o mundo vai girando cada vez mais veloz
#22: lenine, déborah secco, simone, sósia do belo e o olhar de peixe morto, que chegou para substituir a cara de pato nas selfies
helo, helo, helooo (ler com voz do rupaul quando entra no werkroom)
parece que foi ontem que comecei a escrever aqui e já estamos no número 22. brincando, brincando, nossa relação tá ficando séria. pelo menos para mim.
este ano, tem passado numa velocidade que me espanta, não dou duas semanas pra acordarem o cara do green day porque já acabou setembro e um pouquinho mais, já vai estar a simone batendo na sua porta querendo saber o que você fez.
por falar em tempo que corre este é o tema de um dos textos desta newsletter. também falo sobre uma rede social que pretende ser anti-instagram e uma lista de manchetes bizarras.
vem comigo.
CRÔNICA
de repente, tudo parar pra ver o jacaré boiando no rio
na semana passada semana duas newsletters e um filme me deram o que pensar: o davi rocha, do dia sim dia não, falando sobre como um ano passa voando, sobre coisas que não eram assunto há menos de um ano, como o emoji derretendo e a máfia da padaria no bbb.
a segunda newsletter não falava de velocidade, mas da pira coletiva de se consumir livros cada vez mais e mais rápido, que ao invés de despertar prazer está gerando ansiedade. eu devia postar aqui onde eu li isto que me impactou tanto mas dado o volume de newsletters que eu recebo no meu email todos os dias, eu não consigo achar o texto. ou talvez fosse algum texto que alguma news indicou, que eu fiquei de salvar para encontrar, mas agora não consigo mais achar o rastro. porque em um dia o volume de coisas acessadas e lidas na internet é assustador e achar qualquer coisa não favoritada de uma semana atrás é impossível. uma pena, porque é um texto muito legal.
por fim, o filme que me fez pensar (mais ou menos, nem era isso tudo), foi 100 coisas, um filme alemão em que dois amigos apostam quem consegue ficar um período x de tempo sem nada (comida, roupas, pertences, tudo), com uma coisa sendo devolvida por dia. uma premissa interessante, porque de fato temos cada vez mais coisas das quais até poderíamos prescindir, mas que tornam nossa vida mais cômoda até o limite de que não podemos mais abrir mão. e as coisas acabam nos pertencendo.
o irônico é que eu só fui ver esse filme porque estava na hbo max, que mandou uma notificação que ele sairia do catálogo e de repente eu senti que ***tinha**** que ver. o que é um stream senão uma coisa a qual nós pertencemos? e a hbo é apenas um dos streamings que eu assino. semana passada o mercado libre liberou a assinatura do star+ e eu fui montar uma lista do que me interessava e agora tenho nada mais que 5 séries na fila pra ver (fora netflix, disneyplus e hbo, uns 4 ou 5 podcasts, as dezenas de newsletters e bem, um punhado de livros gritando por atenção).
de algum modo, as três fontes para mim se relacionam. o tempo voando no texto do davi, a mensagem por trás do filme sobre excesso de consumo e a angústia de ter que ler cada vez mais na nesletter que eu esqueci no nome, e também o fato de eu sequer poder memorizar um nome de newsletter dado o volume de assinaturas, tudo isso está relacionado dentro do que eu acredito que seja um colapso da informação.
e de alguma forma, o acúmulo de coisas que temos e que não precisamos, o volume de coisas para consumir, escutar, ler, assistir, conhecer, na minha opinião é um dos fatores responsáveis por fazer com que o mundo vá girando cada vez mais veloz (valeu lenine, brigado!). porque a capacidade de coisas acontecendo numa velocidade e volume cada vez maior tem a ver com a rapidez com que consumimos informação. e por informação eu digo tudo, de notícias importantes, fofocas, coisas que amigos e família postam nas redes, material de estudos e trabalho (sim, porque não parece, mas eu trabalho em tempo integral.)
e parece um trem desgovernado desse não tem como parar né? a solução talvez seria saltar do tem em plena velocidade? de uma vez abandonar consumo, entretenimento, informação, sair das redes, estar em um único lugar de cada vez? ou quem sabe fazer um inventário do que a gente realmente precisa para seguir e o que está ali apenas pra preencher um vazio porque não podemos mais estar sem estímulos sob o risco de ouvirmos o que passa no fundo da nossa cabeça. viajei aqui?
há uns 30 anos a tv manchete pegou o público de surpresa com uma telenovela que se passava no campo e que entre uma cena e outra passava um tuiuiú voando vagaroso, um jacaré boiando por minutos inteiros em pleno horário nobre. era a vida em slow motion, pura contemplação. muito tempo depois eu ainda me lembrava disto, de como aquela novela contrastava com tudo ao redor, o ruído do telejornal, a pressa e o frenesí da vida moderna. de repente tudo parava pra ver o jacaré boiando no rio.
eu jurava que não havia mais espaço para este tipo de entretenimento na tv. que tudo tinha que ter ritmo de série, muitos decibéis e tons a mais que o normal na tv. e não é que pantanal voltou e está fazendo sucesso na tv? sei que é uma simplificação, mas sei lá, de repente o lenine tava certo, o negócio é se recusar, fazer hora e ir na valsa. afinal, a vida é tão rara.
TESTE
a rede social não tão social assim
o intuito do be.real é ser algo parecido com o que foi o instagram na época que era só um app de fotos banais. uma rede onde se pode postar uma foto por dia, na hora que eles estipulam, sem filtro nem efeitos.
você recebe a notificação e tem dois minutos pra tirar duas fotos - uma selfie e uma do que você está vendo naquele momento- a ideia é mostrar sua vida como ela é, ao contrario do insta, que hoje é a versão menos real possivel da vida real. ou seja, sem influenciador, sem loja, sem gente vendendo produtos ou estilo de vida, sem dancinha, sem vídeo. é uma rede sem graça pra gente sem graça poder mostrar que tem uma vida sem graça. eu adorei.
segundo os criadores do be.real, a rede é a chance de mostrar aos seus amigos quem você é de verdade, ao menos uma vez por dia.
estou há uma semana na plataforma e, além de selfies assustados e fotos feias do meu home office, não tem muita coisa. porque a foto sempre vem no pior momento. veja bem, no sábado eu viajei de trem, fui a uma festa infantil, cruzei com um vendedor de algodão doce no metrô e à noite fio à opera pela primeira vez. o app resolveu aparecer quando eu estava sozinho no meu quarto bagunçado com vista para uma parede.
fora isso me pareceu divertido ver o que gente desconhecida estava fazendo e constatar que, sem filtro e edição a vida de todo mundo é um tanto tediosa. muita foto de escrivaninha, pratos de comida e tela de tv. quem quiser experimentar, me add, só aceito com scrap (pera, rede social errada).
TOP 10
10 manchetes bizarras que eu li nos últimos tempos
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vereadora quer proibir a venda de alimentos em forma de órgãos sexuais em londrina
‘nunca fiz mal a ninguém. só era piranha’, desabafa deborah secco
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júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor do livro cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponível em e-book na amazon.