minha playlist é um self-service
#8: de rolling stones a barões da pisadinha, de madonna a marilia mendonça, cabe tudo no meu prato.
oi, gente linda!
você piscou e eu cheguei no seu e-mail pra alegrar sua quarta-feira de cinzas. e tô aqui pra falar de um tema muito recorrente neste espaço, que é música.
eu não sei como é possível que, mesmo sendo a pessoa menos musical do mundo eu sou tão movido à música. é um assunto que eu posso conversar por horas a fio.
e nesse número eu venho com um texto que eu comecei a escrever sem muita pretensão e, quando vi, tava enorme. desculpa o textão. em seguida, tem cinco recomendações de coisas que - eu acho - vocês vão gostar. vem comigo!
RADINHO
se música fosse comida
se música fosse comida, as bandas de brega nordestino seriam os salgadinhos de milho. Sabe aqueles amarelinhos, feitos de isopor e com aroma artificial de peido de queijo? não, não estou falando dos cheetos, nem dos seus primos pobres, o miliopã e o skinny. seria mais como aqueles da feira, que vêm naquele sacão imenso, vendidos a três reais o litro. então, barões da pisadinha, calcinha preta, aviões do forró, etc, seriam esses salgadinhos: baratos. não acrescentam em nada na nossa vida, mas quem consegue resistir?
tomando esse parâmetro, as bandas de rock clássicas seriam bons sanduíches: beatles seria um big mac, gostoso, popular, agrada a maioria. rolling stones seriam um hambúrguer duplo do joint (minha hamburgueria preferida de todos os tempos): o suprassumo em matéria de sanduíche.
o nirvana estaria mais pra um misto quente bem feito, vai bem em qualquer momento. guns n’ roses, um cheese salada e as bandas de heavy metal um podrão daqueles poderosos e cheios de gordura: só os fortes encaram. bandas de rock brasileiro são como os sanduíches do subway, dependendo da combinação de ingredientes o resultado pode ser muito bom ou bem desastroso.
a música popular brasileira é como um bom prato feito, nutritivo, saboroso, agradável. villa lobos é o arroz; cartola é o feijão; luiz gonzaga, baião de dois. jackson do pandeiro é a farofa; a mpb dos anos 70 é o picadinho de carne; a tropicália é a banana frita; clube da esquina, tutu à mineira; a bossa nova é a salada.
Essa nova mpb também é um pf, só que nesse caso, o arroz é integral, o feijão é um viradinho gourmet, a carne é seitan, a salada é orgânica e a batata frita é servida em uma porção ridiculamente pequena e sem sal. tem seu sabor, mas ainda falta aquela sustança, sabe?
a música sertaneja é como as cachaças. moda de viola tipo pena branca e xavantinho, tonico e tinoco, esse povo, é pinga de engenho, envelhecida num barril de carvalho: forte, gostosa, eterna. as duplas do começo dos anos 90, xitãozinho e chororó, leandro e leonardo, são a clássica 51e 29: ainda é cachaça, mas tem umas misturinhas no meio.
o sertanejo universitário é pinga sem procedência, se consumida em excesso, deixa uma dor de cabeça dos infernos. beba com moderação. marília mendonça é o corote, melhor companhia na hora da sofrência não há. paula fernandes é um licor de ovos, doce demais, cafona demais, ruim demais. mas tem quem goste.
o funk é como um churrasquinho de gato: de vez em quando tentam empurrar pra gente um filezinho mais elaborado, mas a gente gosta mesmo é daqueles de procedência duvidosa, com retalho de carne de segunda, muita pimenta, molho e farinha. delícia! o pop br é churrascaria rodízio: anita é filé mignon; luisa sonza é bife de contra-filé; pablo vittar, coxão duro; duda beat, carne de sol; anavitória, carne de soja.
o pagode é uma feijoada completa e o zeca pagodinho é a cerveja, não poderia ser diferente. o axé da bahia cabe todo num acarajé: margareth menezes é o bolinho de feijão; daniela mercury, o dendê; carlinhos brown, o camarão; a timbalada é o vatapá e o olodum é o caruru; ivete sangalo é aquele tomatinho maroto que vai por cima e o é o tchan é a pimenta. a cláudia leitte neste caso é o catchup, podemos dispensar.
