um conto de duas cidades
#41: memórias destravadas da infância oitentista, passeios legais por buenos aires e uma lista de brinquedos que eu queria ter e morria de inveja de quem tinha
hola, qué tal?
há um milhão de 7 anos minha turma de jornalismo estava correndo louca pra fazer seus tcc. e não sei porque a gente inventou de criar produtos (livros, documentários, revistas) em vez de monografias normais. acho que é porque pelo menos na faculdade daria pra fazer coisas legais que a gente sabia que, no mercado de trabalho, talvez não desse pra fazer. eu escrevi um livro de jornalismo gonzo, a luana dirigiu um doc ótimo sobre as mulheres no jornalismo esportivo e a amanda criou uma revista cultural lindíssima, a acácia. teve muitos outros, mas desses dois eu lembro porque eu batizei o filme da lu, a regra do impedimento. e escrevi um texto pra mandy, que você vai ler logo abaixo.
o curioso é que as duas fazem aniversário por agora, então fica aqui um beijão, amo vcs! nesta edição, além de destravar lembranças de férias nos anos 80, deixo um roteiro de turismo em buenos aires que fiz neste finde, porque a gente envelhece, mas sempre é divertido passear na própria cidade. vem comigo!
buenos aires, 2022
buenos aires é minha cidade preferida no mundo. e meu lugar preferido em buenos aires é uma árvore. isso mesmo, um exemplar de pé de planta cujo nome desconheço, mas de comovente beleza. quando eu cheguei aqui em 2017, a plaza república federativa de brasil, ao lado da faculdade de direito, estava em obras para abrigar uma estação. mas no meio do terreno que deviam escavar, havia essa árvore e para salvá-la, decidiram criar um tanque de concreto para conter a terra ao seu redor. e fizeram uma rampa em espiral à sua volta para que qualquer um possa chegar até ela e desfrutar sua sombra. eu achei essa história incrível, todo esse esforço em salvar um ser que fornece sombra e abrigo. neste fim de semana visitei minha árvore de novo.
tinha muito tempo que eu não turistava em buenos aires, mas nesses dias a juliana e a larissa, colegas de profissão, vieram conhecer a cidade e eu fui fazer rolês com elas. pra começar, levei elas pra palermo, na sexta à noite. pra comer no joint, o melhor hambúrguer da argentina inteira. só não é o melhor da américa do sul, porque em goiânia tem os pit dogs da rua 10 e aí, temos que ser justos.
depois, passamos no bequinho dos grafites, porque se palermo é a vila madalena portenha, eles têm que ter um beco do batman também. e em seguida, do nada záz!, um bar secreto que fica atrás de uma panchería que tá alí só pra distrair os transeuntes. mas eu já tinha ido no la uat e sei que é só passar pela cortininha de plástico atrás do balcão e ya está. na entrada um balcão de drinks, logo uma pista de dança com dj, em seguida um espaço com fliperama e uma escada pro terraço. no terraço fomos recebidos com copinhos de vermute com frutos vermelhos. tomamos uns negocinhos e terminamos a noite tomando sorvete no lucciano’s.
no outro dia, já meio chuviscando, saímos do hotel delas no centro para recoleta. visitamos a supracitada árvore do júnior, tinha um pica-pau tão bonitinho lá, muito parecido com esse aqui:
passamos duas horas inteiras no museu de belas artes, vendo coleções infinitas de quadros e esculturas duma galera fraca, sabe? rodin, monet, van gogh, expoentes da arte argentina do séc 19. sabe quando você sai pesado de um restaurante depois de um rodízio? esse museu é um rodízio de arte. saímos na chuva e fomos comer no panera rosa. a comida tava uma delícia, me senti muito ~helena de manoel carlos~ comendo um omelete e uma saladinha. caríssimo, deixei um rim por lá.
