um pouquinho de brasil, iaiá...
#151: tenho uma notícia boa e outra ruim. a ruim está no primeiro parágrafo e a boa você vai ter que ler o texto todo para descobrir
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olá, vocês!
tenho uma notícia ruim e uma boa, qual vocês preferem primeiro? como isto é texto escrito e não live do tiktok, eu decidi por vocês e vou começar pela notícia ruim. no fim de janeiro eu fui despedido do meu trabalho. foi um baque, eu não tive nenhuma reação. não sabia dizer se estava alegre ou triste, apenas assimilei como pude o momento, passei pela burocracia de praxe e fui acompanhado até a porta, com meus pertences numa sacolinha.
eu entendo que é do jogo ser despedido, é só um dia comum na rotina das grandes empresas e não é pessoal. eles teriam que nos ver como pessoas para que fosse. eu era um número, mais um entre um punhado de gente desligada de um projeto. alguém me disse alguma vez que é nas piores notícias que encontramos as melhores oportunidades. eu gostaria muito de ser otimista assim, mas para mim notícia ruim é uma sequencia de choro, ranger de dentes, dedo no cu e gritaria. e só bem depois, vem a contenção de danos.
mas 2025 veio forte e por incrível que pareça, eu tô sendo mais forte que ele.
este texto não é sobre meu tombo, mas o que eu resolvi fazer depois dele. no mesmo dia da demissão, eu já tava organizando uma viagem para o brasil, para levar o victor para conhecer minha família e as delícias do meu país natal. logo, o que era uma situação deprimente se transformou em planos, lugares para conhecer, comidas para matar a saudade, pessoas para reencontrar. duas semanas, quatro malas, três horas de vôo e duas poltronas apertadas da jetsmart depois, chegamos ao brasil. a idéia era começar pelo rio, passar um dia e meio por lá e depois pegar um vôo a brasília e daí, embrenhar goiás adentro.
o rio de janeiro continua lindo, mas parece que agora teve um tempero a mais, não sei se a proximidade com o carnaval ou se o calor recorde naquele 12 de janeiro. acredito que estar em um airbnb no leme, a uma quadra da praia ajuda muito. chegamos à noite e já fomos andar no calçadão, caipira quando tá na praia quer ficar colado no mar o máximo de tempo possível.
e aí, do nada, nos deparamos com uma gravação de novela das nove. a coisa mais carioca do mundo, né? ali na nossa frente passaram câmeras, refletores, humberto carrão, joão vicente e alice wegmann. como um sonho, como se tudo na vida fosse possível. perdão, cariocas, mas sou totalmente chico bento no shopping quando vejo artista da globo. no dia seguinte, acordamos cedo para renovar a pintura da lataria em copacabana.
um cochilo maroto depois, bater um bom pf e ir para o jardim botânico, um dos lugares mais lindos do rio. de qualquer ponto dá para ver o Cristo, emoldurado por folhas e copas de árvores diversas. de lá fomos a ipanema, ver o pôr-do-sol no arpoador. se você só tem um dia pra estar no rio, melhor ir no clichê. calor demais é sempre ruim, mas é melhor suar no rio de janeiro que em qualquer lugar do mundo. vamo todo mundo ser torrado, mas pelo menos a vista é linda. à noite, beco do rato, samba de primeira, cerveja gelada e pastel de camarão. lapa, eu te amo para sempre.
no outro dia, saímos da cidade maravilha purgatório da beleza e do caos e vamos direto para o cinturão da bíblia, goiásquistão. de brasília até mara rosa é chão, pra base de umas 4 horas de viagem de carro. fomos com meu irmão e meus sobrinhos.mara rosa, onde vive minhã mãe, é uma cidade pequenininha, com uma réplica do cristo redentor, um lago de água bem azul e bastante tradicional nos modos e costumes. tava com medo de dar ruim e eu tinha motivos para isso.
bobagem, minha família foi bastante acolhedora. irmãos, cunhadas e sobrinhos amaram o victor. o coitado ficou aturdido com tanta gente falando tão depressa e tão alto ao seu redor. mas, mesmo entendendo pouco o português ele entendeu a linguagem universal das boas vindas: frango com quiabo, angu de milho, queijo minas, bolacha mabel, pamonha de doce, pamonha de sal, pamonha a moda com queijo e linguiça, jiló com abóbora, farofa, biscoito frito, cuscuz com ovo, frango com pequi, churrasco, feijão tropeiro, e isso só para começar.
depois de uma semana de colinho de mamãe, fomos para goiânia. a cidade já foi mais bem cuidada, mas mesmo assim, ainda tem seus encantos. comer uma empadinha no mercado central, tomar uma vitamina no lacerda, comer um pastel de frango com guariroba na pastelaria mimosa, passar uma tarde calma caminhando no parque flamboyant, visitar a melhor loja de gibis usados e camiseta de banda do mundo, a hocus pocus, comer um espetinho de kafta com arroz, mandioca e vinagrete, tomar uma garapa com limão na praça cívica e comer um x-salada gigante na rua 10. e é um tanto de vai lá em casa tomar um café, que fica difícil dizer que não.
