o gênero musical samara felippo
the doors, alcione, beatles, raça negra, skank e uma doidivanas que eu amo
minha gente!
por motivos de força maior, pelo menos por enquanto, nosso encontro de toda segunda será remanejado para as terças. desculpa pela mudança e espero que vocês continuem aí, dando sentido para o que eu faço do lado de cá.
tenho andado muito musical ultimamente, como comprova esta, esta e esta edições da “cincoouseis”. mas fato é que muito do que tenho feito para me distrair, sem querer acaba esbarrando em música, como o fato que emendei as duas temporadas da playlist extraordinária de zoey com crazy ex-girlfriend, ambas séries músicas, andei relendo a biografia da billie holliday. também ando ouvindo mais música que costumava ouvir, desde que o victor veio morar comigo (sim, estamos vivendo maritalmente há uns quatro meses ).
bom, o resultado é que tenho falado mais de música que o normal aqui e espero que gostem. neste número vou falar de canções menos famosas que são melhores que as mais conhecidas de um monte de artistas e fazer uma ode à melhor série de todas (que não é friends).
vem comigo!
RADINHO
pelo fim das gavetinhas
se tem uma coisa que me dá preguiça é gente que só escuta um tipo de música: somente rock, só música em inglês, nada além de música sertaneja. e nada fora desse universo particular é bom. outra coisa que acho chato também é separar toda música que existe por gênero musical. claro que entendemos que existe ritmos diferentes: tango, samba, vanerão, foxtrot, salsa, reggaetón. e existem movimentos musicais, bossa nova, mpb, tropicália, brock etc. mas tudo isso deveria ser mais para contar a história de uma canção que para catalogar e guardar numa gavetinha.
fora que é bem podre isso de para alguns qualquer coisa que não seja heavy metal não é “rock de verdade”, ou aquele papo de velho chato de “funk pra mim é o que o james brown fazia”. nenhum estilo de música é puro e livre de misturas e é exatamente a graça da coisa. o funk de james brown, veio do soul e acabou derivando tipos distintos de sons por onde se derramava, como o miami bass, que chegou no brasil nos anos 80, já pegando uma ginga que não tinha, conheceu o batidão e hoje aparece em diferentes extratos sociais. e veja você, agora estamos exportando para o mundo o funk. porque somos o quê? antropofagistas, bebê.
daí que sim, entendo que por uma séries de motivos, principalmente mercadológicos, todo artista no mundo tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado e rotulado se quiser tocar. mas se é pra ser assim, a música se divide em dois gêneros: as que eu gosto e as que eu não gosto.
uma das minhas manias recorrentes é interromper qualquer coisa que estiver fazendo pra dizer “eu amo essa música”. é isso: música boa não tem gênero nem idade.
e já que é pra rotular, posso sugerir novos gêneros musicais, tais como:
gênero “casais de malhação”: miss your love (silverchair), with arms wide open (creed), how you remind me (nicleback), enfim toda balada feita nos anos 00 por bandas de rock cujos caras tinham madeixas loiras;
gênero “filhos, melhor não tê-los”: o mundo é um moinho (cartola), father and son e wild world (cat stevens) e filha, também conhecida como “15 anos faz agora” (rick e renner);
gênero “se fode aí otário, que quem perdeu foi tu”: olhos nos olhos (maria bethania), irreplaceable (beyoncé), i will survive (aretha franklin), la cobra (j-mena baron), agora eu sou piranha ( gaiola das popozudas);
gênero “se ouvir não dirija”: tik tok ( ke$ha), moda da pinga (inezita barrozo), hoje é sexta-feira (leandro e leonardo), maneiras (zeca pagodinho), rehab (amy winehouse) e lama (núbia lafayette).
tem também o gênero musical que eu batizei de samara felippo, mas vou falar melhor sobre ele no texto logo abaixo.
justice for samara felippo
ali pelos anos 90 uma leva de jovens atrizes ocupava a telinha da tv, todas muito talentosas e garbosas. mas tinha uma que eu sempre achei mais interessante: samara felippo. o nariz sardento, a voz meio rouca, o sorriso sapeca, para mim ela era magnética. o negócio é que apesar de samara ser essa maravilha toda (perdão), nunca ganhava o papel principal, nas novelas quase sempre destinado a priscila fantim, mariana ximenes e um seleto clubinho.
nada contra as moças, mas samarinha merecia ser melhor reconhecida. em sua homenagem, toda vez que eu vejo algo ótimo não tendo seu devido valor sendo notado, já chamo logo de “samara felippo”. em musica por exemplo há todo um gênero de canções que são tão boas quanto, ou até melhores que as mais conhecidas daquele artista, mas a galera só fica nos mesmos hits. a seguir alguns exemplos:
o que eu faço amanhã? - falou em alcione, parece que só existem duas músicas: não deixe o samba morrer e a do negão de tirar o chapéu. mas pelo amor, escutem essa aqui, antigaça, que é de uma letra doída, um arranjo lindo, a marrom no seu melhor momento.
