não quero choro nem vela
#70: o podcast da fernanda torres, a coleção vaga-lume, fito paez, ryiuchi sakamoto e a playlist da minha morte
olá vocês!
ryuichi sakamoto foi um músico multifacetado. nascido em tokio, ele ficou famoso por fazer parte da primeira banda eletrônica no japão. e também por trilhas sonoras de filmes que você deve ter visto. o morro dos ventos uivantes, tacones lejanos, o pequeno buda, o regresso, entre tantos outros. por o último imperador, de 1987, ele ganhou um oscar de melhor trilha sonora. também colaborou com músicos de toda parte, como brian wilson, iggy pop, david bowie, david byrne, caetano veloso e marisa monte.
sua vida foi marcada por grandes encontros e muitos sucessos, mas não é por isto que eu começo esta newsletter falando de ryuichi. mas porque na semana passada, dois meses depois de sua morte, sua equipe realizou um de seus últimos desejos e compartilhou uma playlist com as músicas que ele queria que tocasse em seu funeral. ele preparou com cuidado uma lista de músicas que ele considerava ideais para “serem reproduzidas durante seu funeral e acompanhar assim a dor de sua despedida.” são músicas instrumentais melancólicas, algumas um pouco mais alegres, mas um tanto formais, eu diria.
esta notícia, mais outra razão que eu descrevo logo mais abaixo me fizeram pensar no que eu escolheria se, hipoteticamente, eu fizesse uma playlist da minha morte. neste número também tem fernanda torres e uma lista de podcasts imperdíveis. vem comigo!
quando eu virar charge com asinha
se você pudesse agorinha mesmo almoçar com qualquer celebridade, viva ou morta, quem seria? minha lista é vasta, mas acho que assim de pronto, eu responderia fernanda torres. eu amo tanto essa mulher, ela tem essa maneira de te fazer morrer de rir mesmo quando parece estar de muito mal humor. fora que, pelo amor de deus, que talento ela tem, não é mesmo?
a mulher joga nas 10 e ainda defende no gol. é filme nacional maravilhoso, é o melhor monólogo que já vi no teatro , é clipe dos paralamas, é série de humor da globo, é livro delicioso de ler, é a melhor história do programa do porchat, é aquele mico antológico no altas horas, é um sem fim de entrevistas hilárias. pelo último censo, devem existir umas 42 fernandas torres para dar conta de tudo.
e eu consumo absolutamente tudo que fernandinha produz. e como é que eu não sabia que ela tem um podcast de entrevista? ninguém pra me avisar, olha sinceramente, vocês, não sei não. pois bem, o podcast em questão se chama a playlist da minha vida e é exclusivo do deezer. e tem um formato maravilhoso: a conversa é guiada por uma lista de músicas que até tocam uns trechinhos no meio do programa.
cada episódio tem um convidado que fornece ao programa uma lista com as 12 músicas de sua vida. e então fernanda, ou nanda, como chamam os convidados mais íntimos, vai conversando com eles sobre cada canção, e eles vão falando sobre os momentos-chave em que elas estiveram presentes. é uma fórmula simples, mas deságua numa coisa tão profunda que eu amei demais.
e é muito bom ver como é o gosto musical de pessoas famosas, como dráuzio varella, pabllo vittar, marisa monte e gilberto gil. porque no final parece que todo mundo mora em referências muito próximas. sempre um tim maia, uma rita lee, uma dos beatles. meu episódio favorito é o do neurocientista sidarta ribeiro, que vai falando de ciência, de memória, de sonhos, para falar de cada escolha. e é o que tem mais músicas que eu colocaria em minha própria playlist, se eu pudesse escolher apenas 12 para serem as mais representativas da minha vida.
mas o que eu gosto mais mesmo é que no final, fernanda pergunta a cada um dos convidados: “que música tocaria no seu velório?”. é muito engraçado ter que pensar em uma coisa assim. imagina, um ambiente tão solene e sério, tão dramático (às vezes até demais), e alguém resolve tocar um pagodão? se bem que eu prefiro assim que uma coisa triste, silenciosa, lamurienta. nunca fui assim na vida, não é na morte que eu vou começar a ser.
mas se tem uma coisa que eu não gosto é de pergunta sem resposta, ainda mais se é algo que eu mesmo posso responder. então aqui deixo algumas sugestões porque é algo que eu não tenho absolutamente nenhum controle. por favor, façam deste texto um testamento, não que eu vá morrer algum dia, mas sabe como é, a vida às vezes contraria a vontade da gente. abaixo, quatro músicas que certamente tocariam no meu velório:
total eclipse of the heart (bonnie tyler) - se vocês quiserem ter certeza absoluta, sem sombra de dúvidas que eu morri mesmo é só colocar esta música e começar a cantar junto. em nenhum momento da minha vida eu não cantei junto, alto e sentindo. porque tem música que você não canta, você vive ela. então, se eu não levantar do caixão pra responder cada “turn around”, é porque eu virei charge com asinha mesmo. por favor, toquem e cantem essa primeiro.
