os dias eram assim
#141 - 1984, 1994, 2004 e 2014: um apanhado dos anos terminados em 4 das últimas décadas, para contemplar os sinais dos tempos
olá vocês!
em 1949, geoge orwell imaginou como seria um futuro tão, mas tão distópico que só poderia se passar num ano assim bem longe. tanto que ele batizou seu livro de… 1984. é divertido pensar que estamos hoje mais distantes no tempo de 1984 do que 1984 estava de seu ano de lançamento. eu já estava nesse mundo, gente, foi outro dia parece. aí quando saiu a série do senna na netflix, me caiu a ficha que já tem 30 anos que ele partiu para o andar de cima.
realmente eu tô jurássico. como eu não vou ficar na fila do inss sozinho, resolvi aqui espalhar esse sentimento de “feel old yet?” para todos vocês. vamos lembrar o que de mais marcante rolou há 10, 20, 30 e 40 anos. então me dá aqui a sua mão, feche os olhos e escute a voz da cissa guimarães falando “direto do túnel do tempo” e vem comigo! (agora se você nunca ouviu essa frase nem sabe quem é cissa guimarães, entenda: eu te odeio)
há 40 anos…
nos cinemas: os caça-fantasmas, o exterminador do futuro, um tira da pesada, karatê kid, footloose. e no brasil os trapalhões e o mágico de oroz e a filha dos trapalhões. na tv, o diabo (flávio galvão) seduzindo as mulheres na novela das oito, corpo a corpo.; xuxa tentando fazer as crianças se acalmarem na platéia do clube da criança, da finada tv manchete. e a série do ano? miami vice. o fla x flu do pop madonna e cindy lauper, . michael jackson levando nada menos que 7 grammys pelo álbum thriller. o rock nacional dominando: sonífera ilha, dos titãs, como eu quero, do kid abelha, óculos, dos paralamas, fullgás, da marina e inútil, do ultraje a rigor entre as 10 músicas mais tocadas nas rádios. mais hits: purple rain de prince, what's love got to do with it de tina turner, wake me up before you go-go do wham! o boicote de países soviéticos aos jogos de los angeles. a primeira medalha de ouro do brasil para joaquim cruz do atletismo. a estreia de ayrton senna e seu segundo lugar, mesmo debaixo de chuva. o cabelo de michael jackson pegando fogo nas gravações de um comercial da pepsi. lady di grávida do segundo filho, harry. os comícios das diretas já. steve jobs lançando o primeiro mac com uma gravata borboleta ridícula. e o mundo dava adeus a marvin gaye, michael foucault, truman capote e françois truffaut.
há 30 anos…
forrest gump (❤️) e pulp fiction, o rei leão, o máskara, true lies, priscilla a rainha do deserto, entrevista com o vampiro e um sonho de liberdade marcaram 1994. o fantasma alexandre (guilherme fontes) tocando o terror no novelão a viagem. castelo rá-tim-bum e confissões de adolescente. e claro, friends e plantão médico marcando um antes e depois na história das séries. só pra contrariar cantando essa tal liberdade. i'll make love to you, do boyz ii men, the power of love, da celine dion, hero, com a mariah carey e breathe again, da toni braxton. o álbum calango, do skans; verde, anil, amarelo, cor-de-rosa e carvão da marisa monte e chico science & nação zumbi, com o antológico da lama ao caos. o ótimo bedtime stories, da madonna. kurt cobain desistindo de tudo, o grunge morreu, viva o grunge. o cachorrinho da cofap. o casamento de michael jackson e lisa marie presley, filha de elvis. lilian ramos sem calcinha ao lado de itamar franco. e foi o ano em que perdemos ayrton senna, tom jobim, jackie kennedy e mussum. o lançamento do plano real e o fim da hiperinflação. roberto baggio errando aquele pênalti. galvão bueno gritando “é tetraaaa, é tetraaaa!!! o livro brida, de paulo coelho. e naquele ano nos estados unidos, através do napster, o começo da era da internet, nossa principal fonte de diversão e tormento.
