eu nasci assim, eu cresci assim...
tudo que você nunca quis saber sobre esta newsletter, mas eu vou te contar mesmo assim
olá, beibes!
muita gente (1 pessoa) perguntou via dm porque meus textos são todos em minúsculas e eu resolvi responder aqui essa e outras perguntas que muitos de vocês (ninguém) me fazem sempre.
por que esta newsletter existe? antes de tudo porque eu preciso escrever. (não como aquelas páginas bregas tipo “precisava escrever”, que compartilha umas poesias bem ruins). preciso escrever porque é meu ofício, porque capaz que é a única coisa que eu sei fazer. note que eu digo “sei fazer” e não “faço bem”, porque não trabalhamos com propaganda enganosa. preciso deste espaço pra dar vazão às bobagens, e às vezes temas sérios mesmo, que dão uma povoada aqui na mente. escrevo aqui também porque é divertido, mas também me dá a disciplina necessária para criar.
por que você escreve tudo em minusculo? primeiro por preguiça, já que não ter nada capitalizado economiza meu tempo de revisar o texto. segundo porque, na minha cabeça, isso meio que seria um estilo de escrita, e eu sempre quis ter um estilo reconhecido, tipo saramago, guimarães rosa, sabe? hahaha, claro, eu estou brincando. a verdade é que eu trabalho escrevendo anuncios para aquele site de letras coloridas que manda em quase toda a internet e como eu ganho a vida criando anuncios Com Todas As Palavras Começando Em Maiúsculo, eu descanso a vista aqui.
por que uma newsletter e não um podcast? porque já tem muito podcast no mundo; porque isso demanda mais infraestrutura que eu disponho no momento; porque eu não ouviria as minhas bobagens enquanto lavo louça; porque eu gosto de e-mail; porque meus amigos odeiam meus áudios de whatsapp; porque apesar de ter uma cara ótima para o rádio, minha voz é melhor em foto. mas principalmente porque o tipo de texto que eu gosto e sei criar é escrito. é meu jeitinho.
a sua newsletter é paga? não. meu compromisso é escrever textos gratuitos então esse mural de bobagens aqui sempre foi e vai continuar tendo acesso livre. mas é claro que isso não impede que, caso queira, você possa colaborar. não tem assinatura, mas a partir desta edição vai contar com um aviso lá embaixo sobre doações etc.
agora vamo com os temas da semana: duas histórias sem nehuma relação entre si só pra mostrar como é meu jeitinho, uma homenagem ao forrest gump da cultura popular brasileira e um apelo à memória emotiva de vocês. vem comigo!
HISTORINHA
é o meu jeitinho
toda vez que eu viajo de avião, eu chego em cima da hora no aeroporto, e então é aquela correria pra fazer check in, identificar local de embarque, portão etc, fora o perrengue de ficar achando que não vai dar tempo durante todo o trajeto até o aeroporto. então há dois meses quando fui de férias ao brasil decidi que dessa vez, seria diferente, nada de deixar tudo pra última hora.
check in online feito no dia anterior, documento de identidade, cartão de vacina, exame de covid, cartão de embarque, autorizações para entrar e sair do país, tudo feito com bastante antecedência. carro contratado pra me levar ao aeroporto de ezeiza três horas antes do embarque e quatro de levantar voo. tudo absolutamente dentro de um cronograma rigoroso. como diria o povo no bbb, a gente não vai errar.
eu estava orgulhoso de mim, minha mala faria marie kondo chorar de emoção. tudo em gritava que eu era enfim, o homem adulto que eu fingia ser até então. fake it until you make it, dizem. eu tava making it pra caralho.
ezeiza fica a uns 35 km de buenos aires, outra cidade, 45 minutos de carro, 1 hora com tráfego ruim. chego no aeroporto e, como adulto que sou, vou conferir o painel de voos e olha, que engraçado, meu voo não tá aqui. uai.
que coisa gente, olha aqui, o horário no cartão. faço um cara-crachá um par de vezes e só então o óbvio grita pra mim: eu tava no aeroporto errado, meu voo saía do aeroparque, a cinco minutos da minha casa.
liguei desesperado pro motorista e a sorte é que ele ainda não tinha saído do aeroporto. e mais uma vez eu saí doido de ansiedade achando que não ia chegar a tempo. cheguei, mas a que custo.
