possuído pelo ritmo ragatanga
#7: sean connery, bananas de pijamas, nft, bitcoin, números em francês e o sistema métrico americano
eita, que quase não sai a newsletter de hoje por motivos de: tinha boas ideias de textos, mas na hora de escrever, eles simplesmente não saíam bem. já aconteceu com vocês?escrevi uns rascunhos de ideias em um bloco de notas, mas nada de desenvolver, a inspiração simplesmente não vinha. a princípio me deu vontade de deixar para amanhã, ou pular esta semana, para escrever textos melhores.
mas depois eu me lembrei de sean connery em encontrando forrester . “não é para pensar - isso vem depois. você deve escrever seu primeiro rascunho com seu coração. você reescreve com a cabeça. a primeira chave para escrever é... escrever, não pensar!”. diz um velho escritor (connery) ao pupilo diante de uma folha em branco. e é isso, eu estava pensando demais, por isso não saía texto nenhum.
então, com um pouco de atraso, sai o cinco ou seis coisinhas desta semana, com um pouco de burrice minha em não entender como as pessoas podem entender certas assuntos, uma máquina de gerar ideias para textos, e finalmente, uma explicação para o que carajos significa a letra de ragatanga. vem comigo!
(vou logo avisando que tá bem qualquer coisa a edição de hoje, mas semana que vem eu melhoro, não desista de mim.)
UMA CONFISSÃO
das coisas que eu não não consigo entender
dia desses eu vi a notícia que o vídeo do “charlie bit my finger” foi vendido por 760 mil dólares. não exatamente o vídeo em si, mas o nft dele. pra quem não conhece, o vídeo de 2007 mostra um garotinho e seu irmãozinho, um bebê que morde seu dedo. só isso, 50 segundos, duas crianças e mais de 800 milhões de views. é o vídeo mais visto da internet. e acaba de ser vendido por uma pequena fortuna (4 milhões de reais). que alguém venda e outro alguém compre o que quer que seja, ok. o que eu não entendo é o tal do nft.
como é que alguém vai pagar pra ser dono de uma coisa que tá online, tipo um meme? e principalmente, a troco de quê? de que serve ser dono de um meme, e não dono do tipo “eu criei”, mas “eu comprei, olha aqui meu certificado”. sim, pelo que eu entendi, é por isso que você paga, pelo direito de dizer que algo online te pertence. não entra na minha cabeça. é tipo bitcoin, blockchain, criptomoeda, essas coisas. gente entendida já tentou me explicar, mas não entra na minha cabeça.
não entra na minha cabeça como alguém lê música. eu sou 100% do time dos que acessam a música pela letra, a melodia eu posso amar e me deixar levar, mas não entendo, não sei separar um dó de um lá, quem me ouve cantando sabe o desastre que é. vendo get back, a série documental dos beatles, eu fiquei de cara em como eles criavam a melodia da música toda, com pontes entre as partes, refrão, introdução, tudo harmonizadinho entre os quatro e só depois, bem depois, colocavam palavras no negócio. eu não somente não entendo isso como funciona, eu não entendo como alguém pode entender isso.
(um parêntese: eu fiquei puto que as letras que eu achava geniais eram só um punhado de palavras soltas pra caber na melodia, mas vou falar disso num próximo episódio)
sabe mais uma coisa que está além da minha limitada compreensão? os números em francês. porquê até o 60 é mais ou menos parecido com os demais idiomas: uma palavra para cada número até o 20 e depois uma dezena e uma unidade para os números compostos. mas chega no 70 a coisa degringola. 78, por exemplo é soixante-dix-huit ou sessenta e dezoito. e só piora: 85 vira quatre-vingt-cinq, ou seja, quatro vezes vinte mais cinco.
ou seja, se você tem que saber matemática pra falar o nome dos números, imagina colocar eles numa equação. 1998-197 vira mille neuf cent quatre-vingt-dix-huit moins cent quatre-vingt-dix-sept. coisa de doido, né?
não entra na minha cabeça também o estadunidense usar milha em vez de quilômetro. não faz sentido ter uma medida cuja unidade é um numero quebrado difícil de multiplicar. uma milha é 1609,34 metros, uma polegada é 2.54 centímetros e um pé é 30.48 cm.
uma vez namorei um cara da filadelfia que era muito alto, mas nunca saberei o quão alto era porque quando perguntei a altura ele me respondeu algo como “six point two feet”. era um cara gato, mas não o suficiente pra me fazer abrir a calculadora do celular e fazer uma conta. um sistema baseados em múltiplos de 10 não é mais fácil, gente? como alguém aprende isso na escola? eu imagino que é por isso que gringo em geral manda tão mal em geografia, com esse sistema métrico não sobra tempo para estudar mais nada.
e vocês, tem alguma coisa que vocês não entendem de jeito nenhum?
UMA MÚSICA
no fim era tudo sobre drogas
tenho a teoria de que toda música é sobre sexo ou sobre drogas, ou ás vezes os dois juntos. por exemplo esse menino diego, que ficou mundialmente conhecido pela canção asereje, gravada em 2002 pelas irmãs muñoz, da girl band las ketchup e nacionalmente conhecido pela versão do rouge da mesma música.
diego é um cara que, como diz a canção, lá da esquina já se nota que ele curte uma festa. na tradução de rick bonadio, diego tem “a lua em seus olhos, roupa de agua marinha e seu jeito de malandro”, já é um juízo de valor aí. no original, diego tem os zóio de lua, já cantado por chorão, “roupa de agua mariña y restos de contrabando”. hummm, diego leva consigo produtos ilícitos que provavelmente foi o que o deixou com o olhar enluarado, ou seja, diego está on drugs. mas ao contrário de bonadio, aqui não julgamos a diego.
