e pensar que eu saí lá de senador canedo
#25: só podemos ir até onde nos permitirmos sonhar. nem sempre vai possível chegar, mas é o sonho o combustível que nos mantém em movimento
hey brother (ler com a voz do paulo ricardo)
há cinco anos, numa madrugada fria nos fins de junho de 2017 eu chegava em buenos aires. nos primeiros meses, minha mãe veio comigo, para se assegurar de que era uma boa idéia eu sair “da barra dela” pra viver tão longe. embora eu pense que parte dela queria mesmo era que eu desistisse e desse meia volta. nesses primeiros dias, grana curta, a gente se instalou num hostel no centro, na rivadávia, pertinho da nove de julio. durante o dia, eu ralava atrás de trabalho, papéis de documentação, aluguel. mas a gente sempre estava junto, trilhando a cidade. à noite, a gente dava voltas pelo centro, vendo como era bonita e iluminada a minha nova cidade.
uma noite dessas, a gente foi até o teatro colón e de lá fomos ao obelisco. cruzando aquela avenida enorme (a mais larga do mundo) e tendo ao fundo os painéis luminosos da coca cola, eu disse, meio comovido “não é incrível essa cidade mãe?” ao que ela responde: “e pensar que você saiu lá de senador canedo e veio parar aqui”. é a cara da minha mãe me tirar de um sonho e me levar de volta pra quebrada onde eu cresci.
pra quem não conhece, senador canedo é uma cidade-dormitório ao lado de goiânia, uma extensão da capital, onde passei uma parte da adolescência. eu penso que para ela, chegar aqui era um ápice jamais imaginado, dadas as condições em que já vivimos em um passado mais ou menos distante. mas eu gosto de pensar nesta história pra me lembrar de que, apesar dos muitos limites, nós só podemos ir até onde nos permitirmos sonhar. nem sempre vai possível chegar, mas é o sonho o combustível que nos mantém em movimento, como um horizonte depois de um horizonte, depois de outro.
“a utopia está no horizonte. caminho dois pasos, ela se afasta dois passos e o horizonte corre dez pasos mais para lá. então para que serve a utopia? para isso, serve para caminhar.” eduardo galeano
me lembrei disto porque hoje eu dei uma volta pelo centro portenho, fazia tempo que eu não fazia este rolê pois frio, home office e pandemia (pois é). pensando nesses anos que eu vivo aqui, eu decidi de vez em quando compartilhar alguma crônica sobre esta cidade, então nesta edição, “teje” criada a seção pequenas crônicas portenhas. além disso, uma lista iluminada com minhas canções de gilberto gil, que fez 80 anos no domingo.
vem comigo.
CRÔNICAS PORTENHAS
a casinha em cima do prédio
em buenos aires, você deve andar olhando para cima. do contrário, pode perder detalhes impressionantes, como o curioso caso do chalé em cima de um edifício em plena avenida 9 de julio. é como se a casinha do filme up, amarrada em milhares de balões tivesse pousado no cruzamento principal da cidade, em cima de um prédio de oito andares e dali aproveitasse a vista do obelisco. mas como aquele chalé foi parar ali?
a pitoresca construção está ali há 90 anos, antes da própria avenida. reza a lenda que o imigrante espanhol rafael díaz, logo que chegou à argentina no começo do século 20, trabalhava em um mercado e, no horário de descanso, costumava tirar um cochilo nos fundos. um dia o dono do local o acordou aos gritos, dizendo que se quisesse, dormir, que tivesse seu próprio negócio. humilhado, o jovem foi trabalhar como marceneiro e, depois de um tempo, prosperou bastante.
logo, díaz se tornou dono de uma fábrica de móveis, e abiu uma loja enorme, no edifício que construiu. como trabalhava longe de casa, construiu um chalé acima do último andar só para almoçar e tirar um cochilo depois. pois finalmente era dono de seu próprio negócio e podia tirar uma siesta quando lhe desse na telha.
a loja chegou a ser uma das maiores da américa latina, e era conhecida como "muebles díaz, la casa del chalecito". Com o tempo ele construiu uma rádio no local, para anunciar seus produtos, e foi dali que ele viu o obelisco ser erguido e a cidade virar uma metrópole. rafael morreu em 1968. tombado pelo patrimônio cultural de buenos aires, o chalé estava fechado para visitas e o edifício, alugado para escritórios. mas há alguns meses, voltou a abrir para visitas guiadas.
pra quem passa apressado pelo centro vale parar no cruzamento da corrientes, 9 de julio e diagonal norte e olhar para cima. é de lá que vem o recado, quem sonha pode criar todo tipo de coisa, até uma casinha em cima de um prédio.
AJUDA LUCIANO
existiu ou não existiu?
eu tô bem louco e minha memória inventa coisas ou existiu realmente um programa no sbt nos anos 90 chamado luta livre de mulheres? porque eu vi um episódio da série glow e isso não sai da minha cabeça. eu tenho certeza que passou isso na tv, que era tipo um telecatch de mulheres bonitonas com fantasias se enfrentando num ringue. pelo amor de deus alguém da ala senior por favor me ajuda. existiu ou não existiu?
HOMENAGEM
musgueiro e pai de menino
eu gosto muito de uma história que o gilberto gil sempre conta, de que quando tinha três anos a mãe lhe perguntou o que ele queria ser quando crescesse, ao que o baianinho respondeu “musguero e pai de menino”. essa história é a mais gilberto gil possível, pois condensa em 5 palavras toda uma futura obra que abarca o divino, o terreno, o inventado, o possível e o iluminado. gil já era um preto velho desde a infância.
com oito décadas de espalhar alumbramento (acostume-se, não vou economizar elogios a este homem), gil é agora, um imortal da abl. e é um imorrível, porque, além de “pai de menino” que deixou uma prole inclinada a fazer som é também um dos maiores musgueiros da língua portuguesa. sua obra é eterna.
dono de um dos meus versos preferidos desde sempre: “se eu sou algo incompreensível, meu deus é mais” (de esotérico), aqui neste espaço gil ganha um top 10 das minhas canções preferidas, pedindo sempre pra que este homem viva muito e siga sendo o grito negro do brasil no mundo. te amo, gil.
TOP 10
minhas canções preferidas de gilberto gil
esotérico
drão
a linha e o linho
amarra o teu arado a uma estrela
se eu quiser falar com deus
refazenda
tempo rei
a paz
babá alapalá
estrela
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júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor do livro cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponível em e-book na amazon.
Existiu sim o "Luta Livre de Mulheres". Toda hora eu menciono esse programa aqui em casa (toda hora é exagero, claro, mas sempre que algo me faz lembrar dele). Eram garotas em trajes mínimos brincando de telecatch num ringue lambuzado com uma geleca doida. Lembro que chegaram a levar a "atração" ao Programa Livre. Isso deve ter sido por volta de 1991.
Já o meu provável Top 10 de músicas do Gil, contando apenas composições só dele, é esse aqui, em ordem cronológica:
* Preciso Aprender A Só Ser
* Pai e Mãe
* O Seu Amor
* Babá Alapalá
* Tradição
* A Gente Precisa Ver o Luar
* Andar Com Fé
* Esotérico
* A Linha E O Linho
* Tempo Rei