fofocas literárias
#65: o dia em que o fernando pessoa tava louco dos signos e deu um perdido na cecília meirelles & outras tretas
olá vocês!
antes de tudo, quero começar dizendo que alguns dos meus textos foram indicados em newsletters de gente que eu admiro muito, o que fez com que muita gente nova chegasse a este espaço. bem vindes! eu fiquei muito feliz com as trocas, comentários e reposts que vieram daí. eu ainda não me acostumei com a ideia de ser lido por pessoas que eu não conheço ou por gente que eu admire. vou fingir costume, mas por dentro eu tô assim:
desde já, muito obrigado pela indicação
e . eu tô gostando muito do senso de comunidade que está sendo criado em torno da escrita. tanta gente tão talentosa compartilhando textos incríveis com idéias tão frescas. pra quem, como eu tava já cansado do ambiente tóxico das redes, o substack realmente pode ser a melhor novidade dos últimos tempos na internet.ainda no tema “comunidade”, o substack agora tem o notes, que eu ainda não tô usando tanto, mas quero passar mais tempo por lá do que passo no twitter, já que o quico da tesla anda fazendo daquele site um inferno. assim, quem quiser se juntar, meu notes é este:
não sei se o termo correto é me segue, me add ou me nota, mas cola lá que a gente descobre junto.
terceiramente, na edição sobre o pedro pascal, há umas semanas, em algum momento eu disse que iria falar também sobre fofocas literárias. o texto acabou ficando bem grande e eu decidi fazer uma edição só para este tema. mas, na pressa de publicar, acabei não removendo do subtítulo a menção a isso. vocês não tão loucos, eu é que tô. pois nesta edição finalmente vamos falar de duas coisas que eu amo: fofoca e literatura.
e pra fechar os anúncios, na edição passada, o top 10 com os versos mais lindos da música brasileira rendeu bastante e alguns de vocês responderam aqui, no chat e no instagram quais eram seus preferidos. então a lista desta edição, pela primeira vez na história das cinco ou seis coisinhas, foi criada com sugestão de vocês e tá linda. muito obrigado e vem comigo!
gabo rainha, vargas llosa nadinha
eu não sabia que gostava tanto de fofoca literária até ver este tweet pedindo para as pessoas contarem alguma. sério, eu fiquei um par de horas ali, lendo todas as tretas envolvendo autores dos meus livros preferidos e decidi me aprofundar no tema, pesquisando alguns mexericos envolvendo autores e suas obras.
para começar, a vez em que cecília meirelles levou um “fora” do fernando pessoa. a escritora estava em terras lusitanas e marcou um encontro com o poeta português em uma cafeteria chamada “a brazileira”. mas ela acabou tomando um chá de cadeira. cecília esperou pessoa por 2 longas horas até que resolveu voltar para o hotel. chegando lá, cecília meireles encontrou um presente do poeta, o livro mensagem, que tinha acabado de ser publicado. com o livro, um bilhete explicando o motivo dele não ter comparecido ao encontro: “li meu horóscopo pela manhã e vi que este não é um bom dia para um encontro.”
hilda hilst teve um affair com vinícius de moraes. ia tudo bem, ela imaginou até que fosse viver juntos. porém, um dia viajavam e pararam num lugar à beira da estrada. pediram carneiro, que era o prato da casa. ao olhar pela janela a escritora viu que havia vários carneirinhos do lado de fora. pediu para irem embora porque não conseguiria comer o pedido. o poeta ficou uma fera, disse impropérios. ela magoada foi embora e acabou ai o caso de amor dos dois. anos depois ela teve um interesse muito forte por carlos drummond de andrade, que até era recíproco e rendeu uma poesia, mas drummond amava demais sua mulher e o caso não foi adiante.
o escritor colombiano gabriel garcía márquez estava de boas num cinema em barcelona, em 1979, quando, do nada, levou um socão do peruano mario vargas llosa. a foto do autor de cem anos de solidão com um olho roxo é famosa. amigos de longa data, eles romperam após esta treta e até hoje ninguém sabe qual foi o motivo do soco. muita gente aposta na cada vez mais gritante diferença ideológica entre eles, gabo era de esquerda e vargas llosa desde aquela época dava sinais que viria a ser o fascista que é hoje.
mas há quem jure juradinho que o que causou o rompimento foi dor de corno. a mulher de llosa, patrícia estava enfurecida com uma traição do marido e foi se aconselhar com o escritor colombiano. e depois deu a entender que eles haviam flertado. nunca saberemos. garcía márquez morreu sem revelar os motivos da agressão e vargas llosa também ativou o arquétipo de esfinge e decidiu dar o assunto como enterrado.
o primeiro acidente de carro da história do brasil aconteceu no rio de janeiro, em 1897. sem vítimas graves, o evento envolveu um automóvel “voando” a espantosos 4 km por hora. até que o motorista se distraiu discutindo com o carona e acabou encalhando numa vala. segundo consta, o veículo ficou inutilizado e acabou no ferro-velho. o dono do automóvel era o abolicionista josé do patrocínio. o motorista, ninguém menos que o poeta olavo bilac.
agora minha editoria preferida de fofoca é quando algum autor ou autora foda critica alguém tão foda quando. sabia que ernest hemingway, o genial autor de o velho e o mar não suportava willian faulkner, um dos maiores autores dos eua? sobre este, hemingway disse certa vez: “pobre faulkner, ele realmente acha que grandes emoções vêm de longas palavras.”
