata, umas almôndegas fritas que eram guardadas na banha em latões por meses.
eu consigo sentir o cheiro e o gosto disso agora, se eu fechar os olhos e aguçar a memória. do nosso lado direito morava dona vilma, que tinha uma porção de filhos, um deles vivia fugindo da polícia. um dia morreu baleado, foi a primeira vez que eu vi alguém num caixão na minha vida.
do outro lado, morava a família da viviane, meu crush de infância. naquela época ninguém falava crush. aliás não falava nada, quando alguém falava que a gente namorava eu ficava com muita vergonha e entrava pra dentro de casa encabulado. a gente nasceu próximo um do outro e cresceu brincando e brigando juntos. ao lado da casa dela tinha o eurípedes e a edna. eu passava tardes inteiras brincando na casa deles com o anderson e a aline, filhos deles. eu me lembro que sempre tinha pão com manteiga e chá de erva-cidreira na merenda.
mais abaixo morava o diego, meu melhor amigo, que era filho único e mais brinquedos que alguém poderia ter. ele tinha amigos imaginários e eu era o único além do diego a saber os nomes deles. mais pro fim da rua morava o sr rafael, que tinha uma casa muito grande, a mais bonita da rua. uma vez todos os garotos da rua entraram de penetra na festa de casamento da filha dele. eu me lembro bem que dancei baby can i hold you de rosto colado com uma menina. meu primeiro bailinho.
virando a rua a gente saía na avenida de comércios. uma vez meu pai me deu uma nota de mil cruzeiros pra comprar uma tesourinha escolar. eu fui na venda da dona creuza e comprei a tesourinha, que era baratinha e o resto todo em figurinhas. é que eu queria achar a figurinha premiada e ganhar um carro de corrida. na minha cabeça, o troco era pra isso mesmo, não parecia tanto dinheiro assim.
quando cheguei em casa com aquela imensidão de figurinhas, meu pai ficou doido. botou o cinturão na mesa e me fez abrir pacotinho por pacotinho com uma promessa: se nenhuma viesse premiada eu iria apanhar muito. por sorte, no último envelope tinha um prêmio, um cinzeiro. ninguém em casa fumava, mas era um prêmio. um tempo depois recebemos pelo correio uma ovelhinha de porcelana com uma carrocinha com espaço para cinzas de cigarro.
a bichinha existiu até dia desses na casa da minha mãe, como uma testemunha de uma surra que não levei e de uma infância de colecionar figurinhas, brincar na rua e comer carne de lata.1
TEST DRIVE
empanada para que te quero
se você vier a buenos aires, empanadas são uma muito boa opção pra se alimentar de maneira rápida e barata enquanto anda pela cidade (e como se anda nesta cidade, quase tudo dá pra fazer caminhando ou em bicicleta). prática e muito gostosa, a empanada é o “salgado” oficial argentino.
sua origem é incerta, apesar de que massa de pão recheada exista em todo mundo. da esfirra ao pastel de feira, em cada lugar se moldou a receita de acordo com o clima, os alimentos disponíveis e os modos do povo que ali habitava. e é assim que a empanada chegou na região do rio de la plata, vinda da espanha, que por sua vez a conheceu graças à invasão áraba naquele país e logo se tornou um símbolo de uma nação.
a vantagem é que em todo canto você pode comprar, assada ou frita, com preços que vão de 60 a 200 pesos (entre 1,50 e 5 reais, preços deste mês). a desvantagem é que, como quase tudo na culinária argentina, há muito pouca variação nos sabores, então quase sempre as opções são carne, carne picante, frango, queijo e presunto, espinafre e milho. são tão tradicionais que há até a maneira correta de fechar a massa, dependendo do sabor, que é pra reconhecer de longe o que tem no balcão do bodegón.
pra você ver como é bem diferente do brasileiro, né, que não tem apego nenhum com isso de “tradicional”. se a empanada fosse feita no brasil, não dava um mês pra ter azeitona, catupiri, ovo de codorna, coração de galinha, escondidinho, estrogonofe com batata palha e claro, empanadas doces. romeu e julieta, brigadeiro, nutella com leite ninho, morango com chocolate, banoffee, capim cidreira com limão siciliano, o céu é o limite.