“e com a magia e pura alma, ele chega com a dança, possuído pelo ritmo ragatanga” nesse ponto, a gente pula pra minha adolescência crente e as tiazinhas da igreja horrorizadas com a letra que tem a palavra “possuído” no meio. com certeza ragatanga é o nome de algum demónio. abaixa esse crucifixo aí, irmã guiomar, que ragatanga nada mais é que uma gíria dos anos 90. tudo indica que a palavra ragatanga é derivada de reggaeton, ritmo caribenho que mescla reggae, batidas eletrônicas, hip hop e sabe deus o que mais. assim como quem é fã de rolling stones vira “rolinga”, fãs de reggaetón” são ragatangas.
“e o dj que já conhece toca o som da meia noite, para diego a canção mais desejada”, sim, o diego que já chega colocado no rolê já é brother do dj e é só ele botar o pé na buatchy pra ouvir sua música preferida. e diego, já pra lá de marrakech, tenta cantar junto. “aserehe ra de re de hebe tu de hebere seibiunouba mahabi an de bugui an de buididipi” é como sai, num inglês do joel santana, os versos a seguir:
“i said-a hip, hop, the hippie, the hippie
to the hip hip hop-a you don't stop the rock
it to the bang-bang boogie, say up jump the boogie
to the rhythm of the boogie, the beat”
é isso, a canção mais desejada por nosso herói é rapper's delight gravada por sugarhill gang em 1980 e aqui mencionada em todo mundo odeia o chris. sim, agora vocês já sabem, o diego curtia uns negocim e se jogava na pista. agora sejamo sincero, pra ficar brasileiro de verdade, a música do diego deveria ser feira de acari ou mel da sua boca.
UMA EXPERIENCIA
a máquina de fazer contos
eu amo experimentos criativos, e amo a ideia de ser desafiado a escrever sobre algo. dia desses eu encontrei este site (em inglês) que, por meio de inteligência artificial, gera ideias para contos ou histórias. é bem interessante, você coloca duas palavras e ele te dá um ponto de partida. primeiro eu coloquei ousadia e alegria. e o site me sugeriu o seguinte:
“na floresta, sempre há áreas escuras e proibidas. é aqui que as pessoas mais ousadas vão para encontrar emoção e alegria. eles exploram o desconhecido e encontram algo novo para fazer todos os dias. ninguém sabe o que vai acontecer quando partirem, mas têm a certeza de que será uma grande experiência.
depois joguei bananas e pijamas e…
a mãe de john sempre o alertava sobre os perigos de comer bananas. ela disse que eles poderiam fazer seu açúcar no sangue aumentar e deixá-lo doente. john sempre hesitava em experimentá-los, mas sua mãe sempre implorava para que ele os experimentasse. john finalmente concordou, e logo se sentiu mal, de pijama.
por fim, joguei razões e emoções pra ver se a máquina superava o nx zero, e eis que:
ela estava tremendo de frio e medo, com as mãos fechadas em punhos ao lado do corpo. Ela tinha motivos para ter medo, ela sabia disso. mas ela não conseguia parar as lágrimas, e ela não conseguia deixar de tremer enquanto caminhava em direção à casa. tinha sido tão difícil deixá-lo, depois de todos esses anos. seu coração doía por ele, e ela ainda podia ouvir sua voz em sua cabeça, chamando por ela. ela tinha que encontrar uma maneira de fazer as pazes com ele, e ela sabia que não poderia fazer isso sozinha.
e só depois me dei conta que “razões e emoções” do nx zero é o equivalente em português de “sense and sensibility”, da jane austen. que coisa, não?
por fim eu tentei eduardo e mônica, mas o site não me deu uma resposta.
UMA PALAVRA
jayus
do indonésio, a jayus é uma gíria que descreve aquele momento em que alguém conta uma piada muito ruim ou sem qualquer senso de humor, mas mesmo assim as pessoas não conseguem evitar rir. basicamente meu tipo de humor, exemplo abaixo:
tinha dois patos conversando. aí um falou “quack”, e o outro respondeu: “nossa, eu ia falar isso agora.”
se você tem uma piada tão ruim ou pior que esta, por favor, comente aí abaixo.
júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor do livro cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponível em e-book pela amazon.
- O que o ovo mais novo falou pro ovo mais velho?
- ô vô.
A leitura dos números em alemão também segue um esquema bem doido, principalmente em anos (agora depois de 2000 fica mais fácil, rs).
Eles não lêem milhar>centena>dezena>unidade como a gente. Primeiro eles separam o milhar e a centena e lêem como se fosse uma, digamos, "dezena centenada" (calma, vou explicar). E os dois últimos algarismos são lidos - não me pergunte o motivo - de forma INVERTIDA: primeiro a unidade, depois a dezena.
Ou seja: o ano de mil novecentos e oitenta e dois é lido como: neunzehnhundert zweiundachtzig.
Em bom português: dezenovecentos doiseoitenta.