shourastei ou shouragou?
#26 - na maior eleição da nossa democracia, em quem você votou: scheila carvalho ou rosiane pinheiro?
olá, tudo bem? (ler com a voz do paulo henrique amorim)
você prefere nescau ou toddy? xuxa ou angélica? monark ou caloi? gugu ou faustão? britney ou christina aguilera? pamonha de doce ou de sal? shoud I stay ou shoud I go? estamos o tempo todo tendo que escolher entre isto ou aquilo. e parece que se você escolhe um, automaticamente tem que odiar, renegar, pisar e humilhar o outro. o mundo é polarizado desde muito antes de lula e bolsonaro. quando a gente chegou, já estava assim. e a gente tem que escolher e pior, tem que escolher bem, porque como diria o sábio, cada escolha é uma renúncia. imagina que você escolhe reunir a galera e criar um programa de humor e sem querer está alterando para sempre os rumos da história do país vizinho.
a teoria do caos diz que o bater de asas de uma borboleta aqui pode provocar um furacão do outro lado do mundo. não sei se alguém já comprovou se de fato uma borboletinha de boas cruzando seu jardinzinho, tranquila, seria de fato capaz de destruir cidades inteiras. mas é fato que uma coisinha de nada aqui pode gerar uma coisona de nada lá adiante e se a gente pudesse voltar no tempo não tinha deixado acontecer.
exemplo: se eu pudesse voltar no tempo, que nem o ashton kutcher no filme efeito borboleta, eu iria até a band, em um dia específico de 2008 e diria para a telefonista: “vão ligar uns argentinos aqui oferecendo um programa de tv, mas não leva a sério não, é trote. pode desligar na cara deles, não dá nada”. e seria assim que eu evitaria que o bolsonaro virasse presidente um dia. não entendeu? eu falo sobre isso num texto ali abaixo.
também falo sobre uma mistura de angélica com walcyr carrasco que é a rainha do drama na tv argentina, estreio a ferramenta de enquete do substack lembrando a maior eleição da democracia brasileira e por fim, uma lista com 10 livros que marcaram a minha infância.
vem comigo!
BRASIL X ARGENTINA
a culpa é dos hermanos
já tem um tempo que eu adotei um método para explicar o brasil para meus amigos argentinos e vice-versa, a analogia. por exemplo: se eu digo que nasci em goiânia, é complicado explicar que é uma cidade no centro oeste brasileiro, capital de goiás, estado conhecido pela pecuária, o césio 137 e o meme da senhora. agora se digo que é a capital do estado onde está brasília, me entendem, porque uso um exemplo daqui: “es como la plata, capital de dónde está la capital. pero sin humedad y con um montón de camionetas en la calle”. mais fácil.
dia desses estava explicando pra eles quem era o ministro da cultura do brasil: “sabes el tipo que reemplazó a gil navarro en floricienta? bien, el ministro de cultura es la versión brasileña de este tipo.”
contexto: existe uma entidade midiática e cultural na argentina chamada cris morena. é uma loira bonitona que começou apresentando um tipo de passa ou repassa daqui, e que em seguida descobriu a mina de ouro: escrever novelas para crianças. imagina se a angélica em 1996, em vez de ir ser a fada bela na globo decidisse ficar no sbt escrevendo novelinhas. então, essa é a cris morena. viram? fiz de novo.
pois então, foi da mente de cris morena que saíram chiquititas, rebelde (a versão mexicana é um remake), floricienta (que virou floribella no brasil) entre tantas outras. a mulher é uma máquina de fazer novela. só que cris tem algo em comum com walcyr carrasco, ela odeia atores que saem do script e é bastante vingativa. então, logo que a primeira temporada de floricienta estava pra acabar, o galã gil navarro queria um aumento pra renovar o contrato. a novela estava fazendo muito sucesso e ele quis fazer a camilla queiroz. só que, vendo que não iam aumentar, decidiu sair da novela. a autora ficou furiosa e, em vez de fazer o personagem principal viajar ou algo assim, o matou em acidente terrível, com cenas que chocaram toda uma geração de crianças argentinas.
saiu o mocinho federico e entrou o outro mocinho, máximo, uns capítulos adiante e vida que segue. outra característica de cris é que ela é bastante controladora com seus textos. tanto que, quando vende uma franquia para outro país, não permite que se faça nenhum tipo de alteração no original. é por isso que, quando a novela foi feita no brasil, o mocinho de floribella, interpretado pelo touro de malhação, saiu de cena e entrou o escova de malhação no lugar. e esse sujeito, o estepe do mocinho, o mocinho reserva, virou sabe deus como, o secretário da cultura no governo bolsonaro.
