viva são valentim, abaixo o pai do dória
#6: dia dos namorados, platão, cora coralina e a canção mais triste do mundo
viver em outro país é aprender que não se pode ser muito apegado ao calendário como conhecemos desde criança. por exemplo, na argentina, o dia das mães é em outubro, o dos pais é em junho, das crianças é em agosto, dos professores em setembro e o dos namorados em fevereiro, mais especificamente hoje. é o tango do gaucho doido.
eu demorei para me acostumar, mas pelo menos do dia dos namorados daqui eu gosto (ainda mais neste ano que, benza deus, eu desencalhei).
é uma data copiada da gringa? sim, o valentine’s day se popularizou a partir dos estados unidos. mas o que importa é que a data rememora uma história linda de amor.
(ao contrário do brasil que celebra o amor só porque um publicitário, joão dória, pai do dória jr. - aquele lá mesmo- decidiu esvaziar os estoques de uma rede de lojas e inventou uma data comemorativa numa época morna pra vendas.)
aliás, fica o apelo, brasileiros, porque vocês não se rebelam e se juntam aos catorzistas de fevereiro pra celebrar o amor? se bem que o certo seria celebrar o amor todos os dias. e em todas as formas, sobretudo o próprio. #militei.
neste número, aproveitando a data, vou contar a história de são valentim, apresentar algumas versões do amor romântico, deixar um poeminha fofo da cora coralina e uma listar as canções mais tristes do mundo. ou seja, uma newsletter para quem tá bem no amor ou tá mais para sofrência. vem comigo!
QUATRO TEORIAS
a minha versão do amor
platão, em o banquete, conta que no início dos tempos, os seres humanos eram bem diferentes do que são agora. era uma forma inteiriça, com o dorso redondo, com quatro mãos, quatro pernas, dois rostos opostos um ao outro e dois sexos que podiam ser homem-homem, mulher-mulher ou homem-mulher. esses seres eram completos e nunca se sentiam sozinhos. conscientes da sua força e vigor, estas criaturas logo voltaram-se contra as divindades.
zeus e outros deuses reuniram-se para discutir a ousadia humana. apesar da arrogância dos dos seres humanos, os deuses gostavam da adoração e dos templos construídos por eles e não queriam matá-los. depois de muito pensar e discutir, tiveram uma ideia: eles os cortariam ao meio para torná-los mais fracos. reunidos no olimpo, os seres foram cortados ao meio, um a um, e lançados à terra. separados, mutilados na sua essência, estes seres procuram , desde então, a outra metade perdida, a metade que falta. o pedaço que irá restaurar a antiga natureza.
e assim surgiu a ideia de alma gêmea.
* * *
para a neurociência, o amor é produzido pelo cérebro. a reação do organismo ao amor se assemelha a um vício, uma vez que faz com que sejam liberadas substâncias químicas em nosso corpo, trazendo sensações como ansiedade, prazer, euforia, conforto, apego. estas emoções estão intimamente ligadas às nossas capacidades cognitivas.
sabe o mundo cor-de-rosa que vemos quando estamos apaixonados? pura invenção. acontece que os amantes e apaixonados de plantão apresentam baixos níveis de serotonina – neurotransmissor que regula nosso humor, sono e disposição – e se assemelham às pessoas que possuem transtornos obsessivos-compulsivos. então pensar na pessoa faz com que nosso sistema límbico seja ativado, trazendo a sensação de recompensa.
a partir do momento em que idealizamos a pessoa amada por meio da liberação da dopamina, nosso corpo começa a reagir e a aquela sensação de borboletas no estômago se torna real. isso ocorre porque nosso corpo envia estímulos às glândulas adrenais, localizadas nos rins, onde os hormônios como a adrenalina e a norepinefrina são bombeadas. são esses hormônios alteram os batimentos cardíacos e agem na excitação.
por fim, a paixão faz com que a amígdala (do cérebro, não da garganta) comece a funcionar diferente. ela age no lobo temporal e é responsável por comandar nossas decisões e bom senso. por isso agimos como tapados quando estamos apaixonados.
must be love on the brain, já dizia rihanna.