resolvemos entrar no cemitério recoleta. que rolê errado. a chuva engrossou e o que era pra ser um agradável passeio pela história argentina virou um pesadelo de sapatos empapados, e sei lá porque só nos fixamos mas tumbas com caixões e ossadas expostas. entramos na igreja de nuestra señora del pilar, que dizem ser a mais antiga de buenos aires. como eu amo ver igreja antiga. é o rolê mais errado que existe, eu admiro aqueles altares adornado com ouro e mármore, babando, mas com a mão na consciência.
de lá, fomos caminhando (na chuva, né, o que é um peido, etc.) até a indefectível livraria atheneo grand splendid. é uma livraria, né, nada demais, mas puxa, como é linda, eu sempre me esqueço disso, mas sempre que estou com alguém vendo ela pela primeira vez eu me lembro. por fim, me despedi das garotas e fomos, meu namorado e eu, celebrar o aniversário de uma amiga daqui em um restaurante espanhol em palermo. me acabei comendo talharim negro com tinta de lula com molho de frutos do mar. dividimos o prato e mesmo assim saímos rolando.
no outro dia, o sol saiu de novo, grazadeus, já tava com medo de ser processado, porque vendi a minhas amigas um clima de primavera. caminhamos pela feira de san telmo toda, parando nos pontos chave: a mafalda, a casa mínima, o mercado, a plaza dorrego. passamos na iglesia de san pedro telmo, que dizem ser a mais antiga de buenos aires. pois é, rola uma rinha de igreja. e essa é ainda mais linda, o mármore azul contrastando com o ouro puro. tão bonito o colonialismo.
depois, já com o joelho chorando, caminhamos até a costanera sur pra comer o melhor choripan de buenos aires. e barato pra caramba. de lá, andamos pelo parque da costa, passamos por el puente de la mujer, e terminamos o domingo tomando sorvete na freddo. rolê de comida é muito melhor que rolê de bebidas, na minha humilde opinião.
goiânia, anos 80
a professora entrega o boletim para os pais, junto com todas as provas do semestre, ajuntadas numa pasta com um desenho que a criança coloriu e, se as notas estão azuis, logo vem a melhor notícia que uma criança pode ouvir: férias! quem não pode viajar, tem videogame, tablet, youtube e, pra dar aquela desplugada, cinema, rolezinho no shopping, lanche no mcdonalds. isso hoje em dia, né? pra quem foi criança em goiânia nos anos 80, a história era diferente.
pra começar, os cinemas eram no centro, na rua. shopping, só tinha o flamboyant e não tinha mutiplex ainda. então o point era assistir um filme dos trapalhões no cine astor. ou de volta para o futuro no cine hitz, que tinha a tela maior e duas salas. ou pegar uma matinê no cine frida, a turma toda morrendo de rir assistindo porky’s, se já tivesse idade (ou levasse o porteiro no lero). ou filme de kung-fu no cine santa maria, que não sei por que, sempre tinha filme de kung-fu. tinha outro cinema, na rua do lazer, que não lembro o nome agora. virou uma igreja do r. r. soares. todos viraram igreja. ou cinema pornô.
terminada a sessão, o negócio era tomar uma banana split nas lojas americanas, recém inaugurada, tinha uma sorveteria maravilhosa dentro. ou ir no alô brasil brinquedos paquerar sonhos de consumo. era assim: tinha um supermercado grande ali na praça das mães, chamado alô brasil. e eles tinham uma loja separada, onde hoje é um pró-brazilian, que se chamava alô brasil binquedos. sabe aquela loja de brinquedos daquele filme que o tom hanks é um menino que cresce? era tão mágica quanto.
naquele tempo, não tinha importação, livre concorrência, essas coisas. brinquedo era só da estrela. e eles tinham os bonecos comandos em ação, os melhores carrinhos de controle remoto, uma pá mecânica e um trator, amarelinhos, de plástico que eu sempre quis ter. e bicicletas, monark, cecizinha para as meninas e calói. galera 35+ deve lembrar dos bilhetinhos “não esqueça a minha calói,” pra gente deixar nos pertences dos pais, que vinham nos gibis da turma da mônica.
