leonardo da vinci, nunca nem ouvi falar
#30 desde sexta-feira, só um renascimento importa na história da humanidade e é o da beyoncé
bom dia, boa tarde ou boa noite, seja lá a que hora você esteja lendo isso.
houve um tempo, entre 2014 e 2017 que eu ganhava a vida da maneira que eu sempre quis, escrevendo no caderno 2 de um grande jornal.
(ganhava a vida é força de expressão, tava mais para ganhava mal e atrasado. enfim)
mas voltando, eu amava escrever para a sessão de cultura. acho que é onde mais me realizei como jornalista. claro que nem sempre era tãããão life-changing assim. num dia você tá entrevistando a eva wilma e no outro tá lutando pra forçar uma perspectiva não misógina numa pauta sobre como se vestir pra não ir baranga para a academia. mas era tudo pra mim, entrevistar artistas que admiro e depois ir a assistí-los no teatro ou em shows. escrever sobre livros, filmes, TV e discos.
a gente, sei lá porque, continuava chamando de discos os cds que recebíamos (e logos os álbuns e eps que chegavam por links de e-mail) porque se tem uma coisa quase tão antiga e em desuso quanto ler jornal, é a alegria de ser arrebatado por um lançamento de um bolachão.
na última sexta beyóncé lançou o delicioso álbum renaissance, que eu não parei de ouvir desde então. e me lembrei onde estava quando saiu o formation, de 2016. me lembro que fiquei tão impactado por tudo aquilo, que tive que escrever sobre. o título da matéria era “destruidora mesmo”. e agora eu estou aqui, porque deu vontade de escrever de novo sobre um disco da bey e vai ser aqui, no meu caderno dois que eu vou elencar faixa a faixa e dar minha impressão.
vem comigo.
FAIXA A FAIXA
beyoncé, mulher, tem criança ouvindo!
renaissance deveria se chamar sou bonita pra caramba!; ou sou gostosa demais pra chorar por homem; ou amiga, segura minha bebida que eu vou lá na pista mostrar pra essas básicas como é que se faz. e qualquer um desses estaría 100% correto. mas ela optou por renaissance, o que nos assegura que no futuro vamos ter que especificar quando nos referirmos ao período artístico que rolou na europa no século 15. quem é leonardo da vinci na fila do after, não é mesmo?
abaixo, o que achei de cada música:
i’m that girl - a princípio é difícil se acostumar com a repetição das palavras please, motherfuckers ain't stop, mas passado o susto inicial é maravilhoso de escutar. se em single ladies, ela cantava que não é esse tipo de garota, agora beyoncé sabe bem que é exatamente ***este*** tipo de mulher, o que é muito mais divertido.
cozy - se o disco é todo dançante, essa é a música com o maior potencial de ficar anos nas pistas, vai ser um clássico como crazy in love. e, claro, aguardem fotos nas redes com a legenda “might I suggest you don't fuck with my sis”.
alien superstar - “sou boa demais pra esse planeta”. qualquer uma cantando isso soaria arrogante, mas beyoncé pode. simples assim.
cuff it - essa música exala giovana baby. se fosse uma peça de roupa, cuff it seria um top prata de alcinha, bem costas nuas, sabe? ou uma sandália de acrílico, um brincão de argola… bem, vocês entenderam o clima.
energy - aquela energia de quarentona que nunca sai na noite, mas quando resolve sair é pra fazer um estrago. dançar, flertar, tomar todas e umas droguinhas. me senti representado.
break my soul - “escuta aqui, cara, você não vai romper a minha alma”. músicas de foda-se são meu gênero favorito. não a toa viralizaram no tiktok vídeos de pessoas deixando empregos miseráveis ao som de break my soul.
church girl - a letra é para garotas crentes que adorariam fazer loucurinhas de vez em quando, mas temem um castigo divino, depois de toda uma vida assombradas por dogmas. só quem cresceu na igreja sabe. pois beyoncé vem para dizer que deus não liga muito para o que você faz da sua vida, contanto que você seja uma pessoa boa.
plastic off the sofa - balada safadinha sobre um boy que ela quer pegar, então fica ali, escutando ele desabafar, mas sem perder o foco. “eu sei que você cortou um dobrado pra sobreviver, mas sabe que eu acho isso muito sexy?”. o título, não citado em parte nenhuma da música é bem direto: quero sentar em você, mas sem capa. beyoncé, mulher, tem criança ouvindo!
virgo’s groove - eu amo quando alguém promete um groove e entrega. puta vozeirão, melodia irresistível e bey bem apaixonada na letra. não tem como ser melhor que isso. meio que é a minha preferida.
move - grace fucking jones. uma diva negra do tempo em que a palavra diva realmente queria dizer alguma coisa. esse é talvez a melhor música do album e muito se deve à mistura do atemporal (grace), do imbatível (bey) e do promissor (tems). três gerações celebrando a música dançante. que coisa linda bicho.
heated - é um tema dançante bem gostoso de ouvir. mas não é a mais emblemática desse disco, e fica logo perdida depois da paulada que é move. tá longe de ser ruim, mas é a menos incrível.
thique - essa é a mais louquinha do disco. todo o climão de que não sei mais o que tô fazendo, daqui em diante é meu corpo que manda. ótima pra ouvir faxinando a casa.
all up in your mind - música pra fazer amor sentindo, sabe? olhando no olho, sem pressa pra acabar. é a mais transante do disco todo.
america has a problem - primeiro, que gravão, minha senhora, benza deus. segundo, a temática de quase todo o álbum, “cara, olha pra mim, eu sou gostosa pra caramba”. quem dera os problemas dos outros países fosses como este.
pure/honey - essa é pra performar sem medo, na pista ou na sala de casa. tô doida pra ver se tem coreô, sabe, na parte da “bad bitches to the left, money bitches to the right. you can be both, meet in the middle, dance all night”. ou em livre tradução: “as safada pra direita, as mercenária pra esquerda e quem joga nos dois times, fica aqui no meio”.
summer renaissance - essa é pras emocionadas que beijou o boy na balada e no caminho de casa já tá stalkeando até a prima de segundo grau do bofe. imaginando o nome dos filhos e fazendo combinação de signos no primeiro dia. quem nunca, né? destaque para “you sexy motherfuck (boy, you growin' on me)”. que mulher perspicaz!
TOP 10
cantoras negras de outras gerações para jamais esquecer
billie hollyday
nina simone
clementina de jesus
aretha franklin
donna summer
cesárea evora
tina turner
grace jones
elza soares
whitney houston
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júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor do livro cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponível em e-book na amazon.