. . .
por falar nisso, se a gente tá na situação que está, tem o dedo dos nossos hermanos. em 1995 a rede america tv estreou um programa que em pouco tempo chamou a atenção dos televidentes argentinos. uma espécie de telejornal anárquico, com repórteres e lâncoras de terno e óculos escuros ao melhor estilo men in black. não demorou para que o show, chamado caiga quien caiga, ou somente cqc caísse nas graças do público e logo o formato seria exportado para tudo quanto é lugar: itália, israel, méxico, portugal e claro, o vizinho mais graúdo, pindorama.
no brasil, o cqc - custe o que custar estreou em 2008 tendo mais ou menos a mesma fórmula e com um sucesso parecido. a produtora argentina cuatro cabezas estava por trás da versão brasileira. logo a pressão de fazer um programa semanal ficou visível e quadros muito bons, como o top five começaram a dividir espaço com figuras bizarras do folclore político brasileiro. era ali, no meio da gozação dos humoristas-repórteres que deputados do baixo clero tinham seus segundos de fama falando asneiras. entre eles, jair bolsonaro, cujas declarações racistas, machistas e homofóbicas sempre repercutiam.
logo, jair passou a aparecer mais no cqc, porque isso gerava tititi, a gente via pra poder falar mal e quem nem sabia que ele existia, passou a saber. com isso, quem se identificava com a verborragia malcheirosa que ele excretava no programa passou a acompanhá-lo. não demorou muito para ele escalar para programas de auditório e o resto é história.
OU ISTO OU AQUILO
enquete das eleições
HOMENAGEM
a rainha mandona
neste espaço nós somos team democracia, mas se tem uma autora que deveria ser incensada, conhecida, amada e tratada como uma verdadeira rainha, essa pessoa é ruth rocha. eu e toda uma geração de brasileiros agarrou paixão pelos livros com esta mulher. meu primeiro livro da vida, que eu lembro de ler e reler todo dia, até quase saber de cor, era dela: marcelo, martelo marmelo. é um livro de contos, com histórias malucas sobre crianças como eu. que delícia aquelas historinhas, a minha preferida era teresinha e gabriela, duas meninas opostas, uma sapeca e uma toda comportada, que em vez de virarem inimigas, passam a aprender com suas diferenças.
e tem a história que dá título ao livro sobre um garoto que quer mudar o nome das coisas, porque pra ele faz mais sentido leite se chamar suco de vaca, por exemplo. é da dona ruth também o reizinho mandão, sapo vira rei vira sapo, este admirável mundo louco, faca sem ponta galinha sem pé e mais um par de dezenas. e o que mais me encanta é que nas suas histórias, as crianças não são modelos de bom comportamento, são crianças reais, curiosas, arteiras, serelepes. crianças.
ruth tem agora 91 anos de uma vida toda dedicada a escrever para crianças. e quem já não é tão criança assim como eu, de vez em quando visito algum de seus livros pra passar um momento divertido com suas invenções. volta e meia aparece em alguma entrevista esbanjando simpatia e quando eu vejo, sei que na biblioteca do meu coração, dona ruth é a rainha mandona. (ziraldo é o rei).
TOP 10
livros que marcaram a minha infância
marcelo, martelo, marmelo (ruth rocha)
a arca de noé (vinícius de moraes)
flicts (ziraldo)
ou isto ou aquilo (cecília meirelles)
bisa bia bisa bel (ana maria machado)
a bolsa amarela (lygia bojunga nunes)
a droga da obediência (pedro bandeira)
o escaravelho do diabo (lúcia machado de almeida)
aventuras do avião vermelho (érico veríssimo)
o menino no espelho (fernando sabino)
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júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor do livro cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponível em e-book na amazon.
Falou em Ruth Rocha, eu logo me lembro da Ana Maria Machado, também autora de vários clássicos da literatura infantil que merecem ser citados: "Raul da Ferrugem Azul", "Bento que Bento é o Frade" etc. Nunca fui muito de ler livros infantis mesmo na infância, mas me lembro muito desses títulos porque meus pais tiveram uma pequena livraria em Itaperuna no início dos anos 90. Havia uma editora chamada Salamandra (existe ainda?) que era especializada no gênero e publicava muitos desses autores, e a gente recebia periodicamente os catálogos e tal. Um dia eu conto essa história.