valeu natalina!
#95: neste natal eu desejo paz. mas mais que isso, eu desejo o fim do cardápio em qr code e que a música pop volte a ser boa
olá vocês!
o natal está para o cristanismo como o sexo está para o casamento. antes eram coisas inseparáveis, mas hoje você não precisa mais firmar compromisso com um para poder desfrutar das delícias do outro. é um consenso entre mouros e cristãos, gregos e troianos, ateus e judeus: feriado e comida, só otário recusa. e é nesse clima que a newsletter de hoje chega, com uma lista de presentes ideal para mim, uma homenagem ao ator andre braugher e um balanço deste ano que passou. vem comigo!
all i want for christimas is…
é natal e eu já comemoro ter chegado aqui vivendo e deixando viver. motivos pra ir de reveillón do fausão é que não faltaram. então daqui pro fim do mês é relaxar e tentar aproveitar. claro que o sentido do natal deveria ser mais sobre uma mensagem de amor e esperança que o nascimento do messias traz, e menos sobre comprar e ostentar.
mas para mim parece ok que a festa tenha virado sinônimo de pessoas queridas (família ou não) reunidas para encher a pança com comida gostosa. não importa que tambor cada um bata, natal representa encontro. e eu amo como, mesmo emulando uma estética que não tem nada a ver com a realidade que a gente vive (neve? trenó?) o natal é a cara do brasil. e não tem nada a ver com o simbolismo religioso, nada contra, mas eu agradeço muito por jesus ter nascido, cada vez que eu lembro do vídeo dos garotinhos no rio mandando uma mensagem natalina. valeu jesus!
e nesse momento em que paz na terra entre os homens (e mulheres também tudupom), eu resolvi fazer uma lista de pedidos diferentes. e como o papai noel vai estar muito ocupado procurando brinquedo importado pra criança rica, meu pedido vai diretamente pra gente mesmo. neste natal eu vou ficar muito feliz se algum desses desejos se torne realidade:
neste natal eu desejo paz. mas mais que isso, eu desejo o fim do cardápio em qr code. imagina um mundo sem ter que descarregar um pdf no celular, ter que ampliar a imagem pra conseguir ler, sem a obrigatoriedade de ter uma conexão para baixar o tal cardápio. convenhamos, é uma modernidade besta, que não resolve um problema, porque ler um cardápio de papel nunca foi um problema pra começar.
e desejo também não ter que baixar um app para cada coisa que você precisa fazer na vida, de comprar um ingresso a passar pela catraca da academia. imagine all the people sem o celular entulhado de coisa que você baixou uma vez e nunca mais usou.
se não for pedir muito, que acabe a picaretagem de coach e influencer de lifestyle. e chega de tanto curso de vender curso. jesus está triste com tanto curso. outra coisa que tá boa de acabar é texto com seo e copywriting. chega de procurar uma resposta e ter que ler um texto de 28 parágrafos que fica repetindo conceitos e palavras-chave pra só no final te dizer o que você quer saber. é a morte do texto criativo.
se não for pedir muito, podia acabar versão lounge/bossanova/mpb pau mole acústica de sucessos muito populares. que inferno esses jovens cantores cheio de vibes cantando baixinho versões de tecnobrega, samba ou funk. teve uma fia aí que foi além: pegou a música do tacacá e gravou no modo sonífero e em inglês. que necessidade é essa de higienizar algo que é autenticamente popular? já versão em tecnobrega, funk e pagode de música gringa e de mpb pode continuar que eu gosto. é reparação histórica.
e já tá bom de evidências e cheia de manias, vamos renovar o repertório, jovem moderno que adora fingir que é do povão? peço também que em 2024 que a música pop volte a ser boa, sem ter que se vender com um milhão de conceitos por trás e sem essas frescuras de eras. e sem essa frescura de eras. você é uma cantora minha senhora, não um livro de história do ensino médio.
ah, já que estamos no tópico música, quero pedir o fim dos virtuoses no karaokê. cantar afinado ok, mas ficar de firula como se fosse a whitney houston reencarnada, estraga o propósito da coisa que é cantar mal e se divertir. quer dar show vai pro the voice.
se possível, a gente pode aposentar a piada do ministério do namoro. e parar de falar “logo menos” no lugar de “logo mais”. e de dizer “preconceito, o próprio nome diz, é um pré-conceito”.
e que eu tome vergonha na cara e volte a ler mais livros, exercitar mais esse corpo, voltar pra terapia e me alimentar melhor. pra não chegar no fim de 2024 publicando umas listas amargas de coisas que me irritam.
mudando de assunto
o ator andre braugher nos deixou na semana passada vítima de um câncer. ator com grande presença cênica, ele tinha um enorme talento em atuar com os olhos, a voz e a altura e quase nada mais. o tipo perfeito para interpretar o contido e metódico capitão holt, na série brooklin 99.
mas além da sitcom é possível ver o ator em cena em filmes como cidade dos anjos e em duets. esse último não está em catálogo em nenhum streaming, o que é uma pena. uma espécie de road movie sobre karaokê, o filme traz andré como um fugitivo da polícia que sequestra sem querer um executivo fracassado, interpretado por paul giamati. em homenagem ao ator, deixo aqui essa lindeza de cena, em que eles se divertem performando try a little tenderness, de ottis reding. adeus andre, a única pessoa com licença pra fazer firula em karaokê.
dois mil e vinte tretas
2023 foi um ano de muitas mudanças na minha vida e chego ao fim dele cansado, mas com um monte de lições. teve mudança de casa, burnout, volta ao trabalho presencial, com o victor planejamos um casamento, me casei com o amor da minha vida numa festa linda, com amigos dando bênçãos e uma drag queen ministrando os votos. vivi momentos incríveis com amigos aqui perto e longe. morri de saudades, rompi laços que doeram, me despedi de ídolos. publiquei um livro. e todas essas mudanças foram refletidas aqui, na cinco ou seis coisinhas. escrevi bastante, me cansei do ritmo, escrevi menos, odiei quase tudo que escrevi, mas depois até que gostei do meu texto. e alcancei um monte de gente, fui lido por pessoas que eu acompanho há anos e admiro, criei uma rede muito boa de leitores e assinantes e aqui encerro o segundo ano desta newsletter.
muito obrigado por todo o carinho em forma de leitura, comentário, indicação, compartilhamento. agora eu entro em férias e volto com texto novo na segunda semana de janeiro. se você sentir falta do nosso encontro, pode ler os mais de 90 textos do arquivo e também comprar o meu livro, que está disponível a partir de hoje na amazon para kindle.
felizes festas e um feliz ano novo, a gente se vê em 2024!
júnior bueno é jornalista e vive em buenos aires. é autor dos livros a torto e a direito cinco ou seis coisinhas que aprendi sendo trouxa, disponíveis em e-book na amazon.
HAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHHAHAHAHHAHAHAHHAAHHAHAHAHHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHHA morri e amei. Boas festas, Junior!!!
Meu Deus, não sei nem dizer qual parte do seu texto eu gostei mais. Acho que foi "jesus está triste com tanto curso", que eu ri alto. Maravilhoso. Meus desejos são os mesmos que os seus. Mesmo sendo fã de Ch&X não aguento mais Evidências, socorro! Fora o ódio de quem canta bem no karaokê. De novo: maravilhoso. Parabéns! Feliz Natal!