o brasil do brasil
#110: causos que parecem mentira, mas aconteceram de fato, na acidentada história do país outrora chamado pindorama
olá vocês!
ontem foi o aniversário do brasil. 524 anos, uma criança em idade de países. isto se aceitamos somente a certidão de nascimento do mini querido, isto é, o conto de que o jovem foi descoberto ao acaso, numa ida dos portugueses ao supermercado para comprar tempero. mas na verdade o território já era povoado e milhares de pessoas viviam tranquilas aqui, bem antes do pentelho do cabral estacionar as caravelas em porto seguro.
ainda assim, o jovenzinho tem uma história pra lá de acidentada, e que ás vezes não é muito bem contada, verdade seja dita. e um período colônia, outro império, mais república, ditadura militar, democracia, cinco copas do mundo e 397 ex-bbbs depois, estou aqui para contar alguns dos fatos mais inacreditáveis da história do país. vem comigo!
quem vê o brasil no mapa, não imagina que ele é ainda maior do que parece. isto porque para passar as imagens do globo para o papel ocorrem algumas distorções. o brasil é tão grande, mas tão grande, que se você estiver na parte mais a leste, na paraíba, vai estar mais perto de treze países da áfrica que do ponto mais a oeste, no acre. e se estiver no ponto mais alto do país, no monte caburaí, em rondônia, vai estar mais perto de todos os países da américa, incluindo estados unidos e canadá, que do ponto mais ao sul, que é o arroio chuí no rio grande do sul. e este país tem ainda mais enredo que tamanho, tem muita história e aqui eu vou lembrar algumas.
que o nome do nosso país vem do pau-brasil todo mundo já sabe. mas a palavra brasileiro, de onde vem? porque não somos chamados de brasileses ou brasilianos?segundo o filólogo silveira bueno, no tempo colonial, o termo era um adjetivo que indicava profissão: extrator de pau-brasil. eram homens criminosos, banidos para para cá por portugal; a palavra tinha significado pejorativo e por isto ninguém queria chamar-se brasileiro. foi o frei franciscano vicente do salvador que teve a coragem de usar brasileiro não como uma profissão, mas como nascido no brasil. ou seja, brasileiro pega no trampo desde a fundação, um povo clt por natureza.
por falar em clt, vamos falar de getulio vargas. o presidente gaúcho é aquela figura que você passa todos os anos escolares sem decidir se é pra gostar ou para odiar. mas não se pode negar que ele mandou bem em criar leis que regularizam o trabalho, como a carteira assinada, férias remuneradas e liberdade sindical. a norma foi assinada em 1º de maio de 1943 e o curioso é que getúlio mandou confeccionar uma carteira com o número 000001, a fim de se auto-intitular como primeiro trabalhador do brasil. e oficialmente o primeiro trabalhador do país se suicidou no exercício da sua função.
se a gente for falar de presidentes, temos que falar do primeiro - e único - presidente negro que o brasil já teve, em 1909, um século antes de obama. o mandato de nilo peçanha durou pouco, já que era vice e assumiu quando o presidente afonso pena morreu. mas nilo deixou um legado na criação do serviço de proteção aos povos indígenas e o estabelecimento do ministério da agricultura, indústria e comércio. pouco se fala sobre sua cor e muito se deve ao fato de pinturas e retratos da época tentarem “embranquecer” ele, como aconteceu com machado de assis e mário de andrade.
por falar em pinturas que não correspondem à realidade, o quadro da independência do brasil pintado por pedro américo, é na verdade uma enorme fanfic. em 200 anos, houve tanta romantização que poucos conhecem os fatos da tarde de 7 de setembro de 1822, quando d. pedro I proclamou “independência ou morte” perto do riacho do ipiranga, em são paulo. aos 24 anos, o príncipe regente não estava num cavalo usando traje nobre. montava uma mula, com roupas de tropeiro, e lutava contra uma terrível caganeira.
a bem da verdade o brado entrou para a história, mas naquele dia o brasil já era independente e graças a uma mulher. casada com d. pedro, maria leopoldina foi a primeira mulher a governar o brasil, embora por poucos dias. durante a viagem do marido a são paulo, a princesa permaneceu no palácio como regente do país. nessa condição, no dia 2 – e não no dia 7 - de setembro, ela – e não d. pedro – assinou o decreto da independência.
a história da imperatriz leopoldina é das mais interessantes e daria um samba enredo da sua escola xará. nascida na áustria em 1797 ela foi contemporânea de goethe, a quem admirava muito. como parte de sua educação, aprendeu aprendeu três idiomas: alemão, francês e italiano, e, ao longo de sua vida, estudou inglês e português. este último quando soube que teria um casamento arranjado com um príncipe português em situação de brasil.
já no brasil ela ficou conhecida por seu interesse em ciência e cultura e promoveu o desenvolvimento artístico e científico do país. apesar de sua importância histórica, sua vida foi marcada por tragédias pessoais, incluindo a infidelidade de dom pedro I (que era um traste) e sua própria morte precoce em 1826, aos 29 anos de idade. ainda assim, seu legado perdura como uma figura significativa na história do brasil.
outra mulher cuja história sempre me fascinou foi maria quitéria, a primeira mulher a sentar praça no exército brasileiro. nascida em 1792, ela foi uma figura marcante na história brasileira por sua participação na luta pela independência do país. quitéria desafiou as normas sociais ao se alistar disfarçada de homem, utilizando o nome de soldado medeiros. sob essa identidade, ela combateu bravamente nas tropas lideradas por seu irmão durante a guerra da independência, destacando-se pela coragem e habilidade militar.
após a guerra, maria quitéria foi reconhecida por sua bravura e recebeu honras militares, sendo também condecorada e homenageada como símbolo de coragem e patriotismo. e muito tempo depois virou um ícone feminista, assim como nísia floresta. nascida em 1810, no rio grande do norte, nísia foi uma mulher fora do comum: educadora, escritora e abolicionista, foi pioneira na defesa dos direitos das mulheres e na promoção da educação feminina no brasil do século 19.
até aqui chegamos porque sinto que se deixar, eu falo por horas sobre a história do brasil. isso porque não citei a família real portuguesa, que não era muito afeita à higiene, a semana de arte moderna de 1922, a loucura que foi a eleição de 1989, a política do café com leite e figuras interessantíssimas como antônio conselheiro, chatô, madame satã, xica da silva e beatriz do brás. é o brasil do brasil.
júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor dos livros a torto e a direito e cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponíveis em e-book na amazon.
Esqueci de comentar sobre o Nilo Peçanha: ele era de Campos, onde eu morei na adolescência. O prédio onde funciona a Câmara Municipal da cidade se chama Palácio Nilo Peçanha. Tem também um colégio público muito conhecido aqui em Niterói, o Liceu Nilo Peçanha, que fica no centro da cidade e tem uma lista de ex-alunos notórios.
Nilo foi governador do Rio (ou "presidente do estado", como se dizia então) duas vezes, no tempo em que o estado do Rio não incluía a cidade do Rio, que era Distrito Federal. Aliás, a cidade de Nilópolis, na Baixada, foi batizada em sua homenagem.
Por favor, essa newsletter tem que ter parte 2, parte 3, queremos mais! Vou guarda-la pra ler pros meus filhos quando chegar a hora de eles estudarem história, porque, com seu texto, fica muito mais divertido.