branca de neve e as sete versões
#157: melhor que a disney: uma lista com versões mais ousadas ou pelo menos mais criativas da princesa dos baixinhos
olá vocês!
fui ver o live action da branca de neve e francamente, era melhor ter ido ver o filme do pelé. eu mereci claro, passar essa raiva. claro que a culpa é minha de ter ido ver um filme ruim quando todos os indícios era de que ele seria ruim, né? pois bem, para não desperdiçar totalmente o meu tempo e dinheiro, resolvi transformar esse abacaxi em uma edição da news. então no capítulo de hoje eu falo um pouco (mas bem pouco mesmo, pode ficar sussa), sobre essa versão pavorosa da disney. e também listo sete adaptações muito melhores da princesa dos baixinhos. bem, melhores é uma palavra forte, digamos são versões mais interessantes do conto.
para começar, vamos corrigir uma injustiça: o filme só não é totalmente descartável por causa da protagonista. isto mesmo, a única coisa boa do longa é justamente o a razão pela qual ele está sendo massacrado, a atuação da garota rachel zegler. a menina é carismática, canta bem e é bonita. e não me venham com essa de que “ain, a branca de neve deve ser a mais linda de todas”. se você ainda pensa que a história clássica é sobre beleza física, tá na hora de reler o conto dos irmão grimm. rachel é uma escolha e tanto para a personagem, o que não ajuda muito na verdade é o roteiro.
é incrível que de todas as adaptações para live action dos clássicos da disney, justamente o mais clássico deles tenha saído tão aquém das expectativas. não é difícil, nos últimos anos tiveram pelo menos duas grandes adaptações (uma com lilly collins e julia roberts e outra com kristen stewart e charlize theron) e as dias apresentaram algum vigor, mantendo o equilíbrio em se manter fiel ao original, mas sem deixar de atualizar partes que envelheceram mal. mas o que se viu na versão de 2025, dirigida por mark webb foi uma total falta de visão, a cada par de cenas o roteiro apontava para algo diferente: tentou inovar, tentou ser fiel, tentou adular aos fãs, tentou ouvir o que a internet queria e no final não agradou ninguém.
para muita gente, o fato de uma branca de neve não branca é um equívoco de casting, ou uma vontade de “lacrar” da empresa. mas acredito que se o filme fosse realmente bom, só ficariam os racistas de sempre chiando. mas neste caso, as inovações não ficaram somente na busca por representatividade. é bizarro criar criaturas de nft para não ofender pessoas com nanismo, em vez de empregar atores de carne e osso que poderiam ter a oportunidade de brilhar em uma superprodução. não teve uma unidade de profissional no departamento de vai dar merda pra avisar que não ficaria legal? é de longe uma das coisas mais toscas já feitas. e é pior quando se trata de um projeto tão grande.
enfim, a cenografia é pobre, os figurinos, tristes e o roteiro tem mais buracos que coração de chiquititas. a intenção era apresentar uma princesa mais “empoderada”, mas no final ela está sempre esperando que alguém a ajude, seja numa possível volta do pai, seja no beijo de amor do interesse romântico da vez. que não é um príncipe, mas um ladrão que vive em um bando de saqueadores, totalmente aleatório na história. e neste bando, um dos integrantes é interpretado por um ator com nanismo. pois é.
mas nada nesse filme tão pavoroso consegue igualar à presença de gal gadot como a rainha má. construída sem um pingo de alma e com uma expressividade negativa, a personagem passa do enojo para a raiva, da raiva para o desprezo, do desprezo para o deboche sem jamais registrar em seu belo rosto nenhuma das emoções sublinhadas pelos diálogos. e quando ela canta, você começa a se questionar as decisões que te levaram a um ponto tão baixo de sua vida.
é impossível não pensar no que uma catherine zeta jones ou uma anne hattaway não fariam no lugar da mulher maravilha. ela conseguiu tirar do personagem a característica mais comum de qualquer vilão da disney: uma dose de “queerness”. é só pensar em úrsula, scarr, hades, e na própria rainha má, todos foram criados com um toque de viadaegm histriônica. mas com gal, a rainha aparece insípida, inodora e incapaz de expressar emoções humanas.
e já que hollywood não consegue fazer o básico com uma história que já veio praticamente pronta, fui eu mesmo catar versões melhores, mais ousadas ou pelo menos mais criativas da princesa. passei semanas mergulhado no mundo da branca de neve, e encontrei de tudo: princesas góticas, anões metafísicos, toscarias adoráveis e até uma tourada. algumas obras são pérolas esquecidas, outras são tão ruins que viram boas, e tem até anime no meio. aqui vão as sete mais divertidas, bizarras ou inesperadas que eu vi. vem comigo:
branca de neve (2001) - feita com um orçamento total de duas coxinhas e um guaravita, essa versão em telefilme é bem bizarra e passou bastanta nas tardes do sbt nos anos 2000. aqui, branca de neve (kristin kreuk, a lana lane de smallville) perde sua mãe ainda bebê e seu pai se vê em desespero tentando encontrar maneiras de alimentar a recém-nascida, até que um ser surge e lhe concede três desejos, o que faz com que a garota ganhe leite, um reino e uma madrasta malvada. os anões aqui aparecem como entidades da floresta, cada um representando uma das cores do arco-íris. e um dos anões… bem, veja a foto logo abaixo.
