vou mostrando como sou
#42: no fundo o que frank sinatra, os novos baianos, a pitty e a tati quebra barraco querem dizer é que o importante é ser você mesmo
hola, qué tal?
recentemente li uma notícia que parece mentira de tão surreal, mas é verdade: nas filipinas está proibido cantar a música my way nos karaokês do país. e o motivo é que muitos casos de violência iniciados quando alguém tentava acertar as notas imortalizadas por frank sinatra. segundo a bbc, pelo menos seis pessoas morreram no país em brigas em casas de karaokê, iniciadas por insultos ou chacotas contra a pessoa que cantava essa música.
e não é por desafinarem muito, mas porque, segundo o especialista em cultura popular ouvido por eles, geralmente é a canção de fim de noite, todo mundo mais pra lá do que pra cá, e evocados pela letra que fala de vencer as adversidades e pelo álcool, resolvem cair no soco.
a bem da verdade, eu acho my way uma música muito acima da média, tanto a letra quanto a interpretação do sinatra. coisas como “eu já amei, ri e chorei. cometi minhas falhas, tive a minha parte nas derrotas. e agora conforme as lágrimas escorrem, eu acho tudo tão divertido. e pensar que eu fiz tudo isto e devo dizer, sem muita timidez (...) eu fiz tudo do meu jeito” me arrepiam.
é emocionante quanto a canção é universal, quase todo mundo já sentiu como é cair e se levantar. entrar em um dilema e sair dele dá uma sensação de grandeza muito... grande? é uma canção sobre a vida que, não sei vocês, mas para mim, vai ganhando mais força conforme o tempo vai passando. eu achava uma coisa muito de pai, sobretudo porque o meu gosta muito da versão em espanhol, feita pelos ciganos franceses do gipsy kings.
mas agora que eu dobrei o cabo da boa esperança, me parece muito real que todas as vezes que eu passei por um grande apuro e saí do outro lado íntegro, eu me tornei mais forte e mais consciente de quem eu sou. me pareceu que ali a vida tinha me dado algo mais, uma estrelinha, uma nova skin para jogar, uma nova fase destravada. olhar para o passado com olhos mais maduros é alentador.
disem que o paul anka, que foi quem escreveu a letra, ficou tão comovido com a canção francesa comme d’habitude (como de costume), que resolveu criar uma versão em inglés. a mania de fazer versões de hits da gringa não nasceu com o forró brasileiro, já era tradição naquela época. o original francês era um balanço emocionado de um casamento que chegava ao fim. anka pensou nessa sensação, de revisitar o passado, mas de uma vida toda, não só de uma relação. em menos de uma hora, ele escreveu os versos, já pensando em sinatra para gravar.
frank já era um senhor quando gravou my way, em 1969 e a canção é a “emoções” dele, a que fechava todos os shows e a que as rádios usaram para noticiar sua morte em 1998. mas, dizem as más línguas que ele detestava a canção. para ele, o tom parecia arrogante. “eu sei que é um grande sucesso, e eu adoro ter grandes sucessos, mas cada vez que tenho de cantar essa música eu ranjo os dentes, porque, não importa a imagem que tenham de mim, eu odeio me gabar em cima dos outros. eu odeio falta de modéstia, e é assim que eu me sinto com essa música”, contou em sua biografia já nos anos 70.
não sei como frank interpretou essa canção desta maneira, mas pra mim, a letra é sobre ser fiel a si mesmo e não trair os seus princípios, seja em situações adversas ou em momentos de triunfo. é sobre ser o que se é e, desta maneira, enfrentar o mundo. luiz galvão, compositor dos novos baianos e falecido neste fim de semana, escreveu “vou mostrando como sou e vou sendo como posso” no verso inicial de mistério do planeta. não por acaso esta seja a my way dos novos baianos. ou como diria pitty, o importante é ser você, mesmo que seja estranho.”
