curtindo a tarde adoidado

#109: uma lista do barulho de filmes com o aviso “versão brasileira herbert richers”, para ver tomando um copão de nescau

olá vocês!

dia desses o leitor desta newsletter (e meu amigo pessoal) emmanuel me mandou um link que diz que filme passou na sessão da tarde no dia em que eu nasci. sim, eu sou velho. mas a sessão de filmes vespertinos da globo é muito mais: 50 anos, pra ser exato. a primeira sessão da tarde foi ao ar em 4 de março de 1974, exibindo o filme oito e meio, de fellini para são paulo e os perigos de paulina para o rio. o filme do dia do meu nascimento eu te conto no final deste texto, vem comigo!

as crianças da minha geração tinham duas opções: ou estudavam à tarde e viam todos os desenhos do xou da xuxa, ou estudavam de manhã e viam a dobradinha filme da sessão da tarde + série da sessão aventura. eu quase sempre fui do segundo time. é engraçado pensar que houve um tempo em que não existia essa faixa de filmes. para mim é algo que sempre existiu, não teve um começo e não consigo pensar se vai haver um fim.

creio que gerações de cinéfilos se formaram acompanhando reprises de filmes divertidos e inocentes feito para agradar a pivetada que evitava o dever de cada até o último minuto. inocente é uma palavra forte, né, às vezes a gente via um pentelho em férias do barulho, um peitinho maroto em porky’s e claro, a famosa cena do cinco a um em a lagoa azul.

o que eu acho interessante é que od filmes vinham com palavras como “loucademia”, “muito louco”, “do barulho” e “adoidado” no título. nada que fosse apenas legal parecia… legal o suficiente para merecer a nossa atenção. tinha que ser estrambótico, aloucado, fora da curva.

eu mesmo nunca vi ninguém dizer na vida real algo como “cuidado com os tiras” ou “essa menina é mesmo levada da breca”. o que quer dizer essa expressão? só os tradutores de filmes adolescentes dos anos 80 poderiam dizer. a sessão da tarde formou também nosso imaginário adolescente. para mim foi desolador descobrir que no “colegial” a gente não tinha armários noss corredores, nem refeitório. e baile de formatura, então, nem pensar.

mas houve momentos saborosos entre uma reprise e outra do famigerado o resgate de jéssica. filmes marcantes que moram entre os meus favoritos até hoje e que eu vi com o aviso “versão brasileira herbert richers” no começo. aqui listo meu top 10, e o critério é que sejam só filmes que eu tenha visto pela primeira vez quando passava depois do vale a pena ver de novo. então clássicos como corina, matilda, edward mãos de tesoura e esqueceram de mim ficam de fora, já que chegaram a mim via locadora. e ghost, as patricinhas de bervelly hills, a família buscapé e de volta para o futuro eu vi na tela quente.

uma lista nem sempre é justa, mas vamo ao meu top 10. e qual é o seu? já vai pensando e me conta nos comentários.

what's good enough for you is good enough for me

• os goonies - um dos filmes mais divertidos já feitos, daqueles que prendem a atenção até hoje, afinal que moleque não sonhou em ir atrás de um tesouro perdido e no caminho viver grandes aventuras como enfrentar uma família de mafiosos e encontrar um navio pirata?

• curtindo a vida adoidado - ferris buller é tudo que todo garoto tímido queria ser mas nunca teve coragem. dar um perdido nas responsabilidades e arrastar consigo dois grandes amigos para passar uma tarde de nada mais que diversão pela cidade. se eu pudesse faria hoje mesmo: metia um atestado e iria curtir a vida com os migos.

• karatê kid - o típico conflito adolescente om um mocinho, cara sensível, fisicamente frágil e apaixonado, que luta pela garota bonita e rica, e um mestre ranzinza que o ajuda a vencer um bad boy fortão e sacana. me lembro das chamadas ao som de glory of love do peter cetera, com cenas do jovem daniel san se equilibrando na “posição de gafanhoto” ao por do sol.

• os saltimbancos trapalhões - tenho esse filme no meu panteão de melhores filmes brasileiros de todos os tempos. apenas o melhor musical de chico buarque encenado pelos gênios do humor didi, dedé, mussum e zacarias. a trilha sonora é perfeira (lucinha lins cantando hollywood 🧡). e mussum cantando “piruetis” em vez de piruetas me tira risada até hoje.

• conta comigo - eu moraria neste filme, se pudesse. um verdadeiro tratado sobre a amizade e um sinal de que nem só de besteirol vive a sessão da tarde. baseado num conto de stephen king, este é um filme que nunca envelhece, é sempre um conforto e garantia de grandes emoções.

• cuidado com as gêmeas - bette middler e lilly tomlyn são duas irmãs gêmeas ricaças que sem saber se hospedam no mesmo hotel que duas irmãs caipriras interpretadas pelas mesmas bette e lilly. é claro que o roteiro do filme é do barulho e que essas gêmeas da pesadas vão armar altas confusões até descobrirem que foram trocadas na maternidade.

• namorada de aluguel - o roteiro de filme de high school mais manjado que existe: dois jovens que não têm nada a ver um com o outro precisam fingir que namoram e acabam se apaixonando. mas o diferencial aqui é que é mais comédia que romance, sobretudo nas cenas que envolvem uma certa “dança do tamanduá africano”.

• meu primeiro amor - é algo que me faz chorar tanto e ao mesmo tempo mora no meu coração para sempre porque a garota vada e sua família são adoráveis. e o que dizer de tomas j, o menino mais fofo do mundo? o primeiro trauma de toda uma geração atende pelo nome de “macaulay culkin indo resgatar a procaria do anel no meio da droga do enxame de abelhas”.

• quero ser grande - céus como este filme é icônico. eu amo tom hanks desde muito antes de forrest gump e quero ser grande é o motivo. as cenas dele todo bobão tocando piano com os pés é antológica. lembro-me também do filme em que tom é um detetive que trabalha com um cachorro, que infelizmente morre no final. por que nenhum cachorro sobrevive na sessão da tarde?

• corra que a polícia vem aí - na época eu não reparava no bizarro que era o elenco, além do gênio leslie nielsen o filme tinha priscilla presley, viúva de elvis e o.j. simpson, então astro do esporte, futuro fugitivo da polícia e atual morador do nosso lar. e isso é só um detalhe na sequência absurda e surreal de piadas que este besteirol é capaz de lançar freneticamente. uma das melhores comédias do mundo e só a minha opinião importa.

ah, se você quiser saber o que passava na sessão da tarde no dia que você nasceu, é só clicar aqui. o meu foi os carrascos do mar, filme de 1956. segundo a sinopse do filmow, “durante a segunda guerra mundial, cientistas da marinha dos eua que trabalham em cuba tentam encontrar um repelente de tubarão eficaz para ser usado por militares encalhados em águas infestadas de tubarões”. já imagino a narração: “intrépidos cientistas lutam contra o tempo para salvar esses heróis de serem devorados por feras, da pesada.”

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júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor dos livros a torto e a direito e cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponíveis em e-book na amazon.