supermercados da vida
#29: a gente conhece muito sobre uma pessoa pelos produtos de limpeza que ela gosta, se ela escolhe alimentos pela marca, pelo preço ou pela embalagem
olá, pessoas.
finalmente me rendi ao tik tok. com o instagram respirando por aparelhos, decidi dar uma chance à rede das dancinhas e confesso que mordi minha língua. pelo que eu entendi, leva um par de dias para que o algoritmo entenda seus gostos então vai mandando vídeos genéricos pra saber o que você curte e o que você passa pra frente sem ver. nesta primeira semana eu tive um total de zero sugestões de dancinha, homem imitando mulher com camiseta na cabeça e fofoca de celebridade. mas veja você tem uma infinidade de gente engraçada de verdade ali, muita receita e dicas de limpeza e organização. amei demais.
mas o que me pegou é que, sem saber o app me mandou alguns vídeos de gente que trabalha em supermercado. e eu encontrei meu lugar no mundo. são vídeos hilários pelo menos para mim. eu amo supermercados, desde sempre. pra mim uma ideia ideal de date é chamar o crush para fazer a compra do mês. a gente conhece muito sobre uma pessoa pelos produtos de limpeza que ela gosta, se ela escolhe alimentos pela marca, pelo preço ou pela embalagem, se gosta de cupom e sabe que dia é melhor pra comprar carne. se tiver um cartão fidelidade de cada rede de supermercado, então, é pra casar.
passear entre as gôndolas, mesmo que eu não planeje levar nada mais que os 15 ítens que me permitem passar no caixa rápido, me faz bem. eu amo ver as novidades, comparar preços, imaginar receitas, me permitir um queijo, um docinho, uma fruta diferente. é um hábito pequeno burguês de quem já passou dificuldade na vida e agora pode ter acesso a bens de consumo? sim.
é um exercício egoísta, porque seguramente pra garantir meu passeio, tem dezenas de empregados em condições de trabalho horríveis? sim também. é uma constatação de quão horrível é o capitalismo, já que há milhares de pessoas passando necessidade, e os preços cada vez mais altos dos alimentos… pera que eu dei uma cochilada aqui.
mas nem vem militar nos meus hábitos conscientes (na medida do possível) de consumo. porque se tem uma coisa que eu tenho sobre o tema supermercado é lugar de fala.
você sabia que meu primeiro emprego foi de empacotador num supermercado? sim, aos 16 eu comecei a ralar das 2 às 10 em pé, pra ganhar módicos 150 reais, que era o salário mínimo da época. no finado supermercado marcos. apesar dos perrengues e algumas humilhações, eu tenho boas lembranças daquele tempo.
então pra ficar por dentro de como a bolacha bono vai parar na gôndola e o que um caixa de supermercado pensa mas não tem coragem de dizer para cliente folgado, vou dar uma sugestão de perfil pra seguir no ticoeteco , um documentário e uma sitcom sobre o tema. além disso, minhas impressões sobre o filme elvis e uma lista com 10 cinebiografias de ídolos pop.
vem comigo!
EU INDICO
promoção: leva três paga dois
o perfil @evahablaespanol mostra o dia a dia de uma moça chinesa que trabalha em um mercado em buenos aires. pra quem não sabe, na capital argentina, todo mercado de bairro, que não pertence a uma grande rede como carrefour e coto, é propriedade de comerciantes chineses. tanto que quase ninguém fala “vou ao mercado”, senão “voy al chino”. infelizmente, essa relação do portenho com os donos e empregados é permeada por preconceitos e xenofobia. o perfil de eva mostra, com deboche e bom humor, muitas situações que passa em seu dia-a-dia. seu jeito expressivo e suas tiradas são o melhor do perfil.