canção noturna - a samara felippo do skank tem uma levada ótima, que remete a uma viagem (entenda como quiser) com amigos, descrevendo passagens e paisagens surreais e coloridas. não tem um décimo da fama de garota nacional, mas é a minha preferida da banda ( jackie tequila em segundo).
vida cigana - sinto que a galera “litrão-boleto” gosta de raça negra, mas de maneira irônica, o que é uma coisa idiota, pra dizer o mínimo. a banda, talvez a maior de pagode de todos os tempos, merece ser ouvida para além de cheia de manias (capaz que nem eles aguentam mais cantar dididi diê). vida cigana, do goiano gilberto correia é uma das mais lindas que eles já gravaram.
day tripper - a discografia dos beatles é pródiga em lados b tão incríveis quanto medalhões como yesterday, hey jude e let it be. eu amo quase tudo deles, mas essa é um amorzinho, toda alegrinha, vale dar uma chance.
bwana - eu já até escrevi sobre essa delícia de música da rita lee, que está longe de ser uma das mais lembradas, mas mora no meu coração, como já contei aqui, por ser a primeira música que eu me lembro de ter ouvido na minha vida.
touch me - uma delícia essa do the doors, que não é exatamente a mais pedida deles, mas que é perfeita, tanto na poesia (i'm gonna love you till the stars fall from the sky, for you and i) quanto na melodia, com o teclado de ray manzarek dando tudo de si.
ps: a música do chitãozinho e xororó mais incensada no momento é evidências, mas existem pelo menos uma dezenas de músicas melhores que essa, cantadas por josé e durval. dá uma lista. alguém quer uma lista? pede que eu faço.
qual seria a samara felippo do seu artista preferido? conta aí pra gente!
TELINHA
o que rebecca bunch faria?
como contei ali em cima, meu namorado e eu estamos morando juntos e faz parte da nossa rotina apresentar ao conje um pouco do que nos apassiona. por exemplo, estou vendo pela primeira vez todos os filmes do universo marvel, em ordem cronológica (pois é). em contrapartida, decidi mostrar para ele a melhor série já feita na história: crazy ex-girlfriend.
e revendo os primeiros episódios, vejo que não é exagero o que eu afirmo sobre a beleza e a importância desta série na minha vida. para quem não está por dentro, é um musical romântico sobre uma advogada bem sucedida de nova york que larga uma carreira exitosa pra ir morar numa cidade medíocre da califórnia apenas porque esbarrou num ex-casinho de adolescência na rua e ele disse que a cidade é o máximo.
toda a devoção obcecada de rebecca (rachel bloom) sobre o pobre josh (vicent rodriguez iii) e o título ironicamente machista sugerem que é uma série sobre o amor de uma mulher por um homem. mas é aí que a série começa a surpreender: é a jornada de uma heroína em busca de sentir um pouco da felicidade que ela imagina nas pessoas ao redor, já que sua infância e adolescência foram arruinados por pais horríveis e, consequentemente, más decisões. é um tratado sobre saúde mental disfarçado de comédia romântica.
o que torna esta série acima da média é que apesar das situações absurdas em que rebecca se mete para ter uma migalha de atenção que seja de josh, é impossível não empatizar com ela. porque ela é uma perdedora no amor, doidinha de pedra, mas também é boa amiga, engraçada e ótima profissional. e o fato da personagem ser ao mesmo tempo bem sucedida e toda cagada por dentro desmistifica muito a imagem que temos de pessoas com transtornos mentais.
também é bom ver como o comportamento carente e errático de rebecca é educativo: toda vez que eu me vi em alguma situação de me importar demais com gente que não tava nem aí eu me perguntava: “o que rebecca bunch faria?” e ao imaginar a resposta, eu fazia o oposto. já me poupou de muito constrangimento na vida.
a série, criada pela própria rachel bloom e aline brosh mckenna retrata uma mulher muito humana em seus delírios, que trai, mente para si e para os outros, se comporta de maneira auto indulgente, mas ao longo das temporadas, aprende a se recompor, juntar os caquinhos e escolher ser uma pessoa melhor para si mesma.
eu amo muito crazy ex-girlfriend e, caso raro, não odeio nenhum personagem. talvez eu goste um pouquinho menos de josh. mas não tem como não amar paula, heather, darryl, white josh, valencia e ele, crush dos crushs, greg serrano.
tecnicamente, a série dá uma caída na qualidade na quarta e última temporada. mas nada que comprometa o resultado final. os musicais, uma atração à parte, são cheios de ironia, humor nonsense e referência pop, três das minhas coisas preferidas na vida.
eu tenho inveja de quem nunca viu esta série, porque podem ver pela primeira vez. sério, crazy ex-girlfriend está para mim como o filtro solar está para o pedro bial. assim que, se eu puder te dar só um conselho nesta vida é: assista crazy ex-girlfriend. (tem na netflix)
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júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor do livro cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponível em e-book pela amazon.