não vi & nem verei
#105: a vida é curta demais pra ir ver um filme cuja principal propaganda é que ele faz o melhor barulho de bomba explodindo
olá vocês!
então o querido oppenheimer rapelou uma porção de oscars ontem e, bem, não fez mais que a obrigação, né? a grana que se gastou pra fazer e o tanto que o christopher nolan encheu o saco falando desse filme, quase implorando pra ter um carequinha dourado na estante, fazendo um filme pretensioso depois do outro, se não ganhasse nesse ano, acho que nunca mais a gente ia ter paz. a boa notícia é que ano que vem a gente pode voltar a falar sobre filmes legais.
como vocês devem ter percebido, eu não fui ver o filme vencedor deste ano. não leva pro coração, deve até ser um bom filme. mas sei lá, não achei que fosse gostar de uma cinebiografia do cara que criou a bomba atômica. acho segunda guerra no cinema uma coisa tão anos 90. veja bem, eu não tenho nada contra abordar um evento histórico tantas vezes quanto seja possível, para confrontar diferentes visões. só que ver a versão hollywoodiana da criação e impactos da bomba atômica é pedir muito, sabe? é tipo ver uma minissérie sobre o governo bolsonaro na record.
tudo que vi sobre o filme me deu um desânimo enorme de ir ver. primeiro o preciosismo de “ain tem que ver o filme numa sala imax, para poder desfrutar toda a experiência sonora do filme”. mermão, é uma bomba fazendo buuuummmm, que mais se pode experimentar daí que seja assim tão inovador que minha forma de ver um filme vai mudar para sempre? tu já viu o preço de um ingresso de cinema? imax ainda por cima? a vida é curta demais pra ir ver um filme cuja principal propaganda é que ele faz o melhor barulho de bomba explodindo.
depois a descrição do roteiro diz que é a história de um homem angustiado por ter criado uma arma de destruição em massa. assim, angústia de homem branco eu já tô passando porque né, 129 anos de cinema é praticamente isso. segundo que, todo mundo avisa pro cara não fazer a bomba. ele vai lá e faz a bomba. e ele fica triste que a bomba destruiu cidades inteiras em outro país. poxa, me ajuda a te ajudar.
é filme de homem (o espécime mais chato que existe) fazendo guerra (o esporte mais chato que homem pratica). e o homem em questão é o peaky blinders, o ator mais ímã de incel do mundo. aliás, eu disse ali em cima que o filme rapelou tudo, mas melhor atriz é uma coisa que nenhum filme do nolan vai concorrer, né?
em tempo: 1 - quem viu e gostou, eu te respeito, não precisa justificar seu gosto e nem defender o filme pra mim não. eu não sou ningém na noite e o filme ganhou o oscar; 2 - o nolan tem alguns filmes muito bons, amnésia e a trilogia do batman, por exemplo. são filmes que eu fui ver pelas histórias que me venderam, não porque um bando de pedantes acha que é a única maneira de se fazer cinema.
e quem quer ter outra visão sobre o tema, recomendo muito a animação o túmulo dos vagalumes, de isao takahata, acompanha dois irmãos que lutam para sobreviver em um japão assolado pela segunda guerra. é dos estudios ghibli, que levaram uma estatueta ontem pelo adorável o menino e a garça, de hayao miyazaki, que não apareceu para receber o prêmio. em 2003 ele também ganhou e não deu as caras, em protesto contra a invasão dos estados unidos no iraque.
ainda sobre o previsível oscar de ontem (sério, não teve nenhuma surpresa, nenhuminha, puxa vida), esta foi uma temporada de grandes filmes. e de filmes grandiosos também, favor não confundir as duas coisas. infelizmente não vi tantos filmes quanto gostaria. queridos filmes do oscar, ao contrário do ganhador, vocês eu pagaria ingresso de cinema e streaming pra ver, só não tô tendo tempo mesmo, mas daqui até o ano que vem a gente vai se falando.
dos que eu vi alguns são bons e outros muito muito muito bons, aqui vai um top 5 dos filmes que eu mais gostei: vidas passadas, la memoria infinita, anatomia de uma queda, o menino e a garça e zona de interesse. pra mim quem merecia o oscar era este último, ainda mais depois do discurso do diretor jonathan glaze, que é judeu, defendendo o povo palestino e relacionando as tragédias na faixa de gaza com a temática do filme - o holocausto.
vidas passadas e la memória infinita me tocaram muito e vou falar sobre eles nas próximas semanas. destaco ficção americana que é um bom filme, mas a discussão dele é meio década passada pra mim, não sei, tive a sensação de que já avançamos esses temas, sei lá, talvez fosse o filme ideal em 2016. mas o diretor e roteirista cord jefferson, ganhador por melhor roteiro adaptado mandou bem no discurso:
“em vez de fazer um filme por 200 milhões, tente fazer 20 por 10 milhões! ou 50 em quatro milhões! (…) me senti muito feliz fazendo esse filme e quero que outras pessoas vivam essa alegria. e eles estão por aí, eu prometo a você. o próximo martin scorsese está aí. a próxima greta (gerwig), o próximo christopher nolan. eles só querem uma chance.”
no oscar desse ano meu time é myhazaky, jonathan glaze e cord jefferson contra o nolan, a rapa e a panela.
faço uma menção honrosa a barbie, que não é e nem nunca quis ser um “filme de oscar”. entrou lá porque ficaria feio não competir depois dos números que arrecadou. algo como o top gun maverick no ano passado. e vamos ser honestos, a academia precisa mais de barbie que o filme precisava do prêmio. ele tem méritos suficientes e é importante para mostrar para a indústria que filmes liderados por mulheres podem ser bem feitos e lucrativos.
já oppenheimer eu aposto que vai ter vida longa no domingo maior, depois do fantástico, onde reside o grosso do público do diretor. e daqui uns anos, vai frequentar a lista de filmes que não mereciam ganhar o oscar, ao lado de green book e crash - no limite. quem viver verá.
júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor dos livros a torto e a direito e cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponíveis em e-book na amazon.
Kkkkkkkkkkkkk amei, junior, vc está pronto para fazer a cobertura do oscar!
Eu vi Oppenheimer e concordo com tudo! heheh A melhor parte foi assistir Florence Pugh, porque estou vivendo para vê-la ganhar um Oscar algum dia.
Sobre Ficção Americana, para mim foi uma discussão atual, me rendeu dias pensando pensamentos hehe