a série documental old enough, da netflix é uma mistura de fofura com aflição. consiste em acompanhar crianças muito pequeninhas em sua primeira ida sozinhas ao supermercado. sucesso absoluto no japão, onde está no ar há 30 anos, o programa mostra, em cada episódio de cerca de 10 minutos de duração, uma criança diferente realizando uma tarefa sem supervisão dos pais ou ajuda de adultos. a missão é dada aos pequenos pelos pais no início de cada capítulo e os espectadores acompanham as aventuras e desventuras dos pequenos para tentar cumpri-la, como atravessar rodovias e pedir informações. é impossível não se ver torcendo para que os pequenos consigam cumprir a missão.
ainda passando pelas gôndolas dos streamings, uma das minhas sitcoms preferidas, superstore que recém terminou sua sétima e última temporada. é uma versão de the office só que numa loja gigante do meio dos estados unidos. a série acompanha uma turma de funcionários mal pagos e sem perspectiva de um emprego melhor, em situações corriqueiras pra quem trabalha em supermercados como este. o maior atrativo da série é o compromisso com o humor ácido, em que uma situação nunca resvala para uma lição de moral emocionante. todos os personagens são, moralmente questionáveis, totalmente tapados ou uma mistura dos dois. meu episódios preferidos são sempre os de halloween, principalmente o que amy (américa ferrera) aparece vestida de selena (não a gomez).
FILME
auanbabulubabalambambú
eu acabei de chegar do cinema após a maratona de quase três horas do que foi o filme do baz luhman sobre elvis presley. o filme pode ter alguns defeitos, mas jamais pode ser acusado de ser morno. pelo contrário, a obra transborda intensidade, energia, verve, pretensões e apostas múltiplas. um acúmulo incessante de estímulos visuais e musicais, uma anfetamina e uma ópera pop conscientemente kitsch e gorda, uma mistura de videoclipe e quadrinhos de quase três horas de duração que acelera mesmo nas curvas fechadas.
nesse tom, com esse ritmo, pode ser visto como uma montanha-russa da qual é impossível sair e cujo efeito final é bastante semelhante à embriaguez. e eu estou embriagado de elvis. sobretudo pela escolha de austin butler para o papel principal. acho que seu trabalho beira a excelência. como disse minha amiga mariana, se ele não for indicado para todos os premios, eu vou mandar fazer um oscar e ir lá pessoalmente entregar na casa dele.
seu comportamento lembra muito o de elvis (não tanto seu rosto: o de elvis era irrepetível, obviamente). sua pele reflete a energia que o personagem exige, principalmente em algumas danças e gestos durante os números musicais. e é incrível que não só ele tenha conseguido imitar o sotaque sulista de elvis, mas também que o timbre da voz falada seja, às vezes, incrivelmente semelhante ao original. é como ouvir elvis falar.
o filme tem um bom ritmo e um acabamento impecável, embora falte um pouco mais de coragem para lidar com a questão das drogas, seu relacionamento com os membros da máfia de memphis, suas infidelidades contínuas, seus últimos dias praticamente trancados em graceland. não é uma cinebiografia ortodoxa como the doors ou piaf, mas um recorte mais centrado no mito elvis.
de resto, basta dizer que chegou a hora de sua figura ser trazida para a tela para aproximá-la das novas gerações com essa grande exibição de mídia. alguns filmes anteriores, comparadas a esta, estão (a partir de agora) condenadas ao esquecimento.
absolutamente recomendado.
TOP 10
10 cinebiografias de estrelas da música
the doors
tim maia
não estou lá (bob dylan)
selena
cazuza - o tempo não para
piaf: um hino ao amor
tina - a verdadeira história de tina turner
ray (ray charles)
amadeus (wolfgang amadeus mozart)
rocketman (elton john)
ps: o título dessa coluna é o mesmo de um álbum muito bom do barão vermelho.
ps2: consegui fazer duas referencias à selena (não a gomez) nesta newsletter, estou feliz.
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júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor do livro cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponível em e-book na amazon.
Superstore é minha sitcom favorita, já cansei de falar o quanto amo! hehe a última temporada foi genial, ainda mais pqe assisti quase em 'tempo real'.
E sim, vamos juntos entregar o Oscar para o Austin Butler, ele merece tu-do!
luísa, obrigado pela visita, e por supuesto, já estou inscrito no trem das onze. e recomendando também!