farândula
#52 - vinícius dizia que uma mulher é feita para amar, para sofrer pelo seu amor e pra ser só perdão". shakira acaba de chutar a bunda dele: "mulheres já não choram, mulheres faturam".
(semana passada essa news completou 1 ano, parabéns pra gente! obrigado a vocês que me acompanham aqui toda semana. escrever aqui é minha coisa preferida da minha vida. de coração, obrigado por cada inscrição, comentário, like e recomendação. amo vcs.)
olá, tudo bem?
nesta semana não se falou de outra coisa aqui em casa, na américa latina, no mundo. só deu a música da shakira escancarando o fim de seu casamento com gerard piqué. sinto que chegamos a um novo patamar de fofocas de celebridades. em vez de ir atrás de versões de um fato e ir montando um mosaico, (uma indireta aqui, um tweet da choquei ali, um story acolá, uma frase numa música…) simplesmente podemos esperar, porque em algum momento alguém vai fazer uma música, ou quiçá um álbum inteiro, explanando tudo pra gente.
de fofoca contada pela metade ninguém morre mais.
claro que música sobre chifre e fim de caso existe desde sempre. de aretha franklin a olivia rodrigo, todo mundo já despejou raiva e tristeza em seus discos. a diferença é que acho que ninguém foi tão longe quanto shakira, que deu nome aos bois e completou as lacunas que faltavam pra fofoca ficar completa. em bom português, ela “hablou” mesmo.
tem quem diga que isso é um grande despeito, que é passar recibo de que ainda gosta do cara. pra mim é apenas uma retomada, uma reapropriação de sua história. piquet a traiu e não fez questão de esconder isso. a shakira, sobrou ver sua vida narrada pela mídia, sem poder controlar o que era dito. então, já que vão falar sobre ela, nada mais justo que ela possa faturar em cima disso.
é a revanche possível para uma artista, transformar tudo isso em arte. claro que a fofoca é muito boa, mas convenhamos que a música não teria chegado a 100 milhões de views em três dias se não fosse tão irresistível. construída com versos cortantes e com um ritmo viciante, é feita a medida pra morar no repeat. esta semana entrei numa lojinha de empanadas e enquanto esperava meu pedido, a música tocou umas três vezes seguidas. e as mocinhas do atendimento cantavam junto.
shakira bzrp music sessions #53 é pop em seu estado mais puro. um hino instantâneo como baby, one more time, single ladies ou bad romance. e é engraçado como a canção sequer tem um nome. pra quem não tá por dentro do pop latino, o music sessions é um projeto de bizarrap, vulgo do do dj e produtor gonzalo conde. em cada edição em seu canal de youtube, ele convida alguém para uma colaboração. o projeto existe há uns 4 anos e é informalmente conhecido como “el biza”.
“ché, viste el biza de residente?”
“que bueno está el biza de quevedo”
voltando ao biza de shakira, o que eu mais gostei, muito mais que os memes e a fofoca, é que não há metáforas. eu cresci ouvindo ela cantar “despegaste del cemento mis zapatos para escapar los dos, volando un rato”. agora ela é reta e direta: “você faz pose de campeão, mas é um frouxo e meio burro também, imagina sair com uma ninfeta e achar que eu não ia descobrir, e nem vamos falar no tanto de dinheiro que você deve e pra ser bem sincera, ainda bem que você não estava nesse mundial porque você jogando bola é tão sem graça e olha que eu já namorei o de la rua, de coisa sem graça eu entendo e, por fim, o messi já deu mais alegria à espanha que você, e nem espanhol ele é, olha pra mim, garoto, me trair tudo bem, mas comer a minha geleia, aí já é demais”.
óbvio que tem um tanto de macho dando chilique porque ela tá ousando expor um homem infiel e faturando com isso. mas vamo ser sincero, a história da música é feita por homens que cantam desilusões amorosas, traições, vinganças e nenhum é chamado de rancoroso ou amargo por isso. o que incomoda é que uma mulher decida ir à forra e não deixar barato.
no século passado o poeta vinícius de moraes escreveu um dos versos mais misóginos já criados: “uma mulher tem que ter qualquer coisa além de beleza, qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora, qualquer coisa que sente saudade. um molejo de amor machucado, uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher, feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor e pra ser só perdão”. shakira rasgou toda a cartilha do vinícius de moraes só com a frase “as mulheres já não choram, as mulheres faturam”.
vipão e vipinho
há uma palavra incrível em espanhol para o mundo dos espetáculos e celebridades: farándula. é uma das minhas palavras preferidas porque, além da sonoridade deliciosa, em português, farândula significa tanto uma companhia de teatro farsesca, mambembe, circense quanto uma reunião bagunçada de pessoas. uma palhaçada, por assim dizer. e é isso que o mundo das celebridades representa para mim, algo que não deve e não precisa ser levado à sério.
