bom demais ser velho
mark ruffalo, a dor e a delícia de ser um jovem senhor e a minha avó não se conformando com a mudança de personalidade de atrizes de novela
oi gente, chegueeeei (ler com a voz da déia)
dia desses eu passei pela tl e em meio a anittas no top 1 global do spotify e discussões avulsas sobre política e/ou bbb, me deparo com este tweet da @clarissaaa
e a verdade é que eu me diverti muito porque sei exatamente todo o contexto, quem foi um dos maiores ladrões do reino unido, quem é o filho e a que grupo infantil ele pertencia. muito bom ser velho.
a verdade é que eu amo demais fazer parte de uma geração que tem referências muito díspares, coisas dos anos 80 e memes desta semana, tudo junto. e quanto mais oldie a referência, mais eu adoro, apesar de nem sempre ser compreendido. (não me esqueço em um natal em que imitei o chef de cozinha da tv colosso pra avisar que a ceia estava servida e minhas sobrinhas me olharam com esta cara:
mas só tem graça ser o highlander das referências quando se tem a manha de não se fechar pra nada que é novo, deus me livre virar o velho do “não se faz mais (…) como antigamente”. neste número eu discorro um pouco mais sobre ser cacura (google it), o multiverso chamado novela e declaro meu amor eterno a um moço dos filmes. vem comigo!
CRÔNICA
velho é o novo novo
todos os dias quando acordo, não só não tenho mais o tempo que passou como também não tenho todo o tempo do mundo, ao contrário do que me prometeu renato russo. sério, um dos meus primeiros pensamentos diários é “cara, eu vou fazer 40 anos neste ano!”. bom, sem crise por aqui, tô adorando esse número e pra quem pergunta eu já falo que tenho 40. é uma espécie de empoderamento de velho. mas a verdade é que eu nunca me sentí tão bem sendo eu como agora
(quem me segue há muuuuuito tempo na internet - 3 pessoas - sabe que por algum tempo meu user nas redes era arroba a crise dos 30. as três décadas me pegaram em cheio, porque né, a gente cresce achando que tudo que a gente vai construíndo desde os 20, vai colher nos 30. aí chega os 30 e nada de carreira bem sucedida, independência financeira, família, filhos, nada disso, a gente fica perdido. olha que bobagem. com a cara devidamente quebrada aos 30, a gente avança melhor para os 40, dá pra viver mais livre, com menos pressão e entender que a vida não é uma competição.)
então, voltando ao começo do texto, eu amo demais ser de uma geração que caminhou desde a máquina de escrever até o smartphone, do mimeógrafo até a impressão 3d, da blockbuster à netflix. porque eu me sinto como um highlander, alguém que está no mundo há eras. quando eu nasci, o homem tinha ido à lua há somente 13 anos e parecia que havia sido a mais de 30. agora por exemplo, o atentado às torres gêmeas foi há 21 anos, e parece que passaram não mais de 5 desde então.
e eu gosto de ter esse cabedal de referências, amo quando alguém sai com um ditado antigo ou cita algo que só quem já tomou guaraná taí entende. tipo o pai da minha amiga amanda que solta um “turma da lazinha” toda vez que vê a betty gofmann na tv. mas não pense que meu proud to be old tem a ver com reacionarismo. a gente tem nostalgia, mas nada de saudosismo aqui.
mesmo perto de ser lançado no poço de piche (só os velhos captando a referência), eu também pertenço 100% ao momento presente. mesmo quando não participo de um fenômeno atual, como tik tok, kpop ou euphoria, eu entendo do que se trata e porque as pessoas gostam. não tem coisa mais chata que gente que pragueja contra qualquer coisa recente com frases do tipo “não se faz mais (…) como antigamente”.