(nunca tinha entendido como os argentinos podem ter o doce de leite mais famoso do mundo e nunca pensaram em chuchar numa empanada. até que uma vez provei uma de doce de leite e senhor, é uma coisa horrível, muito, como posso dizer? doce. sem nuances, só a lava quente e pesada, por mim jogava um queijo minas junto pra dar uma balanceada)
há bem pouco tempo começou uma onda de variar, mas só um pouco, a gama de sabores de algumas empanaderias, inclusive veganas, excelentes. ontem mesmo, voltando de um passeio, meu namorado e eu passamos na vinny’s2 da av. callao e compramos 4 dos “sabores especiais”, para experimentar. a vinny’s é, das cadeias de empanadas mais baratas, a melhor, já que tem uma ótima proporção, massa/recheio, não tacam cominho em tudo e a massa não é um pedaço de concreto.
aproveitando que posso escrever lo que me cante el orto neste espaço, decidi ranquear do pior para o melhor os sabores especiais da vinny’s pra vocês. vai que ficam com vontade e resolvem vir me visitar, nem que seja pra comer empanada.
queijo azul, presunto e aipo - achei salgada demais, podia ter uma nota doce pra contrastar com o queijo, uma cebola caramelizada, uma ameixa em passa, algo. mas só de botarem gorgonzola em uma empanada de r$ 2, já tá de bom tamanho. ah, o aipo, nunca nem vi. 5/10
american chicken - não entendi o que faz este frango ser american. gostei que o frango vem em pedacinhos, em vez de desfiado, gostosa, mas nada demais. 7/10
cheeseburger - taí um sabor que me surpreendeu. eu sou muito fã da comida otimizada, que é uma coisa com sabor de outra coisa, tipo pizza estrogonofe, ou batata sabor churrasco, que você come duas comidas em uma só. é uma carne bem gostosa e o cheddar é meio que um molho ali dentro, uma liga na carne. muito boa. 9/10
bondiola ao molho barbecue - bondiola é uma carne nobre do porco. tem sanduíches ótimos de bomdiols nos carrinhos da reserva florestal (dicona). neste recheio, ela vem banhada com uma porção generosa de bbq, de verdade não esperava tanto sabor de uma empanada tão pequena. com certeza, o melhor. 10/10.
cinco ou seis links
existe uma página de memes em tupi no instagram e é a coisa mais maravilhosa do mundo. eu amei esse com referência a hans staden:
há um par de semanas tenho ouvido o álbum cais (1989) do ronaldo bastos, um dos pais do clube da esquina. acompanhado da nata da música brasileira, ele traz versões maravilhosas de clássicos que a gente já conhece. destaque para alceu valença cantando fé cega, faca amolada. só a versão de paulo ricardo para a página do relâmpago elétrico que destoa da qualidade das demais. vi a dica no twitter da @flertefatale (já é uma dica do que seguir por lá também).
pretendo falar aqui em algum momento sobre a amiga genial, série da hbo max baseada na tetralogia de livros de elena ferrante. mas já adianto que tenho assistido com paixão, um episódio por dia, na hora do almoço e estou amando. é tão envolvente que até me esqueço que já li os livros.
simplesmente zeca pagodinho fazendo dancinha no tik tok.
na última edição da (ótima) newsletter tudo acontece muito, clarissa passos resgata uma das maiores trapalhadas da república brasileira nos anos 80: o dia que foram fazer uma foto do tancredo “passando super bem” no hospital e a foto saiu assim:
hey, chegou até aqui? pois se gostou ao ponto de ler até o fim, que tal apoiar essa publicação autoral, independente, sem recurso e sem assinaturas? eu ainda não tenho pix, mas você chamar na dm que a gente dá um jeito. qualquer quantia é bem-vinda, é só pensar quanto você investiria numa assinatura de um conteúdo que você curte. outra forma bacana de ajudar é compartilhar com quem você acha que gostaria de ler meu conteúdo. desde já muito obrigado!
júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor do livro cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponível em e-book pela amazon.
publicado originalmente no medium em 2020.
não é publi, mas se as @marcas quiserem mandar empanadas pra cá pra casa, só chegar junto.
Morei em muitos endereços entre a infância e a adolescência. Me lembro da maioria, mas umas obviamente marcaram mais do que outras. Já escrevi (e descrevi com todos os detalhes que a memória preservou) sobre uma delas - um beco em que morei em Itaperuna nos idos de 1986/87 - no Facebook faz alguns anos, inspirado por uma visita de recordação que fiz ao mesmo lugar, perto do Natal de 2013.
Mas o mais inesquecível de todos foi aquele pra qual me mudei logo depois: rua Arlete Lichotti Tinoco, nº 103, bairro Cidade Nova, também em Itaperuna. Era a rua (hoje, tadinha, rebaixada a "travessa") que ficava "atrás da Pecuária" que comentei no outro post. Por lá morei do fim de 1987 até abril de 1995, quando me mudei pra Campos. Ou seja, pegou bem no coração da infância, naquele período crucial da nossa formação como pessoa.
As lembranças são muitas: pessoas, casas, carros, terrenos baldios, brincadeiras, brigas, paralelepípedo, terra batida, bicicletas, a venda da esquina. Cada palavra chama dezenas de memórias. Eu precisaria, como o Proust, escrever vários volumes do meu "Em Busca do Tempo Perdido" pra registrar cada uma delas. Mas gosto muito de ler as de todo mundo.