o trabalho de uma pessoa, uma obra de arte, seus livros e idéias podem permanecer no tempo. já os detalhes de sua vida privada são fugazes. e quem é famoso vai ter sua vida contada assim, em frames, recortes, abas. e absolutamente tudo está exposto ao escrutínio público. a diferença é que não há mais uma linha que separa um famoso classe a de um “famoso quem”.
nos anos 90, um “porchat versus gkay” seria impensável. imagina o chico anísio tretando com sei lá quem seria a gkay dos anos 90. (o david brazil? a alicinha cavalcanti? a fogueteira do maracanã?) basta ver o camarote deste último bbb: pessoas que podem ser desconhecidas da grande massa, mas ainda assim famosas o bastante pra serem chamadas de celebridades. eu não sei quem são márvila, key alves, domitila não sei das quantas ou antônio cara de sapato. mas muita gente sabe, segue e constrói uma comunidade em torno de suas vidas (nas redes) e suas obras, quaisquer que sejam essas obras.
hoje o vipão e o vipinho frequentam o mesmo ambiente e não é meia dúzia de colunista que define quem é famoso e quem não é. são os números nas redes sociais. eu ainda estranho muito a cultura do influenciador. acho ok que paguem alguém para mostrar produtos aos seus seguidores, chamem para eventos e cubram este indivíduo de mimos. o influenciador sabe se conectar com as pessoas e o talento de agregar gente em torno da sua vida é algo admirável.
o que eu não entendo mesmo é que o trabalho da pessoa seja mostrar sua vida. que as pessoas passem tanto tempo se atualizando de qualquer coisa que ela faça. e que quando ocorre algum escândalo ela tenha que dar satisfação para as pessoas. que elas saibam com detalhes sobre eventos que só dizem respeito aos envolvidos. nesse ponto eu acho demais.
uma coisa é que tenha acontecido algo à shakira e as pessoas queiram saber porque ela é a shakira, uma grande estrela. outra coisa é você descobrir que existe uma família pôncio apenas porque algo aconteceu com eles. há meses tenho silenciado qualquer palavra relacionada a esta família no twitter porque tudo que eu sabia sobre eles era contra a minha vontade. o mesmo para a influencer da farofa.
mas nenhuma sub celebridade doida por fama e seguidores me irrita tanto quanto o príncipe harry. pra quem havia se afastado da família real pra levar uma vida mais tranquila longe dos holofotes, ele lançou uma biografia com detalhes desagradáveis sobre sua vida. jornais não param de falar sobre os grandes feitos do mancebo, de matar pessoas no afeganistão e usar nas partes íntimas uma pomada cujo cheiro o fazia lembrar da mãe, “como se ela estivesse lá”. desnecessário, pra dizer o mínimo.
existe uma série de celebridades que quanto mais eu sei sobre a sua vida, mais fã eu me torno. messi e a própria shakira são dois exemplos, mas a lista é longa: maísa, paulo vieira, mark ruffalo, sandra bullock. já no caso do príncipe harry e o ex da shakira, o ranço, como diria faustão, é tanto no pessoal quanto no profissional.
LINKS, LINKS, LINKS!
a série reboot, do hulu é uma série de comédia sobre uma série de comédia. é bem engraçada, cheia de referências à indústria do entretenimento e é estrelada por rachel bloom, aka melhor atriz que existe. uma sitcom antiga volta para uma temporada com o elenco original. o tom da série é ditado pelo contraste do tipo de humor e a indústria de celebridade de hoje em relação há 20 anos.
argentina 1985 ganhou o globo de ouro (a copa américa do cinema) de melhor filme estrangeiro e tá com tudo pra ser indicado e ganhar o oscar. será que vamos ver mais um tri da argentina? eles ganharam em 1986 (!) com a história oficial, sobre a ditadura e em 2010, com o segredo de seus olhos, estrelado pelo ricardo darín. pelas dúvidas, este é sobre a ditadura e tem o darín no elenco. se não viu, tá no amazon prime.
sobre o tema de hoje, recomendo a fama é uma ilusão mórbida feita de cera, episódio do podcast bobagens imperdíveis. a sempre ótima aline valek usa o museu de cera madame tussaud como pano de fundo pra contar a história da obsessão pela fama ao longo dos tempos.
o dia em que hebe camargo, montada, recebeu em seu sofá as drags queens mais fervidas da cena de são paulo. suco de anos 90, com uma tv mais naif e mais livre. esse caos e esse glamour da hebe fazem muita falta hoje em dia.
TOP 10
as melhores bzrp music sessions
shakira
residente
nathy peluso
quevedo
nicky nicole
nicky jam
duki
don patricio
ptazeta
villano antillano
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júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor do livro cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponível em e-book na amazon.
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Parabéns pelo 1 aninho! Que venham muitos!!!
Amei esse vídeo da Hebe, que alegria que me deu 💗