bom, antigamente tinha ditadura, radiação por césio e cerveja malt 90, então vai com calma neste saudosismo aí que tem coisa muito boa e muito ruim em qualquer época que você se demorar a investigar. o joelho podia doer menos depois de uma hora de exercício? podia. a memória podia ser mais eficiente e coisas realmente práticas e vitais? podia. o metabolismo podia ser mais rápido e não acumular tanta gordurinha em volta da cintura? ô se podia! mas tirando isso, eu só vejo vantagens.
a iminência dos 40 anos, faz a gente meio que ligar o botão do cansei prum monte de coisa. tipo balada. sair de casa numa hora em que eu podia estar dormindo, enfrentar uma fila de uma hora para entrar num lugar escuro, barulhento e superlotado e cruzar com gente que já bebeu demais e pode vomitar na minha camisa não é bem minha idéia de diversão. caminhar 10 minutos acotovelando gente pra chegar num balcão que está a menos de três metros de mim pra comprar uma longneck com o preço de uma camiseta então, eu passo.
outra coisa: os velhos manjam do paranauê quando o negócio é se relacionar. já não rola mais aquela incrível capacidade de se iludir, de quebrar a cara e chorar por dias ouvindo adele. quem não morreu de amor aos 20, não morre mais. e tem também o equilíbrio quantidade x qualidade sexual que chega nos 30 e poucos, só se aprimora nos 30 e muitos. e a gente descobre que todo aquele frenesí acrobático e escandaloso é bom, mas conexão, contato visual, saber ler a pessoa e conhecer bem nosso corpo, ah, isso não tem preço na hora do vamuvê.
tenho pra mim que a juventude deve ser vivida, celebrada, aproveitada ao máximo, mas não dá pra congelar uma fase da vida e ficar eternamente preso ali. cada momento tem sua pena e seu encanto. e a maturidade não deve ser um fardo, um castigo, mas uma conquista. jovens, não tenham medo, velho é o novo novo.
UMA SAUDADE
a mulher do coronel boanerges
minha avó tinha um jeito engraçada de comentar de novela, como se fosse uma fofoca de alguém próximo:
“eu não conformo que a mulher do boanerge [sic] tá tão ruim agora, nessa novela. de repente ela ficou doida, saiu matando o povo.” a mulher do coronel boanerges era a patrícia pillar, que havia saído de uma sinhá boazinha para uma vilã na novela seguinte.
“essa irmã do foguinho só faz papel de assanhada”. a juliana alves em caminho das índias era uma moça saidinha. ela tinha sido irmã do lázaro ramos em uma novela. lázaro ramos havia sido foguinho em uma terceira novela. mesmo assim, ela ficou sendo irmã do foguinho e acabou.
“olha lá a dona lola!”: qualquer imagem da irene ravache na tv, não importa o contexto, gerava essa observação. era dona lola e pronto. assim como lucélia santos era sinhá moça e antônio fagundes era o mezenga. e o edson celulari era o flamel. e a maria luiza mendonça era a “moça da cara entojada”, também conhecida como a mulher do flamel naquela outra novela.
“o marido da jade brigou com o mezenga e chegou na casa dele, a tieta tava lá. ela trabalha pra ele, a tieta. e tem uma moça que ele roubou o dinheiro dela, ela foi lá brigar, é uma menina novinha. sabe aquela novela que tinha ela que o pai dela bebía?” vou nem me dar o trabalho de explicar quem é quem aqui, porque eu nem sei se existiu essa novela de verdade. tem que ter um diagrama pra entender o multiverso que a dona vitória inventava.
eu amo me lembrar disso, de que apesar de dizer que não gostava de novela (“eu de vez em quando dou uma olhada, mas é uma mentirada, uma bobageira”), ela não perdia uma e dava conta de tudo que passava, mesmo de jeitinho dela. essa semana já se vão 9 anos. e tudo que eu queria era comer uns bolinhos de polvilho com café e ver uma novela das boas com ela. de preferência das 6, “porque essas outras só ensinam o que não presta”.