* * *
já as teorias evolutivas dizem que a gente ama porque nossos antepassados resolveram andar sobre duas pernas. sim. quando começaram a andar eretos, os seres humanos passaram a terem as mãos mais livres para fazer descobertas, construir ferramentas, alcançar alimentos, etc. só que isso teve consequências na nossa gestação. é que para sustentar a coluna, o quadril foi se estreitando e com isso, nascer ficou mais difícil.
com o passar dos anos, o período de gestação diminuiu e o pequeno ser humano passou a demandar mais cuidado dos adultos. pensa assim, entre os mamíferos em geral, os filhotes se desenvolvem em menos tempo, um bezerrinho é um boi ou uma vaca adulta em 2 anos, em média. já entre nós, pedrinhos e letícias, o cérebro só termina de se formar aos 25 anos.
Pensando em como proteger e fazer essa frágil criatura não morrer é que a nossa inteligência evolutiva criou uma maneira de que os progenitores ficassem juntos. e também tivessem o instinto de procriar e, não somente isso, ficarem juntos para sustentar aquela prole. se você disse amor, adivinhou. claro que é uma teoria mais elaborada do que eu escrevi aqui, mas a ideia é essa mesmo: a gente tem tesão e ama é pra garantir a sobrevivência da espécie.
* * *
a minha teoria é: tudo isso faz sentido, mas a gente se apaixona mesmo pra se reinventar. minha mãe se casou há 6 meses, aos 60. e foi viver numa chácara rodeada de planta, bicho, pasto e sossego. e foi assim, em questão de meses, conheceu o moço, se apaixonou e quando viu a vida dela já era outra. eu achei lindo e inspirados poder mudar de vida numa idade em que muita gente desiste de tentar. a gente se apaixona para ter essa chance.
porque quando a gente começa a gostar de alguém, a gente melhora. ou pelo menos se torna uma versão melhor de si pra atrair o outro. aprende coisa nova, experimenta coisas que jamais imaginou fazer, se arrisca, sai da zona de conforto, se expõe, se joga. não sei se é algo bonito de se dizer, que a motivação do amor é tão egoísta que amar outra pessoa é algo sobre nós mesmos.
amar é uma maneira de zerar o passado e começar de novo, quantas vezes for preciso. eu quando amo alguém eu só quero só quero agarrar esse garoto pela mão e sair pelo mundo promovendo revoluções, pintando tudo de toda cor, sendo feliz e rindo como um bobo. quando eu amo, tudo parece magicamente possível. fazer o quê, eu sou assim.
fonte: por que a gente ama | a ilusão mais poderosa da mente
UM SANTO
my sweet valentine
valentim foi um bispo que viveu em roma no século 3. por causa das muitas guerras que o imperio enfrentava o imperador cláudio segundo proibiu o casamento, porque achava que soldados solteiros eram melhores no campo de batalha. então, valentim realizava matrimônios clandestinamente.
até que um dia o descobriram. mesmo preso e condenado à morte, o bispo recebia cartas e flores de pessoas que acreditavam no amor. também foi na cadeia que valentim se apaixonou pela filha de um dos carcereiros, um amor condenado a não se realizar. reza a lenda que valentim milagrosamente a fez enxergar novamente. antes de sua execução em dia 14 de fevereiro de 269, o bispo escreveu uma carta de despedida à sua amada, assinando com a frase: “de seu valentim”.
dois séculos mais tarde, no ano de 496, o papa gelásio declarou valentim santo. a data de sua morte foi escolhida pela igreja como dia dos namorados para incentivar casais que pretendiam se unir em matrimônio. e é por isso que em grande parte do mundo se comemora o dia de são valentim com flores, declarações e demonstrações de amor.
