esse nobre vagabundo
#132 - seu madruga representa aquele que foi punido pelas injustiças, mas soube escapar com mil truques diante da responsabilidade
olá vocês!
neste mês, mais exatamente no dia 2, o mundo celebrou 100 anos de um dos maiores atores de todos os tempos. um gênio das artes cênicas capaz de interpretar com maestria um pirata, um super-herói americano, o próprio diabo e claro, o personagem-símbolo de sua carreira, sendo reconhecido pelo mundo inteiro. estou falando de ramón valdez, o inesquecível don ramón, ou como conhecemos desde sempre, o seu madruga.
talvez você não saiba, mas ser fã de chaves e chapolin é um traço marcante da minha personalidade, foi o que forjou o meu tipo de humor e é um dos meus programas conforto, a que recorro em dias muito cansativos ou deprê. então eu sempre estou repetindo algum bordão ou fazendo alguma referência. e hoje eu queria fazer uma homenagem bonita, bem bonita ao cara de chimpanzé reumático e seu intérprete.
ramón valdés já era um ator consagrado da era de ouro do cinema mexicano quando começou a trabalhar com roberto gomez bolaños. contemporâneo de cantiflas e pedro infante, ramon era parte de uma família de atores. seus irmãos tin tan e el loco valdés são considerados lendas do humor. logo, era o ator certo para dar vida a personagens hilários nos esquetes do chespirito, como os infinitos vilões de chapolin.
apesar de mexicano da gema, seu madruga é a cara do brasil. e todo fã concorda que a dublagem brasileira é um componente que faz do programa e dos personagens tão queridos por gerações de brasileiros. el chavo é um grande programa, sem dúvidas, mas chaves é inigualável, beira à perfeição. pensa no vassoura com patas. e agora me diz, ele tem mais cara de ramón ou de madruga? o cara que criou este nome é um gênio.
o querido malandro que corta um dobrado para fugir do trabalho e está sempre devendo o aluguel é um tipo muito reconhecível. mas além disso, o seu madruga é uma figura importante na dinâmica da série. é o pai amoroso da chiquinha, inimigo da dona florinda, algoz e vítima do quico, paixão platônica da dona clotilde, pesadelo do senhor barriga e figura paterna do chaves. é visível sua importância, basta ver que nas temporadas em que o ator se ausentou das gravações o programa perdeu muito de seu dinamismo.
além disso ele sempre fez os personagens mais divertidos da melhor série de super-herói que existe, chapolin. posso destacar aqui meu top 5: o super herói super sam, paródia dos enlatados americanos; o malvado do velho oeste racha-cuca, pai da bela rosa rumorosa; o pirata alma negra, tão cruel que foi o responsável por matar o mar morto; o anão zangado da história da branca de neve e os sete tchulim tchulim tchuflai; e por fim o coisa ruim que quer comprar a alma das pessoas em troca de um certo cherrin cherrión.
o mamá faz parte da cultura popular e do nosso dna afetivo porque representou aquele que foi punido pelas injustiças, mas também aquele que soube escapar com mil truques diante da chegada iminente da responsabilidade. era o personagem da rua, que conhecia as esquinas, voltava e lidava com um grupo de crianças a quem dedicou uma das aulas mais emblemáticas e educativas a que tivemos acesso de forma democrática. nunca fui bom em química, mas sei reconhecer uma substância perigosa à distância.
há uma lenda urbana que diz que a banda ramones foi batizada assim em homenagem ao tripa seca. não é verdade, o nome vem de um alter ego que o paul mccartney usava para se hospedar em hotéis, paul ramone. mas é o tipo de coisa que poderia facilmente ser verdade dado que o visual do bigodudo é o mais rock’n’roll de todos, a camiseta preta ou verde, os mesmos jeans, converses surrados nos pés e um chapeuzinho icônico que sempre acaba virando alvo de sua ira. um look atemporal.
grande parte do sucesso de seu madruga é mérito do texto de roberto bolaños, a quem comparavam shakespeare e não era à toa. mas é na interpretação de ramón que o personagem encontrou camadas. o personagem é engraçado, mas com um componente trágico, uma esperteza ignorante, mas que no fundo é uma pessoa muito amorosa. seu espírito inquebrantável o leva a viver de bicos para garantir o sustento da filha: ele já foi leiteiro, pedreiro, carpinteiro e claro, vendedor de churros da dona florinda.
ramón esteban gómez valdés y castillo nasceu na cidade do méxico em 2 de setembro de 1924. filho de rafael gómez valdés angelini e guadalupe castillo, ramón teve uma infância difícil ao ser um de dez filhos, mas ao encontrar as artes cênicos sua vida mudou. seu talento em entreter crianças e adultos foi tanto que, até hoje, 36 anos após sua morte, o personagem vive em memes que se tornam um lembrete de que só com humor o espírito se mantém vivo.
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júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor dos livros a torto e a direito e cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponíveis em e-book na amazon.
El Chavo del Ocho não fez parte da minha infância, eu era um pouco velho quando começou a passar no Brasil. Mas sei da importância dele pra muita gente por estas praias e pra outros tantos milhões pela América Latina hispana inteira.
Em compensação tenho comigo uma foto recente ladeado pelo Senhor Barriga (embora já sem aquela barriga toda) e pela Paty quando ambos vieram ao Brasil por conta da série. Foi por ter sido colega de faculdade da Paty, digo de Ana Lilian de la Macorra, que acabei conhecendo Édgar Vivar, definitivamente uma simpatia o moço. Pena que aqui nos comentários não consiga anexar a foto. (Vou fazê-lo nas notas, lá eu sei que dá.)
Sigo fã até hoje! Os episódios de Acapulco conseguem entregar esse drama que o humor dele tinha.