ou nas palavras da tati quebra barraco:
no fundo todos estão dizendo a mesma coisa: que aceitar quem somos e agir no mundo á nossa maneira é um bom caminho para evitar sofrer e causar dissabores. tem um tempo já que venho “jogando meu corpo no mundo” e decidi que mostrar como sou e ser como posso é um bom lema. porque não é sobre sobrepor sua maneira à dos demais, mas de, num primeiro momento, dar a conhecer quais são os seus valores, pra em seguida ver como ele pode se adaptar ao entorno e como negociar, de forma que as individualidades cresçam juntas sem se ferirem ou sufocar.
e aí, conhecer seus limites é fundamental. o meu é não ficar em lugares em que o que eu sou não é respeitado. seja uma relação, um grupo de whatsapp ou uma cidade. claro que, por sobrevivência, às vezes aceitamos empregos ou companhias que não contemplam 100% nossos valores. mas dentro do possível, o legal é saber onde dá pra ser confortável em sua própria pele e não se encolher ou se espichar demais para suprir a expectativa de outros.
porque vamo combinar que a gente tem a mania de querer ser mais do que a gente é, né? no discurso a gente até repete “seja você mesmo”, mas na prática a gente se força bem pra ser tentar ser outra pessoa, ou pra parecer algo mais bonito, fino, polido, intelectual, qualquer coisa que seja pra ser aceito por alguém ou por um grupo. mas veja bem, a missão de cada um nessa terra é ser como é. ninguém no mundo, nem se for seu irmão gêmeo univitelino, sabe como é a experiência de ser você. essa é uma experiência solitária, única, intransponível.
aí, pra ser amado a gente perde totalmente a espontaneidade, e fica parecendo um robô, controlado por uma ordem que não é bem da gente. e, olha o paradoxo, quando a gente está com alguém, a maior prova de que é uma relação de amor ali é que as pessoas podem ser elas mesmas dentro daquele laço. bonito não? então pra essa semana a gente fecha assim: as coisas que fazem você ser você são um tesouro, abrace e apoie esse ser. e respeite as formas de ser que não são a su, porque né, cada um com seu cada qual. seja cada vez mais você mesmo, a não ser que seu voto dia 30 vá matar um monte de gente, aí, pode ser menos.
TOP 10
coisas absurdas que são proibidas em alguns países
no camboja, é proibido o uso de pistolas de água durante as cerimônias de celebração de ano-novo.
em denver (eua), é proibido emprestar o aspirador de pó aos vizinhos.
no canadá, é proibido tirar um curativo em público.
em israel, aos sábados, não é permitido enfiar o dedo dentro do próprio nariz. a lei vale para todos as pessoas que seguem a fé judaica e isenta os demais cidadãos.
na frança, em memória a napoleão bonaparte, é proibido batizar qualquer porco com o nome de napoleão.
na china é proibida a exibição de filmes em que personagens viajem no tempo.
por consequencia, também é proibido viajar no tempo em território chinês.
na inglaterra, nenhum funcionário do governo britânico tem a permissão de morrer dentro do parlamento. caso ocorra, o defunto pode ir preso.
em cingapura é proibido vender e mascar chicletes.
em chicago (eua) é proibido comer em um lugar que esteja pegando fogo.
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júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor do livro cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponível em e-book na amazon.
Conheci "My Way" pela versão debochada, cínica e agressiva cantada pelo Sid Vicious, dos Sex Pistols, que meu irmão mais velho tinha gravada numa fita. De modo que comecei pelo fim ou pelo lado avesso. Eu era bem moleque, devia ter uns 10 anos de idade na época e, embora já soubesse que a gravação clássica era com o Sinatra, só fui ouvi-la algum tempo depois.
Gosto da melodia e da letra e entendo as duas interpretações - a sua e a do Sinatra - a respeito dela. Relendo a letra agora, tendo a pender mais pro lado do cantor e achá-la um tanto assertiva demais. Mas isso sou eu, que estou longe de ser o tipo de pessoa que diz não se arrepender de nada na vida. Acho que teria feito tanta coisa de outra maneira...
Sob esse prisma, acho "Mistério do Planeta" (que eu ouvi pela primeira vez quando saiu o Acústico MTV do Moraes Moreira, em 1995) mais condizente: "Vou sendo como posso".
Só por favor não leve muito a sério o primeiro verso de "My Way", tá?
Beijo!
Amei essa news! Kkkk ri boas risadas ♡