fosse hoje talvez faulkner pudesse responder com um “ah, velho, não fode”, mas ele tava ocupado ofendendo a obra de outro escritor, mark twain: “um escritor mercenário que não conseguia nem ser considerado da quarta divisão na europa.” o autor de tom sawyer não viveu pra ouvir o desaforo, mas em todo caso, destilava veneno em cima de quem? exatamente, de hemingway: “ele nunca sequer pensou em usar uma palavra que pudesse mandar o leitor para um dicionário.”
e se tinha uma dupla que era o demônio na arte do insulto era gore vidal e truman capote. sobre capote, vidal dizia que ele fazia da mentira uma arte. “uma arte menor,” acrescentava. já o desajustado e genial capote respondia com igual ternura: “sempre fico triste quando penso em gore. triste por ele respirar todo dia.” ele não era mesmo flor que se cheirasse. ao opinar sobre on the road, obra prima de jack kerouack ele disparou: “isso não é escrever, é datilografar.” e tem mais: virgínia woolf achava que james joyce escrevendo era como “um colegial repugnante espremendo espinhas”. fofa, não? e nietzschie dizia que dante era “uma hiena que escreveu sua poesia em tumbas”.
mas a honra de ser o maior sacana de todos pertence a nelson rodrigues. o cronista e dramaturgo era grande amigo de otto lara rezende, também escritor. mas era um amigo-da-onça e vivia aprontando das suas. os dois frequentavam um bar no jardim botânico, no rio. dessas bebedeiras, várias histórias saíram, como quando nelson resolveu homenagear o amigo com o título da peça otto lara rezende ou bonitinha, mas ordinária e fazer os personagens citarem o amigo a todo instante.
há uma história hilária que muita gente afirma ser real, embora há quem diga que é folclore, envolvendo nelson e otto no dia do enterro do genial guimarães rosa. os dois saíram do cemitério, se despediram dos demais presentes (pensa na quantidade de escritor ilustre não estava presente lá), e foram beber uma para dar uma espairecida, aliviar o luto.
como de hábito, nelson embriagou o otto e começou a questioná-lo. “otto, o guimarães era um grande escritor mas, você não acha a obra dele provinciana?”, ao que o amigo responde “que isso, nelson, o homem era insuperável, você sabe disso”. e nelson insiste: “não há um provincianismo ali? pense bem, quem não conhece o nordeste brasileiro vai entender o grande sertão: veredas?”. e o otto: “bem, até que olhando por este ponto, você tem certa razão”. no dia seguinte, nelson publica no jornal correio da manhã em letras garrafais, “otto lara rezende afirma: guimarães rosa era provinciano”. com um amigo desses, quem precisa de inimigo, não é?
links, links, links!
se tem uma coisa que a karen do espaço não conseguiu arruinar ainda no twitter são os perfis de acervo. o perfil cinema brasileiro out of context é dedicado a postar trechinhos de filmes brasileiros dos anos 80. é uma delícia ver que tem sempre uma frase icônica do nosso cinema que casa direitinho com qualquer situação. por exemplo toda segunda de manhã, aparece na tl a regina casé em os 7 gatinhos falando “segunda feira de manhã, iiiiihhh, vai começar a mediocridade geral.”
eu maratonei as duas temporadas de o rei da tv, série apócrifa sobre sílvio santos. a série recria de maneira bem freestyle a história do dono do sbt desde a época em que ele era um jovem camelô até passagens bem icônicas da sua carreira, como a guerra pela audiência nos domingos e o sequestro de sua filha. não é um documento fiel de nada, é só entretenimento e como tal, vale o tempo assistindo. a cronologia doida e a produção capenga que recria cenas trash da tv brasileira são a cereja do bolo. vi no star+.
gostei muito do texto “chocolate belga”, da newsletter prato feito.
parte do deslumbre em torno de um chocolate europeu para falar de temas como complexo de vira-lata e colonialismo tanto na mesa, quanto na cultura brasileira. eu gosto quando um texto me pega de surpresa e entrega mais do que prometeu. queria escrever assim.
TOP 10
10 versos lindos da música brasileira (segundo os leitores)
“o tempo não para e no entanto, ele nunca envelhece” - caetano veloso em força estranha
“os homens podem muito pouco, o tempo sempre sabe mais como agir.” - marina lima e antônio cícero em meus irmãos
“porque o samba é a tristeza que balança e a tristeza tem sempre uma esperança que um dia não ser mais triste não.” - baden powell em samba da bênção
“quem traz no corpo essa marca possui a estranha mania de ter fé na vida” milton nascimento e fernando brant em maria, maria
“ando devagar, porque já tive pressa e levo esse sorriso, porque já chorei demais.” almir satter e renato teixieira em tocando em frente
“devia ter arriscado mais e até errado mais” sérgio britto em epitáfio
“passas sem ver teu vigia, catando a poesia, que entornas no chão” chico buarque em as vitrines
“o meu idioma é brasileiro e ninguém entende nada” martinho da vila em salve a mulatada brasileira
“tudo que deus criou pensando em você: fez a via láctea e fez os dinossauros” - djavan em eu te devoro
“cada um no seu cada um, deixa o cada um dos outros”, zeca pagodinho em cada um no seu cada um
hey, chegou até aqui? pois se gostou ao ponto de ler até o fim, que tal apoiar essa publicação autoral, independente, sem recurso e sem assinaturas? é só chamar na dm. qualquer quantia é bem-vinda, é só pensar quanto você investiria numa assinatura de um conteúdo que você curte. outra forma bacana de ajudar é compartilhar com quem você acha que gostaria de ler meu conteúdo. desde já muito obrigado!
júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor do livro cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponível em e-book na amazon.
Amei, amei, amei!!! É de fofoca que elas gostam!!!
que mais e mais gente chegue aqui!
ps: amei as fofocas todas