UM CRUSH
my heart belongs to mark
se eu pudesse escolher um ator de hollywood pra ter um date, eu não precisaria de mais que um segundo pra pensar: mark ruffalo. veja bem, eu posso, na minha imaginação, me casar e ser feliz com qualquer pessoa do mundo, viva ou não, desta ou qualquer época. de marlon brando a michael b jordan, de brad pitt a idris elba, as possibilidades são infinitas. mas meu coração pertence ao sujeito com a cara mais comum de todo o mundo. e é exatamente isso que eu amo no mark, ele tem uma cara de vizinho da gente.
só olhar nas premiações, parece que ele foi parar por engano naquela loucura toda, não é deslumbrado, não é arrogante, não é do tipo que faria qualquer coisa por um bom papel. só tá ali, com aquela cara de professor de química, pacato, bom marido, bom pai, apesar de muito ocupado porque precisa trabalhar muito pra pagar a prestação do carro e do apartamento.
mark é o cara carismático, que é sempre a segunda opção da mocinha, o melhor amigo, até que ela presta mais atenção e vê um algo a mais nele, um olho que brilha, uma risada meio sem jeito, uma piada boba mas muito engraçada. totalmente husband material. um homem-conforto. e fora que além de todo esse charme do mundo, ele é ligado no que rola no mundo né? dia desses repostou um tweet da anitta, ressaltando a importância dos jovens votarem. ecologista, apoiou marina silva publicamente, mas retirou o apoio ao saber que na campanha não tinha espaço para a população lgbtqia+.
mark sempre está usando sua visibilidade para apoiar causas nas quais acredita. e por sorte são sempre causas muito justas. e mesmo quando aparece numa pose ridícula, como esta abaixo, apontando para o próprio mamilo, é por uma boa causa, como dizer para os caras que homens também podem ter câncer de mama.
então este texto é para dizer que, se você estiver lendo isto, mark ruffalo, saiba que este espaço é 100% fã, tanto no pessoal quanto no profissional. beijo, mark, manda uma dm.
se você pudesse ter um date com qualquer pessoa famosa, quem seria? e por quê? comente aqui embaixo:
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júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor do livro cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponível em e-book pela amazon.
Que bonito você falando da sua avó :)
Fiz 30 anos na pandemia e também prefiro essa minha versão mais velha, mais solitária sim, mas mais calma. Acho que a sensação de não ser obrigada a fazer coisas é a melhor parte, na juventude a gente quer pertencer, quer ser notada, mas com o tempo isso vai deixando de ser uma questão e acho que há certa liberdade nisso.
"I'm so glad to grow older
To move away from those younger years"
Era o que cantava o Morrissey numa canção de seu primeiro álbum solo chamada "Break Up The Family". A minha sensação da chegada dos 30 em diante pode ser expressada com precisão por esses versos - e eu já faço 40 no ano que vem! Tô adorando!
Porque saudade mesmo eu só tenho da infância. Minha adolescência foi horrível, a pior fase da minha vida, de longe, por uma série de motivos. E o começo da vida adulta, a faculdade, a entrada nos 20, foram uma espécie de... adolescência tardia, sobretudo no aspecto afetivo.
Hoje eu dou graças a Deus por não ser mais como era naquela época. Quando os 30 chegam, a gente ganha o dom de ter menos certezas, menos pretensão de convencer os outros, de não entrar fácil em certas pilhas bobas, de criar menos expectativas e de não dar tanta importância nem mesmo pra isso tudo. Essa coisa "angry young man" vira passado.
Mas também é curioso porque, por outro lado, eu sempre fui "velho" num certo sentido ranzinza da coisa. Sempre tive cansaço de balada, nunca achei graça em beber (demais), tenho horror de lugar cheio e raramente troco o conforto do lar por algum tipo de "diversão" duvidosa.
E, sim, eu AMO ter - e AMO quem tem - esse vasto cabedal de referências que você citou e que a idade nos permitiu dispor. Como dizia o velho Briza, "eu venho de longe". A gente que é velho é que se entende. ;-)