branca de neve e os três patetas (1961) - eu adoro essa versão, que passava pelo menos uma vez por ano na sessão da tarde, ali no final dos anos 80. aqui, os sete anões são substituídos por larry, curly e moe, fazendo aquele humor totalmente pastelão característico deles. fun fact: esse foi o primeiro filme do trio feito em tecnicolor e eles aceitaram ser coadjuvantes, já que o filme foi concebido como uma vitrine para a patinadora olímpica carol hess, que havia ganhado uma medalha de ouro no ano anterior. por isso tantos números musicais com patinação. quem quer ver dublado, tá inteirinho em português no youtube.
blancanieves (2012) - das transposições para o cinema, essa é a que eu gosto mais. é um conto de fadas mudo, em preto e branco, que troca o bosque por uma arena de touradas em sevilha dos anos 1920. o filme mergulha fundo no melodrama mórbido com uma elegância visual de tirar o fôlego: cada cena aqui parece ter saído de uma revista de moda. os atores exageram na expressão com maestria e a trilha sonora, entre orquestras e o flamenco cola perfeitamente na imagem. foi injustamente ofuscado por o artista na época, mas quem ama cinema de verdade precisa ver. é um “filme à moda antiga” no melhor sentido possível.
branca de neve: o conto de fadas do terror (1997) - vamos combinar que todo conto de fadas têm em sua uma história de terror. a disney é que passou um paninho, trocando sangue por final feliz. esse filme aqui faz o caminho inverso: mergulha de volta no lado sombrio de branca de neve, com sigourney weaver brilhando como claudia, a madrasta. ela até tenta ser boazinha com lily, a princesa vivida por monica keena, mas a convivência azeda, o rancor fermenta e logo vem o desejo cruel de apagar a enteada do mapa. é conto de fadas raiz, com veneno, faca e feitiço.
a lenda da princesa branca de neve (1994 - 1995) - essa versão é um anime italo-japonês que estreou em 1994 com o nome shirayuki hime no densetsu, produzida pelo estúdio tatsunoko (o mesmo de samurai cats). são 52 episódios que começam com a morte da mãe da princesa ainda criança e a chegada da madrasta. aqui, a trama segue mais fiel à versão original, incluindo as tentativas de assassinato antes da maçã. ao longo da série, branca de neve deixa de ser aquela mocinha frágil que não sabe se virar pra virar uma mulher corajosa, que encara os próprios medos. tem amizade com os anões, romance com o príncipe ricardo e bastante drama. dá pra achar no youtube em espanhol, com dublagem ok (melhor que a inglesa, vai por mim).
histórias que as babás não contavam (1979) - é uma chanchada brasileira, então disclaimer: tem piada datada, tem exagero, tem clichê. mas ó, esse aqui é puro entretenimento adulto. ainda não é da fase explícita das pornochanchadas, mas é bem erótico, então melhor tirar as crianças da sala. aqui temos clara das neves, uma princesa vivida pela escultural adele fátima, que vira alvo de uma madrasta ninfomaníaca depois da morte do pai. o caçador (costinha, impagável em cada fala), troca a missão pelo tesão e deixa clara na floresta, onde ela se junta a sete anões que provam pro príncipe que tamanho não é documento. e tem mais: zangado é uma bee histérica. isso mesmo. nos anos 70, o brasil teve uma branca de neve negra e um anão gay. e ninguém surtou no twitter.
branca de neve e os sete tchuim tchuim tchum claim (1978) - com uma versão caótica e muito engraçada do desenho da disney, feita com maestria pelo elenco de chapolin, esta série de três episódios é a adaptação definitiva. pra começar, sacadas como “na verdade ela se chamava patrícia espinoza, mas gostava tanto de bolo de coco que todos a chamavam de branca de neve” ou “olá dona cigarra, como vai seu marido? - ele está fumado”. pra mim esse é um dos melhores episódios do polegar vermelho (mesmo quando passavam só as duas primeiras partes na tv.) mas pra alegria da moçada, a saga da dona florinda de peruca está completa no youtube. e dublado, pra ficar ainda melhor.
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júnior bueno é jornalista e escritor e tá procurando trabalho, por favor, mandem freelas ou comprem meus livros na amazon: a torto e a direito e cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa.
Eu CHOREI de rir com essa edição, JU-RO! Assisti esse live action bizarro também, mas não poderia ter escrito nada comparável a sua obra prima. Eu me lembro muito da piada da D. Cigarra do Chapolin. Estava falando disso não faz muito tempo com a minha irmã, então foi um deleite vê-la aqui. Afinal, clássico é clássico e vice-versa. Parabéns, Junior!
Falar "tchuim tchuim tchum claim" é quase uma terapia vocal!