o mês correu e logo era dia 28, aniversário do victor. fomos de carro com minha amiga mel para pirenópolis. se tem plano melhor que uma cachoeira pra celebrar uma idade nova, eu desconheço. é um dos meus lugares preferidos do planeta. e depois, brasília. encontrar meus melhores amigos, fazer um tour pela esplanada, na catedral e nos pratinhos do congresso. nunca tinha visitado a “casa do povo”, uma falha grande na minha formação de cidadão. achei muito cunty o lula exibir nos salões as obras de arte que foram dilapidadas pelos golpistas do 8 de janeiro.
no domingo de carnaval, meu compromisso era com a fernanda e o walter. ver o brasil ganhar o oscar pela primeira vez mexeu comigo. até prometi que se a gente ganhasse os três eu me mudaria de volta. até o victor entrou na torcida por mais. bom, ficamos só com o de melhor filme internacional e, como eu já gastei minha cota de palavrões nas últimas semanas, vou dizer apenas que quem perdeu foi o oscar, a gente só ganhou. a baladinha pós premiação esteve animada. e na segunda-feira, fomos cedo visitar meu pai em luziânia.
estar tanto tempo longe dele e da minha família paterna abriu ainda mais o abismo que eu sentia entre nós. eu preferi ir ver minha avó e a parentada antes e depois só marcar um almoço com meu pai, sem levar meu marido. não queria que o victor passasse nenhum tipo de constrangimento. mas não é que o velho me surpreendeu aparecendo no meio da reunião familiar? e não só isso, ele foi bastante amável com o victor. no dia seguinte almoçamos, passamos um bom tempo junto e ele até levou a gente ao aeroporto de brasília. e eu senti que ali uma ferida de anos se curava. nos abraçamos e eu prometi que não ia mais levar tanto tempo para aparecer.
passamos a quarta-feira de cinzas no rio, em um bloquinho da lapa e estar ali quando saiu o anúncio da beija-flor ganhando, foi uma grande festa. a alegria das pessoas era contagiante, e eu, 8 carnavais depois, entendi que não importa o que aconteça, vou amar o brasil para sempre. no dia seguinte, dia de dar adeus. fomos à urca, visitar a casa-cenário de ainda estou aqui, comer um último pf e ir para o aerporto. na sala de embarque, ouvindo erasmo cantar é preciso dar um jeito meu amigo eu chorei, já sentindo saudade.
esta viagem mexeu comigo de um jeito que nunca tinha mexido nas vezes anteriores que voltei para visitar a família. acho que o tempo e a distância mudaram pilares, tanto em mim quanto nas pessoas da minha família. eu me emocionei demais em ver como o victor foi bem tratado. nunca achei que fosse ver isso um dia. ele até ganhou uma camisa do time do meu irmão de presente. mas pra minha família futebol e comida são importantes e foi essa a forma que eles acharam pra fazer meu marido se sentir bem vindo. ainda estamos discutindo aqui porque não sei se posso conviver com mais um são-paulino no mundo.
e claro que com isso, o danado começou uma campanha para que nos mudemos para o brasil. e a notícia boa é que eu vou voltar para o brasil dentro de dois meses e dessa vez é pra ficar. é o tempo para organizar as coisas aqui e lá. ainda preciso de um emprego (falar nisso, dá uma olhada nesse post que eu fiz no linkedin, compartilha, indica para alguém. por enquanto os planos ainda estão bastante abstrato. mas meu desejo é concreto, eu preciso voltar para esse caos maravilhoso, esse paraíso miserável, essa bagunça gostosa que me formou e me viu nascer.
os próximos passos vocês verão por aqui. por agora, ainda é preciso dar um jeito, meus, amigos!
um recadão do coracinho
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júnior bueno é jornalista e vive (por pouco tempo) em buenos aires. é autor dos livros a torto e a direito e cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponíveis em e-book na amazon.
Júnior do céu! É muita camada nessa News! Eu precisaria de uma News inteira pra comentar tudo, principalmente pq assim que cheguei no Brasil ano passado fiz a rota RJ x Brasília x Goiás x Pirenópolis x pamonha x cuscuz com ovo x etc. Deus me livre ganhar a camisa do SP, mas que bom que o Victor foi tão bem acolhido. Eu tbm vim para o Brasil me reposicionando no mercado de trabalho, atualizando perfil no LinkedIn e só agora estou voltando pro batente; aproveitei esse intervalo pra viver umas novidades. Desejo novidades no seu intervalo tbm e que ele seja breve. Bom retorno.
Sinto muito pela perda de emprego e sorte nos novos caminhos no Brasil! E que coincidencia, conheci Brasilia pela primeira vez justo uns dias depois de que voce fez o tour no Congresso. Também achava uma vergonha eu ainda nao ter ido lá.