….
eu tenho a mania de conhecer um artista, ficar obcecado, só escutar aquilo por semamas e de repente, nunca mais ouvir na vida. dia desses, do nada eu lembrei que em 2018 eu vi uma camiseta na avellaneda (a 25 de março daqui, ou a 44, se vc for de goiânia) de uma banda que eu nunca tinha ouvido falar. joguei no spotify, ouvi um monte, mas não salvei nem nada.
anos depois eu queria ouvir de novo e cadê que eu lembrava do nome da banda? e de nenhuma música. nenhuma pista. joguei no google “bandas dos anos 2010”, “banda com nome de mulher” (disso eu lembrava), “banda atual com uma pegada meio led zeppelin que pode ter tocado no lollapalooza em buenos aires em 2018 ou 2019, não lembro porque não fui no lolla”.
lembrei até que minha amiga brenda comentou no twitter sobre a banda. fui incomodá-la na dm e ele não sabia do que eu tava falando. enfim, era um caso perdido.
mas fiquei mais dois dias obrigando meu cérebro a reagir e botar um cropped. eu trabalhava, tomava banho, comia, escovaa os dentes, mas no fundo eu só pensava em “como era mesmo, gente, o nome da banda?”
até que, um dia, no meio de uma saliência com o namorado, num momento que demanda concentração, se é que vocês me entendem, e senti surgir primeiro como um lampejo fraquinho, piscando lá no fundo da minha cabeça. depois um pouco mais forte até que não tinha como duvidar. o nome da banda veio numa clareza que eu tive que gritar, no meio da transa: “greta van fleet!”
…
a moral das duas histórias é que eu sou dodói da cabeça e se tem uma coisa que meu cérebro não aceita é não lembrar de algo que eu quero lembrar. agora se eu apenas preciso, um detalhe importante pode passar batido e eu que corra pra reparar o trabalho mal feito da madame.
AJUDA LUCIANO
a lancheira de casinha
ontem eu tava falando com o victor sobre material escolar na minha infância e me lembrei que minha lancheira era uma casinha de plástico amarela, a tampa era o telhado vermelho da casinha e tinha um buraco onde saía a garrafinha que era como se fosse a chaminé.
procurei muito uma foto no google pra mostrar pra ele e não encontrei. alguém aí já viu essa lancheira? alguém tem uma foto pra me mandar? pergunta pros pais de vocês. não é possível que seja uma invenção da minha cabeça.
ps: como era a sua lancheira da escola? comenta aqui embaixo:
GRANDE FIGURA HUMANA
o homem do coquetel
há algumas semanas, quando eu falava de ragatanga, o leitor emmanuel lembrou nos comentários que já existia uma versão brasileira de rapper's delight. se trata de melô do tagarela, o primeiro rap gravado no brasil por ninguém menos que luis carlos miele.
miele é praticamente o forrest gump da musica brasileira de metade do século passado. ele simplesmente estava em todas. foi um showman que, de família de artista, desde criança já dava mostras do seu talento cantando no rádio. nos anos 60, quando a chamada mpb comaçava a estourar, ele dirigia shows no lendário beco das garrafas, ao lado de ronaldo bôscoli.
por suas mãos passaram novos talentos do quilate de elis, simonal, roberto carlos e muitos outros. quando a record (a globo da época), contratou toda essa galera pra tv, lá foram miele e boscoli dirigir diversos programas musicais. entre eles, “alô, dolly”, “um cantor por dez milhões, dez milhões por uma canção” e “fino da bossa”, um dos mais importantes programas da mpb.
ator, dançarino, cantor, miele estava longe de ser um sex symbol, mas tinha seu charme fazendo um humor meio cafajeste e abusando de seus expressivos olhos verdes. era um entertainer nato.
mas para a minha geração ele foi o responsável pelas madrugadas colados na tv de madrugada, quase no mute, pra não acordar os pais. entre 1991 e 1992, ele apresentou cocktail no sbt. uma miscelânea bizarra de game show com streep tease, cada programa terminava com uma série de moças (as garotas tim-tim) desnudando o torso e exibindo os seios.
num cenário ao mesmo tempo muito pobre e glamuroso, moças com maiôs de paetês representando diferentes frutas (sim, já tinha mulher-fruta naquela época) exibiam seus dotes honestos, sem silicone, numa era que, vista de hoje, chega a doer, dado o caldo de machismo. tá no youtube, serve como registro de uma época, tal qual uma pintura rupestre.
pra turma de meninos cheio de hormônios, ver pares de peitos assim no plural, dando sopa na tv era um êxtase. pro miele foi um ponto bem baixo na carreira.
em entrevistas, por muitos anos ele se dizia arrependido de haver apresentado cocktail. o programa de carreira curta rendeu ao apresentador prejuizo e o lastro de promotor de erotismo barato. só nos anos 2000 ele recuperou o prestígio participando de filmes e novelas.
hey, chegou até aqui? pois se gostou ao ponto de ler até o fim, que tal apoiar essa publicação autoral, independente, sem recurso e sem assinaturas? eu ainda não tenho pix, mas você chamar na dm que a gente dá um jeito. qualquer quantia é bem-vinda, é só pensar quanto você investiria numa assinatura de um conteúdo que você curte. outra forma bacana de ajudar é compartilhar com quem você acha que gostaria de ler meu conteúdo. desde já muito obrigado!
júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor do livro cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponível em e-book pela amazon.