um café que salva
#123: aquela pausa no caos cotidiano para tomar um cafezinho e conversar com minha amiga tiaga sobre qualquer coisa
olá vocês!
meu trabalho é híbrido: trabalho em casa na segunda, quinta e sexta, mas na terça e quarta eu preciso bater ponto no edifício bacanudo que a dona google alugou, ou como dizem por aqui, la oficina, ou apenas “la ofi”. (eu tenho uma coleção de falsos cognatos preferidos e oficina/ escritório é um deles). la ofi é um tijolão espelhado e fica num polo cibernético que pretende gentrificar parque patrícios, um bairro simpático ao lado do meu.
na teoria é bem tranquilo ir pro escritório, são 20 minutos de metrô, 15 de bicicleta ou meia hora caminhando, o que eu arrisco quando não tá muito frio e eu estou com tempo sobrando. e eu gosto de ver as pessoas com quem trabalho, acho divertido ver os lookinhos e me animar a ir arrumadinho, e o trabalho em si não é nenhum bicho de sete cabeças. e tem esses gueri-gueri que as empresas modernas inventaram pra gente se sentir menos hamster rodando na rodinha: seleção de frutas, geladeira cheia de refri, mesa de ping-pong, sinuca e totó. e cadeira de massagem, a coluna da galera 30+ agradece.
na prática eu preferia ficar trabalhando de casa mesmo, de preferência de pijama. pensando bem, não tem uma razão específica para o trabalho ser presencial. (não tem nenhuma também para não ser, logo, 3 dias de “romófis” é melhor do que nenhum). mas é cansativo sair de casa de manhã e só voltar de noite, todo o processo interno e externo que envolve ir e voltar e comer fora, e vocês sabem, eu não sou fã dos processos.
ir para o trabalho presencial é uma realidade, não há nada que se possa fazer a respeito. mas há uma coisa que tem sido minha razão para pular da cama e chegar ao predião de vidro: o café da manhã com a brenda. nós somos, brenda e eu, os únicos brasileiros da equipe e do nada começamos a reservar um tempinho no começo do dia pra tomar café da manhã juntos e poder falar em nosso idioma todo tipo de coisa, de bobagens divertidas a pensamentos existenciais.
nem é o melhor café do mundo, na maioria das vezes nem é café, mas chocolate quente de máquina. aliás, argentina, porque tão boa para tanta coisa e tão horrível para cafés? a gente come medialunas da padaria ou o que algum dos dois lembrou de levar e quase sempre é a bren que leva um pedaço de bolo. tem dia que a gente já saiu comido de casa, é só sentar cada um com seu café e bater 15 minutos de papo. e isso salva o dia. porque a gente não precisa performar nada, nem falar outra língua, nem mostrar serviço. é literalmente sentar numa cadeira na copa, tomar um café e bater papo.
a gente conta como foi a semana, se apoia nos perrengues do trabalho, se lembra de não perder a moral por qualquer coisa e sempre termina repetindo o mantra “se eu for ligar pro que o povo fala de mim e da minha amiga tiaga, a gente vai ficar louca; e a gente não nasceu pra ficar louca, e sim pra brilhar e ser estrelas na nossa cidade”. e também compartilha histórias, dores, memórias de infância, fofocas edificantes. muitas vezes nesses cafés nascem ideias que vão crescendo na caixola até explodir em “eu podia escrever sobre isso”.
brenda é de belém, eu sou de goiás. eu sou dos 80, ela dos 90. mas é incrível como quase todas as experiências de sair do brasil e ir para o mundo são universais. ela veio para buenos aires por motivos bem parecidos com os meus, a gente não tá de passagem, viemos para viver aqui, sentimos que pertencemos a esta cidade e dentro desse sentimento, disfrutamos tudo de bom e ressentimos de tudo que poderia ser melhor dessa experiência.
mas somos os primeiros a defender a argentina se alguém vier falar mal. esse país não tem os nossos açaí e pequi de origem, mas tem muito para nos oferecer. e me deu muitos amigos de muitas partes do mundo, inclusive brasileiros de partes que eu jamais conheceria se não tivesse saído do brasil.
então, como foi há bem pouco o dia do amigo, eu queria agradecer por esses pequenos momentos que nos salvam de afogarmos na rotina, esses momentos de respirar na superfície, ser menos máquinas e mais humanos. o café com a brenda é minha pílula de saúde mental.
assim como ver série com meu marido, sair para tomar um drinque com azamigas, as mensagens diárias que troco com meu grupinho no brasil. até mesmo sozinho podemos ter esse “café que salva”, um livro, uma ida ao cinema, sentar na beira da praia, caminhar por um parque. o que te salva da rotina e te devolve um pouco de humanidade?
para mim, não importa um quê específico, desde que eu possa ser, na companhia das pessoas que amo, essa versão mais pura e livre de mim mesmo. brindemos por mais momentos e pessoas assim na vida e pelos cafés que salvam o dia. em um mundo que nos obriga a estar correndo o tempo todo e que é tão difícil sustentar nossos sonhos porque temos que priorizar as oito mil pendências da vida, ter com quem sentar numa mesa e existir sem amarras por 15 minutos é um alívio em meio ao caos.
sobre o dia do amigo, escrevi ano passado isso aqui:
e sobre café, descobri essa delícia de texto aqui no domingo:
antes de ir, um recado:
obrigado por ler e assinar a cinco ou seis coisinhas. espero que esta newsletter seja tão divertida para você quanto é para mim. criei um formulário para leitores e se você quer fazer alguma pergunta, elogiar, criticar ou dar pitaco, é só clicar aqui.
pode deixar um comentário livre ou perguntar sobre escrita, música, cinema, tv, livros, detalhes específicos sobre textos anteriores ou até mesmo pedir opinião sobre alguma coisa. prometo ler com carinho e eventualmente eu posso usar este mural de mensagem como ponto de partida para alguma edição. e aí, vamos escrever juntos?
júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor dos livros a torto e a direito e cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponíveis em e-book na amazon.
Sou mineiro e moro no interior da Argentina. Queria encontrar uma Brenda por aqui.
Argentina para sempre. Apesar de tudo, sim. <3 Delícia te ler.