UM POEMA
quero te servir a poesia numa concha azul do mar
não sou nenhum fanático por poemas. pra dizer a verdade, eu nem sei se eu entendo todos os poemas ou mesmo se gosto da maioria. daí que eles, os que eu entendo e gosto, eu deixo á mão para momentos assim. e resolvi deixar aqui pra vocês um dos meus preferidos. feliz são valentim, que você possa celebre estar vivo e poder amar.
poeminha amoroso
este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu
é uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
e eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
talvez tu possas entender o meu amor.
mas se isso não acontecer,
não importa.
já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo
eu te amo, perdoa-me, eu te amocora coralina
UMA LISTA
a canção mais triste do mundo
a canção mais triste do mundo é o caderno, do chico buarque. veja bem, que criança não se comove com o apelo do pobre caderno de não ser esquecido num canto qualquer?
na verdade, a canção mais triste do mundo é essa tal felicidade do tim maia. imagina ouvir aquela voz cantando seu sonho “de formar uma familia como era dos meus pais” no momento em que seus pais (os meus no caso) enfrentam uma separação dificil.
por certo, a canção mais triste do mundo é a via lactea do legião urbana porque, puxa vida, é doído ouvir algo tão pesado como "vem de repente um anjo triste perto de mim" aos 14 anos e se identificar 100%.
se bem que a canção mais triste do mundo é antologia da shakira, se você for um adolescente que sonha com romances que não pode ter porque se acha feio demais, inadequado demais e gay demais pro resto do mundo. aí de noite, no seu toca-fita, a shakira canta uma coisa tão linda e tão inacessível para você. dói.
por outro lado, a canção mais triste do mundo é last kiss do pearl jam que te engana com o ritmo alegrinho, até você descobrir a letra. o trauma está servido.
sei lá, eu só acho que a canção mais triste do mundo é canção pra você viver mais do pato fu, que nem disfarça, já no título a fernanda takai escancara que quer mais é te ver chorando que nem um condenado.
ou talvez a canção mais triste do mundo seja o que me importa, na versão do ira. porque vai fazer você olhar em retrospecto suas relações e se sentir um fracassado aos 19 anos, uma idade em que ninguém deveria olhar em retrospecto as suas relações.
de repente, a canção mais triste do mundo é true colors da cindy lauper, por nenhum motivo especial, mas um dia você pode ser surpreendido aos prantos ouvindo ela no repeat, porque precisava por pra fora a grande confusão na sua cabeça.
mas eu acho mesmo que a canção mais triste do mundo é eu te amo do chico buarque porque, puta que pariu, porque foi tocar isso no dia que você se separou depois de uma relação de muito tempo?
reparando bem, a canção mais triste do mundo é crying, do roy orbinson porque vai calhar de ser ela que toca no fone de ouvido no momento em que você olha fotos da sua amada avó, falecida recentemente e tal qual a música você chora por horas inteiras sem pausa.
sem dúvidas, a canção mais triste do mundo é leaving on a jet plane do john denver porque um dia você vai viver em outro país e apesar de ser uma decisão ótima vai ter aquela saudade doendo forte algumas vezes.
pode anotar: a canção mais triste do mundo eu acredito que seja la distância do roberto carlos porque a versão em espanhol é ainda mais fodida de triste e você vai se pegar sozinho, tomando muito vinho, naquela carência de quarentena, olhando sua vida amorosa em retrospecto e se achando um perdedor aos 38 anos, idade em que é um perigo olhar a vida amorosa em retrospecto.
* * *
agora falando sério. a canção mais triste do mundo é esta aqui. ou esta aqui. ou definitivamente esta aqui. vocês decidem.
e para você qual é a canção mais triste que existe?
júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor do livro cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponível em e-book pela amazon.
Eu acho que a canção mais triste do mundo é All I Want, do Kodaline, porque ela tem não só um, mas dois clipes que me deixam de coração partido (tudo bem que o segundo, pelo menos, tem final feliz. E pode ser que eu tenha ouvido muito quando estava de coração partido também).