mas o meu passeio preferido no centro era passar na colandy. é uma lanchonete que até esses dias existia, ali na entrada do camelódromo, mas antes, era o paraíso encantado, pra mim, que nunca havia pisado numa praça de alimentação. naquela época, o sorvete de cascão era novidade, me lembro até hoje do primeiro que eu tomei. às vezes tinha a empada com baré no mercado central.
ou a gente fazia uma matula e fazia piquenique no mutirama. tinha um playground de areia com balanços, escorregas, gangorras, mesmo pra quem não tivesse dinheiro para brincar nos brinquedos pagos. ou o jardim zoológico, também conhecido como horto, com a divertida ilha dos macacos. ainda existe a ilha dos macacos? no meio do lago, os miquinhos moravam todos juntos e a gente ficava na beira do lago assistindo as armações deles.
na hora do lanche, minha mãe abria a tigela, lotada de bolinho frito, rosquinha assada melada de açúcar, pão com salame, suco de corante sabor groselha. o olho bem que espichava para a crush de laranja na lanchonete, mas dona luzimar sempre fazia questão de deixar combinado: “não pede nada, que eu não tenho dinheiro, tá?” eu me lembro muito que tinha um tanque imenso com uma fonte, onde a gente brincava com água e sempre voltava para casa, a língua vermelha, o corpo cansado, a roupa encharcada e a alma feliz.
TOP 10
brinquedos clássicos dos anos 80
bonecos falcon olhos de águia
pogobol
aquaplay
meu primeiro gradiente
caminhão do faustão da elka zum
ferrorama e autorama
mini supermercado
bonecos
casa dos sonhos da barbie
vai-e-vem
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júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor do livro cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponível em e-book na amazon.
Além de eu nunca ter sido uma criança comilona (muito pelo contrário), passei a infância numa cidade bem menor que Goiânia, de modo que as saídas pra lanchar não me marcaram tanto. Tenho minhas boas memórias de guloseimas, e tal. Mas shopping centers desses grandões, Lojas Americanas e McDonald's eram coisas que eu só tinha acesso quando ia a Niterói ou Vitória, tipo uma vez por ano.
Cinema em Itaperuna eu só me lembro do Cine Santa Luzia, no centro, que só passava filmes dos Trapalhões e de kung-fu. Como eu não me interessava, como ele logo fechou e virou Universal e como meu pai comprou um videocassete em 1991, eu só fui ao cinema pela primeira vez anos mais tarde, já morando em Campos, pra ver "A Vida é Bela" (sim, Roberto Benigni e "buongiorno principessa"). Em compensação, eu adorava ir às videolocadoras e ficar olhando as capinhas, escolhendo alguns filmes/desenhos pra alugar - e devolver na segunda-feira com a fita rebobinada, claro.
Mas os brinquedos, ahhh! Eu adorava a seção de brinquedos da Leader (que minha vó sempre chamou de "Bazar Leader"). Dessa sua lista, eu tive um ferrorama, minha prima teve um pogobol e meu irmão mais velho teve a coleção quase completa dos Comandos em Ação. A gente chamava esses bonecos de "brincar de hominho".
Eu adorava carrinhos e jogos de tabuleiro. Era o que eu mais gostava de ganhar. Tive uma jamanta eletrônica, que carregava quatro carrinhos de plástico (um Passat, um Chevette, um Puma e um Maverick) e tinha uns botões direcionais em cima do caminhão. Inesquecível!
promete que vai repetir esse roteiro de Buenos Aires comigo, por favor, nunca te pedi nada kkk e amei saber um pouco mais sobre Goiânia nos anos 80. em Anápolis também tinha um parquinho com uma fonte em que todas as crianças tomavam banho, eu amava!