apitou, começou!
#46: há razões para odiar e para amar esse mundial, um guia para escolher para qual país torcer e o que realmente interessa: os jogadores mais gatinhos
oi, vocês!
se tem uma coisa que eu aprendi com o tempo, é que somos todos contraditórios, ninguém é 100% uma coisa só. aprendi também, que a vida fica melhor quando a gente abraça o contraditório. por isso, eu acho totalmente razoável criticar o mundial do catar e ao mesmo tempo acompanhar, torcer e se divertir com os jogos de futebol. faz sentido virar um textão ambulante porque, afinal o país faz da vida de mulheres, pobres, imigrantes e lgbtêres um inferno.
o catar é governado por um regime autoritário cruza de monarquia e ditadura, com doses de fundamentalismo religiosos e pinceladas de desprezo pela vida humana. homossexualidade e sexo fora do casamento são punidos com pena de morte. deixar partes do corpo à mostra pode levar mulheres à cadeia. tomar cerveja é proibido. enfim, pensa num lugarzinho uó.
o catar não deveria ser a sede dum evento desta grandeza, mas o dinheiro falou mais alto, pra surpresa de noubári. a copa de 2018, na rússia, país que criminaliza a homossexualidade, já mostrou que não importa quão progressista, aliado e prafrentex uma empresa diz ser, o que importe é dinheiro. ainda assim, é copa do mundo, uma coisa que existe desde sempre e que faz parte da vida da gente.
eu não sei, nunca soube, passar alheio a este evento, ser blasé, fingir que não é comigo. se tem mundial, eu tô lá, tentando entender cada lance, preenchendo tabelas e fazendo contas de quantos pontos é preciso para passar para a fase seguinte. e colocando a maior fé nas estatísticas e no históricos. e tá tudo bem também criticar essa seleção aí e mesmo assim, torcer com afinco pra que eles cheguem lá e brilhem muito.
é difícil confiar totalmente num time em que a maioria elenco faz arminha com a mão e é estrelada pelo moleque mais insuportável que o futebol brasileiro já produziu. mas puxa vida, é a seleção canarinho, a instituição mais simpática do planeta, até no apelido. e agora que acabou esse governo horrível, tá na hora da gente resgatar o orgulho e amor que a gente já teve pela camiseta amarela, num tempo em que ela evocava alegria, e não estupidez e truculência.
eu não sou fã de futebol, mas amo copa do mundo porque não é (apenas) sobre futebol. é cultura pop, tratado sociológico e uma maneira de explicar o mundo. é onde a gente revisita conceitos como patriotismo, pertencimento e identidade. e é claro, quando a gente ganha uma pausa da loucura que é a vida pra falar de outra coisa. de jogadas bonitas à fofocas envolvendo os jogadores, o tema rende ótimas conversas de bar.
existem muitas maneiras de se torcer na copa, cada um tem uma. a minha é se eu vou com a cara do país. por exemplo, ao contrário de 214 milhões de brasileiros, eu vou torcer pra argentina ir longe, desde que não cruze com o brasil. eu acho o messi incrível, como atleta e cidadão. e vendo a série da netflix seamos eternos, com os bastidores da campanha da copa américa de 2021, em que eles ganharam no brasil, eu fiquei fã do escrete todo. o goleiro deles, dibu martinez, é uma das pessoas mais carismáticas do mundo.
eu também dou uma militada na hora de torcer. se é país colonizador, eu torço contra, se viola direitos humanos eu torço pra levar de goleada. fiz até uma tabelinha com as regras:
qualquer país latino ou africano x europa ou estados unidos: trabalhamos com reparação histórica.
qualquer país europeu x estados unidos: que se foda os dois.
time europeu x time europeu: pau no cu de colonizador, simpatizo com a holanda e olhe lá.
país latino x país latino: somos todos hermanos, que vença o melhor.
qualquer país latino x brasil: desculpa, hermanito, mas jogo é jogo.
país africano x país africano: que vença o que respeita mais os direitos humanos.
argentina x inglaterra: las malvinas son argentinas.
brasil x portugal: devolve nosso ouro, seus fdp!
não se torce para alemanha sob nenhuma hipótese.
torcer para o catar ir catar coquinho
espanha também tá na lista negra, #justiceforshakira
o time com menor tradição no futebol tem a primazia da torcida.
se revoga todas as anteriores, em caso do brasil se beneficiar com o resultado.
não torcer contra o neymar, mas não torcer a favor também. qualquer gol ou boa jogada dele deve ser alentada como uma conquista coletiva.
cortar relações com qualquer um que use a alcunha “menino ney” pra se referir ao mesmo.
independente do time, torcer pra um jogador se ele for um craque ou apenas muito bonito (ver lista abaixo).
TOP 10
os jogadores mais gatinhos da copa
robert sanchez, espanha
son heungmin - coréia do sul
jamie maclaren - austrália
eray coemert - suiça
cody gakpo - holanda
rodrigo de paul - argentina
shogo taniguchi - japão
seny dieng - senegal
kevin trapp - alemanha
bremer - brasil
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júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor do livro cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponível em e-book na amazon.
A copa é uma ótima desculpa pra estar junto das pessoas, o que já é bom demais! E não só camiseta amarela tem que ser resgatada, mas também a alegria que nos roubaram. Bora criticar e aproveitar a festa!
Opa, vamos nós pra mais uma Copa!
Não tem jeito. Eu adoro futebol, acompanho tudo, mas Copa do Mundo tem aquele espírito diferente, uma porção de coisas que envolvem (tanto que minhas lembranças mais antigas do torneio não são de jogo, e sim de propagandas e bricabraques associados). E isso apesar de tudo o que a Fifa faz pra destruir a própria criação - incluindo entregar a sede a um país que, além de todos os problemas que você citou, tem uma seleção com zero história na competição.
Sobre torcida, já digo de antemão que desde a Copa de 98 não torço mais pra seleção brasileira. Mas dessa vez tem lá os meus meninos Vinícius Junior, Lucas Paquetá, Pedro e Éverton Ribeiro que me fazem ter simpatia, apesar de não ser o maior fã do Tite e ter horror do Neymar. Mas confesso que tenho um certo ranço dessa torcida para/contra a seleção A, B ou C motivada por "questões maiores". Falando por mim, desde que comecei a ver futebol tem aquelas cinco ou seis seleções que gosto/torço e as três ou quatro que não gosto/seco, independentemente de ser da América do Sul, Europa, África ou outro continente. Funciona assim há uns 30 anos, rs.
Agora, quanto aos gatos, desde antes de a Copa começar eu já tô trocando fotos com amigos, rs. O Robert Sánchez é lindo mesmo - e é um dos que já comentei. E no Brasil, além do Bremer, o Alex Sandro tem uma boca linda. Quase todas as seleções têm seus gatos. Só não acho muita graça nos branquelos. Apito final!