madagascar olodum (banda reflexus) - sim, é a música mais anti-funeral que existe. mas é uma das músicas mais júnior bueno que existem. a letra não faz o menor sentido, daquelas que você leva anos pra aprender e lá na frente descobre que sempre cantou errado um trecho. quero ver todos os meus amigos com uma colinha na mão pra dar conta de todos os 836 versos contando a história de madagascar desde o povo de merinas até chegar no pelourinho. e não se esqueçam, é pra cantar gritando a parte do “aiê, eu sou o arco-íris de madagascar”.
solo se vive una vez (azúcar moreno) - descobri essa música na primeira viagem que fiz pra fora em 2012 para buenos aires. o que eu menos queria fazer nessa viagem era dormir, eu queria viver 24 horas esta cidade e quando tocou essa numa festa a fantasia improvisada de um amigo que tínhamos feito uns dias antes, rapidamente virou o tema daquela viagem. é praticamente meu lema de vida. comprar algo muito caro no cartão? claro, só se vive uma vez. ficar numa roda de samba até o dia seguinte? por que não? só se vive uma vez. acho que só se morre uma vez também né? então, dale marcha al corazón ¡qué caramba!
coconut (harry nilson) - essa tem um pedido bem específico. há uns 15 anos ou mais, meu grupo amado de amigos éramos jovens bruxos, meio esotéricos, estudando paganismo. a gente era feliz (e sabia), e um dos nossos filmes preferidos era da magia à sedução. no filme, há um momento em que fazem as “margaritas da meia-noite” e dançam essa música em volta de uma mesa. uma vez, no meu aniversário ganhei uma garrafa de tequila e passamos a noite dançando felizes na sala, ao som de “put the lime in the coconut, you drink 'em bot' together, put the lime in the coconut and you feel better”. pois bem. quando eu morrer, não quero choro nem vela, quero shots de tequila e gente dançando ridiculamente em volta do caixão.
e você, que música tocaria no seu velório? conta aqui pra gente.
links, links, links!
o texto absurdo de lindo do
sobre a avó foi o motivo de lágrimas sentidas aqui. célia, a avó, teve uma vida gloriosamente simples e um jeito sempre especial de lidar com os revezes da vida. é impossível não se emocionar com as histórias que ele conta. corre lá pra ler:eu nunca pensei que uma versão do pato fu pra uma música italiana do sergio endrigo seria tão perfeita até ouvir eu que amo só você. a coisa mais fofa que você vai ouvir hoje.
estou vendo a série el amor después del amor, da netflix e tenho gostado muito. é a história romanceada da vida de fito paez, músico argentino expoente do rock dos anos 80, que colaborou com outros gigantes de sua geração e também fez uma grande carreira solo. pretendo falar sobre o rock argentino aqui algum dia. por agora deixo aqui o álbum que dá nome à série e que é muito, muito bom:
TOP 10
melhores livros da coleção vaga-lume
quando estava preparando esta edição sobre música e morte eu automaticamente pensei em um cadáver ouve rádio, título de um livro de marcos rey para a amada e saudosa coleção vaga-lume. quem lembra da série de livros que iniciou várias gerações no prazer da leitura? escritos por autores diversos, os livros tratavam de temas variados e eram escritos segundo a supervisão de pedagogos e professores.
havia também uns medalhões da literatura, como o feijão e o sonho, de orígenes lessa e éramos seis, de maria josé dupré (<3). mas tenho a impressão que os mais populares e os que ficaram pra sempre na memória foram os de crime e mistério, como o já citado um cadáver ouve rádio. gente, como eram bons esses livros. eu amava a sensação de estar dentro da história, de não conseguir parar de ler e de preencher aquela ficha de leitura que vinha no fim do livro. e do mascote da coleção, um vaga-lume hippie que fazia um resumo do livro na contracapa.
minha amiga jéssica chiarelli já escreveu sobre a história da coleção aqui, num texto para a revista bula. segundo ela, a vaga-lume foi lançada pela editora ática em 1973. e possui mais de 100 títulos em seu catálogo. em seu texto ela faz uma lista com os 10 livros mais citados pelos leitores da revista numa enquete online. e claro que eu vou fazer aqui meu próprio top 10, entre os livros que li da coleção:
o escaravelho do diabo - lúcia machado de almeida
um cadáver ouve rádio - marcos rey
deus me livre - luiz puntel
éramos seis - maria josé dupré
os barcos de papel - josé maviael monteiro
o mistério do cinco estrelas - marcos rey
o caso da borboleta atíria - lúcia machado de almeida
menino de asas - homero homem
a turma da rua 15 - marçal aquino
meninos sem pátria - josé luiz puntel
hey, chegou até aqui? pois se gostou ao ponto de ler até o fim, que tal apoiar essa publicação autoral, independente, sem recurso e sem assinaturas? é só chamar na dm . qualquer quantia é bem-vinda, é só pensar quanto você investiria numa assinatura de um conteúdo que você curte. outra forma bacana de ajudar é compartilhar com quem você acha que gostaria de ler meu conteúdo. desde já muito obrigado!
júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor do livro cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponível em e-book na amazon.
Eu adoro essa News! Meus episódios favoritos da “Playlist da minha vida” são o do Sidarta e o do D2. E sim, minha música de velório também é Total Eclipse of the Heart, “And I need you now tonight...” Ahahahah