há 20 anos…
a paixão de cristo, de mel gibson. e clássicos da sessão da tarde: de repente 30, meninas malvadas, as branquelas e como se fosse a primeira vez. as biopics cazuza - o tempo não para e olga. waltinho salles estreando em hollywood com diários de motocicleta. a “era de ouro da tv” com house, desperate housewives e lost. e muita novela boa: celebridade, senhora do destino, chocolate com pimenta e da cor do pecado. os hits hey ya, do outkast, boulevard of broken dreams, do green day; my boo, feat do usher com a alicia keys. gasolina, do daddy yankee, fazendo do reggaeton um fenômeno global. e ainda sorte grande, da ivete, tamo aí na atividade, do charlie brown jr; equalize, da pitty, vou deixar, do skank e a onipresente e insuportável festa no apê do latino. britney casando com um amigo de infância em las vegas, após uma noitada e anulando a união menos de 48 horas depois. o bronze de vanderlei lima na maratona, depois de ter sido empurrado por um idiota nos jogos de atenas, tirando do atleta a chance da medalha de ouro. o lançamento do facebook, youtube e gmail. e em terras tupi, o reizinho orkut conquistando corações. o código davinci. o tsunami na ásia. e o adeus a marlon brando, christopher reeve, ray charles e hilda hilst.
há 10 anos…
um monte de “filme de hominho” nos cinemas: capitão américa, guardiões da galáxia e x-men dias de um futuro esquecido. e mais: interestellar, o grande hotel budapeste, birdman, boyhood, hoje eu quero voltar sozinho e relatos selvagens. os hits é hoje, da ludmilla, beijinho no ombro, da valesca popozuda; lepo lepo, do parangolé, anaconda, da nicki minaj, chandelier de sia, shake it off, da taylor swift, fancy, com iggy azalea feat. charli xcx e happy do pharrell williams. as mortes de gabriel garcía márquez, ariano suassuna, roberto gomez bolaños, joão ubaldo ribeiro, maya angelou e josé wilker. os memes “taca-lhe pau”, “eita giovana” e a selfie do oscar. o fim de a grande família. o primeiro beijo gay de uma novela da globo, com félix (mateus solano) e niko (thiago fragoso), em amor à vida. dilma se torna a primeira mulher a ser eleita duas vezes presidente da república. beyoncé, taylor swift e emma watson se declarando feministas e construindo um discurso mais ou menos coerente em torno do conceito. kim kardashian “quebrando a internet” na capa da revista paper. tudo isso foi há 10 anos, mas se você não se lembrar de nada disso, há algo que eu tenho certeza, você nunca esqueceu: alemanha 7 x brasil 1 na copa do mundo.
já eu em 1984 tava comendo terra; em 1994, estava na sexta série, era fã da turma da mônica e odiava educação física; em 2014 eu lia uma média de 60 livros por ano e beijava meninas; em 2014, eu comecei a estagiar em um jornal diário e namorava um menino da wicca. e em 2024 eu moro em buenos aires e assino esta newsletter que, nesta semana, saiu na quarta, em vez de terça-feira, como é o habitual. mas semana que vem, vai sair no dia certo, eu juro.
antes de ir, um recado
criei um canal de comuniçação mais íntimo, onde você pode deixar, se quiser, perguntas, sugestões ou o que mais te der vontade. e de vez em quando eu vou usar algumas dessas mensagens como inspitação para um texto. pra enviar um alô é só clicar no botão logo abaixo. desde já, muito obrigado!
júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor dos livros a torto e a direito e cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponíveis em e-book na amazon.
Eu amei essa edição. Às vezes a gente não se dá conta do tempo que faz que as coisas aconteceram. Quando conto qualquer coisa para os meus filhos, fico fazendo contas pra saber quando foi isso mesmo e sempre me espanto.
Desculpa deixar 3 mensagens, mas fui lendo e escrevendo, como se a gente estivesse papeando. Hehehe. As mensagens estão soltas, mas pelo menos gerei engajamento, vai.
Excelente, Júnior. Como sempre.
Rapaz, o impacto maior foi com a lista de 2014. Como assim aquilo que aconteceu semana passada, no máximo mês passado, na verdade já soprou velas dez vezes?