o pop americano é como uma caixa de chocolates. madonna é um sonho de valsa, clássica, imitada, agrada quase todo mundo. beyoncé, um chocolate amargo, 70% cacau, pura energia. rihanna é um diamante negro (sacou?). adele, um ouro branco. britney spears é um laka, nem é chocolate de verdade, mas a gente ama. amy winehouse é um bombom de rum. lady gaga é um ferrero rocher, a embalagem sugere algo mais fino e original, mas é chocolate igualzinho aos outros.
lana del rey é um kit kat, chocolate de hipster. nicky minaj é um bombom do fofão, um chocolate genérico, mas alegrinho. neste cenário, cardi b é aquele neugebauer que a gente compra no terminal de ônibus. j-lo e shakira, chocolate com pimenta. mariah carey é um prestígio, muita gente gosta, eu nem tanto. cristina aguilera é aquele bombom de figo que sempre sobra na caixa. billie elish é chocolate com hortelã, tipo ame ou odeie. miley cirus, katy perry, taylor swift, ke$ha, demi lovato, justin bieber e selena gomes cabem todos num saquinho de m&ms: apesar de cores diferentes, todos têm o mesmo gosto.
de abba ao daft punk, o som que rola na balada, os bons drinks. black eyed peas, bruno mars por exemplo são refrigerantes, ninguém vai pra noite por eles, mas na falta de algo melhor, serve. o reggaeton é uma batida de fruta tropical daquelas de barraca de praia, uma delícia, bem doces, mas é melhor não ver de perto como é feita, porque tem de tudo na mistura. salsa e ritmos caribeños? cuba libre, por supuesto.
justin timberlake, ed sheeran, maroon five são uma garrafa de soda de três litros, perdem o gás em pouco tempo. pet shop boys são energéticos. village people é uma piña colada com um guarda chuva no topo. elton john é um dry martini de cereja. o mika é um cosmopolitan, gostosinho, moderno e muito gay. já a música eletrônica é chá… de cogumelo.
as cantoras brasileiras, bolachas de diferentes sabores. de maria bethânia, biscoito fino à ana carolina, bolacha mabel, tem pra todos os gostos. roupa nova seria o estrogonofe: tem quem ache chique, tem quem ache cafona, mas todo mundo aprecia, mesmo que escondido. caymmi é água de coco, ideal pra relaxar na beira do mar. vinicius é o velho e bom uisquinho, o cachorro engarrafado.
roberto e erasmo são coca-cola e limão. elis e tom, queijo com goiabada. chiclete com banana é… bem, nesse caso é chiclete com banana mesmo, né? djavan é pêssego em calda (ótimo na hora do sexo – dizem), fafá de belém é pato no tucupi, rita ribeiro é pipoca de santo, rita lee é um milkshake. ney matogrosso, zé ramalho, caetano, gal e gil são vinho dos bons: só melhoram com o tempo. elza soares é café forte, necessário todos os dias.
dizem que somos o que comemos, pode ser, mas somos muito mais o que ouvimos. uma dieta é capaz de te deixar mais enxuto, enfiar o pé na jaca deixa sempre aqueles quilinhos de lembrança e ficar sem comer pode trazer danos sérios pra saúde. mas uma vida sem música deixa nossa alma mais raquítica, nosso coração mais abatido e nossa vida mais triste.
vai um salgadinho aí?
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o guilherme araujo é entusiasta das expressões latinoamericanas, literatura, música, etc. pra te lembrar que você faz parte de um continente vasto e rico de cultura, assine a newsletter dele, malasartes.
e já que o assunto é newsletter, a jovem autora lethycia dias compartilha seu processo criativo e um pouco do dia a dia em uma mulher que escreve.
a genial aline valek além de livros ótimos tem o delicioso podcast bobagens imperdiveis e em um dos episodios mais recentes ela investiga um tema intrigante: como gozam as sereias?
e pra quem gosta de perfil bonito no insta, o vinicius pontes tem um projeto em que recomenda bons livros e faz paralelos entre eles e fotografias em preto e branco: @leituraspeb.
por fim, esse texto da natalia loiola, um alivio de beleza em tempos de guerra: acredito nos seres humanos e geralmente estou errada.
bem, por hoje é só, até a próxima!
júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor do livro cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponível em e-book pela amazon.
isso tá muito muito bom, tô encantada