tudo sobre minhas mães

#112 - quem tem fã é time de futebol e banda de rock, divas pop são mães para seus seguidores. eu sou filho da madonna (e mais uma dúzia de mulheres)

olá vocês.

o senso comum diz que “mãe só tem uma”, e bem, em muitos sentidos isso é verdade, ninguém nasce de chocadeira. há quem tenha duas, há quem tenha nenhuma porque ela foi morar no céu, ou qualquer outra intermitência infeliz do destino, mas assim, a grosso modo, pra maioria é uma só mesmo. mas se você é uma pessoa elegebetê, aí existe um fenômeno que é a figura materna compulsória. um jovem do vale vai ter inúmeras mães ao longo da vida além daquela que é a sua de origem.

aí você pensa que é forma de dizer: “claro, é só um fã mais emocionado transferindo afeto materno a uma artista que ele admira”. bom, depois do show da madonna em copacabana eu posso e devo discordar. como alguém disse no xuitter, foi o melhor show que eu não fui na minha vida.

quem tem fã é time de futebol e banda de rock, divas pop são como mães para seus seguidores. eu sou filho da madonna desde que comprei meu primeiro aparelho de som cce em 2000 e devorei o álbum music inteiro. ali ela me adotou me amou e me nutriu com suas músicas.

mamãe querida…

madonna não me conhece, não sabe quem eu sou, mas é a minha mãe. e todas as bichas, travestis e sapatões saltitando na tela da tv, em prantos por ver aquele show são meus irmãos. pra quem não é uma pessoa lgbtqiap+ ou pelo menos uma mulher-viado com bom gosto e bons amigos, eu explico: ser filho de uma mulher poderosa, adorada, talentosa ou somente “faraônica, babilônica, nabucodonosoriana”, é um estado de espírito. e sim, mãe há várias.

eu mesmo sou filho da elza, da gal, da rita e da bethânia. elas não balançaram meu berço, mas me cantaram cantigas de ninar. elas me tomaram pela mão quando eu quis descobrir o mundo e embalam até hoje meus sonhos, alguns momentos mais reflexivos e me acompanham quando eu tenho orgulho de ser brasileiro. a cássia eller e a marisa monte me fizeram juntas, fui um bebê de proveta delas e por muitos anos elas tiveram minha guarda compartilhda.

a shakira foi mi madrecita quando eu precisava de uma mãe loba latina e eu devo a ela tudo que eu sei de espanhol. a selena quintanilla morreu em 1995, mas é minha mãe. a elis regina morreu eu nem era nascido, mas isso não me impede de pensar nela como uma figura materna. pra ser mãe, basta ser ícone. às vezes podemos ser filhos até de quem nasceu depois da gente. eu vejo a rihanna e não penso em outra coisa que não seja yass mamma!

e não para por aí, fernanda young será minha mãe forever. clarice lispector era minha mãe o tempo todo, só faltava eu conhecê-la. erika hilton me adotou quando decidiu que ia lutar e falar alto não só em meu nome, mas de todos meus irmãos e irmãs. com minhas amigas luísa e tati, temos um grupo chamado “hebe, lolita e nair”, em homenagem às nossas deusas-mães.

atrizes são as maiores mães-de-viado que existem. é a lei: fez uma vilã de novela memorável e caricata? vai ser nossa mãe, tá escrito. eu sou filho da renata sorrah, da cláudia abreu, da patrícia pillar e da beatriz segal ao mesmo tempo. e toda atriz que ganha o oscar, ganha também o peso de ser a mãe de uma legião de criancinhas coloridas, querendo ou não. bom, menos a gwyneth patrow, porque ai é a gente que não quer. somos filhos da fernanda montenegro desde sempre.

tem mulher que apenas existindo é minha mãe: viola davis, dercy gonçalves, aubrey plaza, joan crawford. fernanda torres é minha mãe espiritual, tal qual vani em os normais. marisa orth é minha mãe, assim como a magda. tenho mães que só existem na ficção: eu sou filho da tahani (jameela) de the good place com a rebeca bunch (rachel bloom) de crazy ex-girlfriend. no canto “daenerys stormborn da casa targaryen, a primeira de seu nome, protetora dos sete reinos, a mãe dos dragões…” eu sou o quarto dragão.

nas novelas, eu saí do ventre de mary matoso (patrícia travassos) e fui amamentado pelos seios de natasha (claudia ohanna) em vamp. sou filho de laurinha figueroa (gloria menzes) e maria do carmo (regina duarte) em rainha da sucata e tenho todos os traços da rainha valentine (teresa rachel) em que rei sou eu. cada uma das irmãs ferreto de a próxima vítima é minha mãe e eu sou primo de mim mesmo. a betty lago como a bibi de quatro por quatro, é a minha mãe e quando a bibi se disfarçou de “tia calpúrnia” eu tive crise de identidade, era filho de duas mulheres diferentes que ao final era a mesma.

às vezes basta ser camp: a loira vestida de noiva cantando wishin and hopin na abertura de o casamento do meu melhor amigo foi minha mãe naqueles dois minutos. bárbara paz em um ensaio fotográfico da sara joias inspirado nos protestos de junho de 2013 me deu vida. ana lúcia torre morrendo envenenada em alma gêmea. lady gaga sangrando na performance de paparazi no vma de 2009. dona florinda é minha mãe e a bruxa do 71 é minha boadrasta. susana vieira é tão mãe e tão camp que nem sei que momento da vida desta mulher eu poderia escolher aqui.

a lista é longa: as vedetes argentinas susana gimenez e moira casán e suas contrapartes brasileiras, gretchen e rita cadillac. cada atriz que fez dreamgirls na broadway e no filme. cada atriz de cada filme do almodóvar. o próprio almodóvar poderia ser minha mãe, se já não fosse meu pai. às vezes eu tenho como figura materna um homem de peruca: rupaul, pabllo vittar, bianca del río, vovó mafalda. mãe é quem cria.

e é claro que eu sou o maior fã da minha mãe, dona luzimar, uma mulher complexamente simples e extraordinariamente comum, mas ainda assim, a maior popstar do mundo.

um feliz dia das mães para todos vocês!

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mudando de assunto:

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Vanessa Guedes

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O amor afogado numa enchente

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júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor dos livros a torto e a direito e cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponíveis em e-book na amazon.